O Final Do Guarani
(Santos, 15 jul. 1883)
Ceci — é a virgem loira das brancas harmonias,
A doce-flor-azul dos sonhos cor de rosa,
Peri — o índio ousado das bruscas fantasias,
O tigre dos sertões — de alma luminosa.Amam-se com o amor indômito e latente
Que nunca foi traçado nem pode ser descrito.
Com esse amor selvagem que anda no infinito.
E brinca nos juncais, — ao lado da serpente.Porém… no lance extremo, o lance pavoroso,
Assim por entre a morte e os tons de um puro gozo,
Dos leques da palmeira a note musical…Vão ambos a sorrir, às águas arrojados,
Mansos como a luz, tranqüilos, enlaçados
E perdem-se na noite serena do ideal!…
Passagens sobre Morte
1650 resultadosOnde a vida existe, a morte é inevitável. Morrer é fácil; viver é que é difícil. Quanto mais dura a vida se torna, mais forte é a vontade de viver. E quanto maior o medo da morte, maior a luta para continuar a viver.
Vida e morte foram minhas, e eu fui monstruosa, minha coragem foi a de um sonâmbulo que simplesmente vai.
A Cegueira da Governação
Príncipes, Reis, Imperadores, Monarcas do Mundo: vedes a ruína dos vossos Reinos, vedes as aflições e misérias dos vossos vassalos, vedes as violências, vedes as opressões, vedes os tributos, vedes as pobrezas, vedes as fomes, vedes as guerras, vedes as mortes, vedes os cativeiros, vedes a assolação de tudo? Ou o vedes ou o não vedes. Se o vedes como o não remediais? E se o não remediais, como o vedes? Estais cegos. Príncipes, Eclesiásticos, grandes, maiores, supremos, e vós, ó Prelados, que estais em seu lugar: vedes as calamidades universais e particulares da Igreja, vedes os destroços da Fé, vedes o descaimento da Religião, vedes o desprezo das Leis Divinas, vedes o abuso do costumes, vedes os pecados públicos, vedes os escândalos, vedes as simonias, vedes os sacrilégios, vedes a falta da doutrina sã, vedes a condenação e perda de tantas almas, dentro e fora da Cristandade? Ou o vedes ou não o vedes. Se o vedes, como não o remediais, e se o não remediais, como o vedes? Estais cegos. Ministros da República, da Justiça, da Guerra, do Estado, do Mar, da Terra: vedes as obrigações que se descarregam sobre vosso cuidado, vedes o peso que carrega sobre vossas consciências,
Se a morte é a ausência da vida a vida deveria ser a ausência da morte. Logo, por que pensamos na morte ?
Soneto XXII
Ao mesmo
Rico Almazém, que Deus estima e preza,
Mais forte que o poder do inferno forte,
Bem te armas de ua morte e de outra morte,
Para qualquer encontro e brava empresa.Arma-se o fraco cá de fortaleza
Para que assi resista ao duro corte;
Mas Deus sempre peleja d’outra sorte,
Cobrindo o forte de mortal fraqueza.Usou c’o inferno deste próprio modo,
Iscando o anzol da natureza sua
Co’ a nossa; e foi-se o pece trás o engano.E co’ as armas da carne rota e nua
Dos Mártires venceu o mundo todo,
Hoje em ti as põem para socorro humano.
Soneto V – À Sra. Marieta Landa
Disseste a nota amena d’alegria,
E, arrebatado então nesse momento
De um doce, divinal contentamento,
Eu senti que minh’alma aos céus subia.Disseste a nota da melancolia,
Negra nuvem toldou-me o pensamento;
Senti que agudo espinho virulento
Do coração as fibras me rompia.És anjo ou nume, tu que desta sorte
Trazes o peito humano arrebatado
Em sucessivo e rápido transporte?!Anjo ou nume não és; mas, se te é dado
No canto dar a vida, ou dar a morte,
Tens nas mãos teu Porvir, teu bem, teu fado.
Devemos chorar as pessoas à nascença, e não aquando da sua morte.
É saudável rir das coisas mais sinistras da vida, inclusive da morte. O riso é um tônico, um alívio, uma pausa que permite atenuar a dor.
É em vida, enquanto vida, que podes chegar ao céu. Sim: é enquanto vivo que podes ter uma vida de morte.
A Avidez da Morte
Quem nos contará
o que o morto sabia
mas não disse?
Quem há-de escrever as cartas
que o morto não escreveu?
Qual de nós poderá lembrar-se
de quem só o morto ainda tinha lembrança?
Quem amará a mulher que apenas o morto amava?Quem há-de medir o vazio,
a herança de silêncio
que a Morte nos deixou?
Apesar das Ruínas
Apesar das ruínas e da morte,
Onde sempre acabou cada ilusão,
A força dos meus sonhos é tão forte,
Que de tudo renasce a exaltação
E nunca as minhas mãos ficam vazias.
Se houver vida depois da morte terá com certeza de incluir o prazer, ou então mais vale mesmo morrer.
A palavra ”Revolução” é uma palavra pela qual se mata, pela qual se morre, pela qual se mandam massas populares para a morte. Mas que não tem nenhum conteúdo.
Do Amor e da Morte
Temos lábios tenros para o amor
dentes afiados para a morteConcebemos filhos para o amor
para a guerra os mandamos para a morteLevantamos casas para o amor
cidades bombardeamos para a mortePlantamos a seara para o amor
racionamos o trigo para a morteFlorimos atalhos para o amor
rasgamos fronteiras para a morteEscrevemos poemas para o amor
lavramos escrituras para a morteO amor e a morte
somos
Da nascença à morte, o homem vive servo da mesma exterioridade de si mesmo que têm os animais.
No mármore de tua bunda No mármore de tua bunda gravei o meu epitáfio. Agora que nos separamos, minha morte já não me pertence. Tu a levaste contigo.
Se nós não entendemos a vida, como poderemos entender a morte?
A vida é uma contradição miserável, um desejo infinito mas o abastecimento é limitado, o nascimento é apenas um bilhete para a morte.
O aborrecimento é uma das faces da morte.