Ninguém reclama o que deseja: todos reclamam o que acreditam poder obter.
Passagens sobre Ninguém
1737 resultadosAntes de todo mundo, Lisbeth ia buscar seu leite, seu pão, seu carvão, sem falar com ninguém, e deitava-se com o sol; nunca recebia cartas, nem visitas; não alimentava a vizinhança.
Canto
… e o vento,
o vento dos altos a que me dei,
a ti me trouxe
a ti me entregou.
Se em mim já estavas!
Pela boca, pelos olhos e pelas mãos,
arreigado e voraz,
meu invasor enternecido.Cinco vidas, nada menos,
cinco vidas querias ter.
Cinco vidas…
Mas uma, apenas, ardente, violenta e dissipada,
uma só não te bastaria?
Uma,
quintuplicada, centuplicada na hora inefável,
no momento embriagado…
Uma, para me dares, para eu de ti receber,
vergada, sucumbida?
É primavera! saíu-me da boca.
E tu sorriste.
Sorriste, creio.
Primavera e todas as estações…
Chuva e sol, tempo sem idade.Aqueles suaves, langues verdes, tão cariciosos;
os redondos troncos
e os musgos fofos;
os melros agrestes
e as campainhas roxas daquelas flores da minha infância,
de que me ensinaste o nome tão doce, tão estranho…
E as loucas nuvens corredias
e as pedras hieráticas
e as veredas amáveis,
como se os ofereciam!
Amavam-nos,
Não o viste?
No passo certo em que ambos íamos
tudo,
Regra geral, quem tem saudades sabe de quem as tem. Só um português consegue deixá-las em branco e tê-las de ninguém. Quem se sente só, sente a falta de alguém. Mas a um português nem a falta de alguém lhe faz falta.
O espírito afeiçoa-se por preguiça e por constância àquilo que lhe é fácil ou agradável. Este hábito limita sempre o nosso conhecimento e nunca ninguém se deu ao trabalho de engrandecer e de levar o seu espírito tão longe quanto ele poderia ir.
Muito da eficiência daquilo que fazemos, daquilo que mastigamos, depende sobretudo do que não se vê. Das raízes. (…) Porque são as coisas que estão dentro de nós e em que ninguém repara quando nos olha. Temos uma paisagem muito grande que não se vê, a menos que nos debruçemos para dentro e mostremos aquilo de que nos lembramos. Nada é tão forte como as coisas que não se veem.
Mas eis a hora de partir: eu para morte, vós para a vida. Quem de nós segue o melhor rumo ninguém o sabe, exceto os deuses.
Ninguém está mais sujeito a praticar erros do que aqueles que apenas agem por raciocínio.
A Vida de um Livro
Acredito que a vida de um livro enquanto está nas mãos do autor não é mais importante do que quando está nas mãos do leitor. O leitor é quase sempre um autor ele próprio. É ele que dá significado às palavras e por isso até acho muito interessante quando as pessoas me vêm apontar coisas que não eram minha intenção, mas que de facto estão lá. E há muitas outras coisas que foram minhas intenções e que nunca ninguém me referiu, e no entanto também lá estão. Se calhar alguém reparou nelas ou ainda vai reparar. Tudo o que um leitor leia num livro é legítimo porque nessa fase o leitor é tudo, é ele que faz o livro.
Não gosto do trabalho, ninguém gosta; mas gosto do que é no trabalho a ocasião de se descobrir a si próprio.
Ninguém é rei na sua terra.
Ninguém está livre de uma penhora.
Embora as pessoas sintam uma mágoa e sentimento de perda genuínos pela morte dos entes queridos, esta dor está relacionada com o apego ou uma falsa identificação da mente, e não com o amor. Para além disso, uma vida de isolamento e solidão não salva ninguém do apego e do sofrimento.
A Vontade de Mudar
A mudança implica dor. Dói porque nos obrigamos a romper com padrões calcinados de conforto e preguiça onde controlamos e sabemos tudo. Obriga-nos a crescer e não há nada que cresça sem nos abanar, criar desconforto e necessidade de adaptação. Mas quem muda sempre alcança. Ninguém chega a lado nenhum que valha a pena sem ter mudado alguma coisa. A vontade de mudar é uma espécie de ignição que liga o principal motor que nos conduz, o coração. Mudar é voltar a sentir, assumir responsabilidades, curar o que há para ser tratado e, finalmente, agir. E muitas vezes nem é preciso sair do mesmo lugar, basta alterarmos o significado mental que damos à situação que estamos a viver.
Ninguém nos aconselha tão mal como o nosso amor-próprio, nem tão bem como a nossa consciência.
A felicidade tem uma grande vantagem sobre o dinheiro: ninguém a pede emprestada.
Ninguém é mais solitário do que aquele que nunca recebeu uma carta.
A Inconstância no Amor e na Amizade
Não pretendo justificar aqui a inconstância em geral, e menos ainda a que vem só da ligeireza; mas não é justo imputar-lhe todas as transformações do amor. Há um encanto e uma vivacidade iniciais no amor que passa insensivelmente, como os frutos; não é culpa de ninguém, é culpa exclusiva do tempo. No início, a figura é agradável, os sentimentos relacionam-se, procuramos a doçura e o prazer, queremos agradar porque nos agradam, e tentamos demonstrar que sabemos atribuir um valor infinito àquilo que amamos; mas, com o passar do tempo, deixamos de sentir o que pensávamos sentir ainda, o fogo desaparece, o prazer da novidade apaga-se, a beleza, que desempenha um papel tão importante no amor, diminui ou deixa de provocar a mesma impressão; a designação de amor permanece, mas já não se trata das mesmas pessoas nem dos mesmos sentimentos; mantêm-se os compromissos por honra, por hábito e por não termos a certeza da nossa própria mudança.
Que pessoas teriam começado a amar-se, se se vissem como se vêem passados uns anos? E que pessoas se poderiam separar se voltassem a ver-se como se viram a primeira vez? O orgulho, que é quase sempre senhor dos nossos gostos,
Ninguém ganhou a última guerra nem ninguém ganhará a próxima.
Deixamos de amar a nós mesmos quando ninguém nos ama.