Passagens sobre Ordem

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Frases sobre ordem, poemas sobre ordem e outras passagens sobre ordem para ler e compartilhar. Leia as melhores citações em Poetris.

Hábitos Breves

Gosto dos hábitos que não duram; são de um valor inapreciável se quisermos aprender a conhecer muitas coisas, muitos estados, sondar toda a suavidade, aprofundar a amargura. Tenho uma natureza que é feita de breves hábitos, mesmo nas necessidades de saúde física, e, de uma maneira geral, tão longe quanto posso ver nela, de alto a baixo dos seus apetites. Imagino sempre comigo que esta ou aquela coisa se vai satisfazer duradouramente – porque o próprio hábito breve acredita na eternidade, nesta fé da paixão; imagino que sou invejável por ter descoberto tal objecto: devoro-o de manhã à noite, e ele espalha em mim uma satisfação, cujas delícias me penetram até à medula dos ossos, não posso desejar mais nada sem comparar, desprezar ou odiar.
E depois um belo dia, aí está: o hábito acabou o seu tempo; o objecto querido deixa-me então, não sob o efeito do meu fastio, mas em paz, saciado de mim e eu dele, como se ambos nos devêssemos gratidão e estendemo-nos a mão para nos despedirmos. E já um novo me aguarda, mas aguarda no limiar da minha porta com a minha fé – a indestrutível louca… e sábia! – em que este novo objecto será o bom,

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Uma Mentira

Uma mentira, fina como um cabelo, perturba para sempre a ordem do mundo. Aquilo que sabemos tem muita importância. Tomamos decisões, vamos por aqui ou por ali, consoante aquilo que sabemos. E tudo o que virá a seguir, o futuro até ao fim dos tempos, será diferente se formos por um lado em vez de irmos por outro. Nascem pessoas devido a insignificâncias, morrem pessoas pelo mesmo motivo. Uma pessoa é uma máquina de coisas a acontecer, possibilidades multiplicadas por possibilidades em todos os instantes do seu tempo. Uma mentira, mesmo que transparente, perturba o entendimento que os outros têm da realidade, leva-os a acreditar que é aquilo que não é. Essa poluição vai turvar-lhes a lógica do mundo. As conclusões a que forem capazes de chegar serão calculadas a partir de um dado falso e, desse ponto em diante, todas as contas serão multiplicações de erros. Uma mentira baralha tudo aquilo em que toca, desequilibra o mundo. É por isso que uma mentira precisa sempre de mentiras novas para se suster. O mundo não lhe dá cobertura. Para alcançar coerência, cada mentira requer a criação apressada de um mundo de mentira que a suporte. É assim que a mentira vai avançando pela verdade adentro,

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Aquele que executa de bom grado as ordens escapa ao lado penoso da submissão: fazer o que nos repugna.

O Dinheiro é o Coroamento de uma Existência Moral e Racional

A riqueza moral tem estreitas afinidades com a material; (…) não é difícil perceber por que razão isso acontece. É que a moral substitui a alma pela lógica; quando uma alma tem moral, deixam de existir para ela problemas morais, todos são problemas lógicos; pergunta-se se aquilo que quer fazer obedece a este ou àquele mandamento, se a sua intenção deve ser interpretada de uma maneira ou de outra, e coisas semelhantes. Seria como se uma horda caótica de gente se transformassse numa classe de ginástica disciplinada que, a um sinal do monitor, obedecesse às ordens de torção à direita, esticar os braços ou flectir os joelhos. Mas a lógica pressupõe experiências passíveis de repetição; é óbvio que, no momento em que os acontecimentos mudassem num torvelinho em que nada se repete, nunca chegaríamos a poder expressar a profunda intuição de que A é igual a A, ou de que o que é maior não pode ser menor, mas limitar-nos-íamos a sonhar – um estado que qualquer pensador detesta. E o mesmo se pode dizer da moral, pois se não existisse nada que se pudesse repetir, nada nos poderia ser prescrito, e sem poder prescrever nada às pessoas a moral não teria graça nenhuma.

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Em Louvor das Crianças

Se há na terra um reino que nos seja familiar e ao mesmo tempo estranho, fechado nos seus limites e simultaneamente sem fronteiras, esse reino é o da infância. A esse país inocente, donde se é expulso sempre demasiado cedo, apenas se regressa em momentos privilegiados — a tais regressos se chama, às vezes, poesia. Essa espécie de terra mítica é habitada por seres de uma tão grande formosura que os anjos tiveram neles o seu modelo, e foi às crianças, como todos sabem pelos evangelhos, que foi prometido o Paraíso.
A sedução das crianças provém, antes de mais, da sua proximidade com os animais — a sua relação com o mundo não é a da utilidade, mas a do prazer. Elas não conhecem ainda os dois grandes inimigos da alma, que são, como disse Saint-Exupéry, o dinheiro e a vaidade. Estas frágeis criaturas, as únicas desde a origem destinadas à imortalidade, são também as mais vulneráveis — elas têm o peito aberto às maravilhas do mundo, mas estão sem defesa para a bestialidade humana que, apesar de tanta tecnologia de ponta, não diminui nem se extingue.
O sofrimento de uma criança é de uma ordem tão monstruosa que,

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A Sociedade é Baseada no Instinto Individual

A vida de uma sociedade é, fundamentalmente, uma vida de acção. As relações dos indivíduos adentro dela, são, fundamentalmente, relações entre as actividades, entre as acções, deles. As relações dessa sociedade com outras sociedades – sejam essas relações de que espécie forem – são relações de qualquer espécie de actividade, são relações de acção. É, portanto, pelas faculdades que conduzem à acção que o indivíduo é directamente social. Ora, como a ciência constata que são os instintos, os hábitos, os sentimentos – tudo quanto em nós constitui o inconsciente, ou o subconsciente – que levam à acção, segue que é pelos seus instintos, pelos seus hábitos, pelos seus sentimentos – e não pela sua inteligência – que o indivíduo é directamente social.
Por que espécie de instintos, porém, é que o indivíduo é directamente social? Alguns dos seus instintos, como o instinto de conservação e o instinto sexual, são sociais apenas indirectamente. Servindo-os, o indivíduo serve, em último resultado, a sociedade a que pertence, porque, mantendo a sua vida, mantém a vida de um elemento componente da sociedade a que pertence, e, propagando a espécie, contribui para a continuidade de vida dessa sociedade; mas nem um, nem outro, desses instintos tem um fim directamente social.

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Treinar a Emoção

A emoção é bela, mas ingénua. Não seja passivo diante das suas dores, determine o que quer sentir. Não peça licença para ser feliz, determine ser feliz. Determine ser tranquilo, sereno, alegre. O campo de energia emocional precisa de se submeter à autoridade do «eu».

A emoção aprecia uma ordem, mas domina pessoas passivas. Não é possível nem desejável controlar completamente as emoções. Elas dão sentido à vida porque são uma energia incontrolável. Mas não as deixe serem muito ingénuas, dê-lhes um choque de lucidez. Outro erro educacional grave é que nunca nos ensinaram que as nossas emoções não são obrigadas a viver o conteúdo dos pensamentos negativos e das fantasias destrutivas. É preciso treinar a emoção para sermos seguros e lúcidos.

Deixe a emoção solta para que você possa amar, ser tolerante e tranquilo, mas não a deixe solta para dirigir a sua razão. A maioria dos crimes, dos conflitos sociais, das ofensas nunca resolvidas e dos traumas sociais nunca apagados foram produzidos porque a emoção governou a razão. Determine não submeter a sua emoção ao conteúdo dos pensamentos perturbadores. Jamais se esqueça de que há uma força dentro de si que está desativada ou mal usada.

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A Arte da Retórica Floresce nas Sociedades Decadentes

Um retórico do passado dizia que o seu ofício era fazer que as coisas pequenas parecessem grandes e como tais fossem julgadas. Dir-se-ia um sapateiro que, para calçar pés pequenos, sabe fazer sapatos grandes. Em Esparta ter-lhe-iam dado a experimentar o azorrague por professar uma arte trapaceira e mentirosa. E creio que Arquidamo, que foi seu rei, não terá ouvido sem espanto a resposta de Tucídides, ao qual perguntara quem era mais forte na luta, se Péricles, se ele: «Isso será difícil de verificar, pois quando o deito por terra, ele convence os espectadores que não caiu, e ganha». Os que, com cosméticos, caracterizam e pintam as mulheres fazem menos mal, pois é coisa de pouca perda não as ver ao natural, ao passo que estoutros fazem tenção de enganar, não já os olhos, mas o nosso juízo, e de abastardar e corromper a essência das coisas. Os Estados que longamente se mantiveram em boa ordem e bem governados, como o cretense e o lacedemónio, não tinham em grande conta os oradores.
Aríston definiu sabiamente a retórica como a ciência de persuadir o povo; Sócrates e Platão, como a arte de enganar e lisonjear; e aqueles que isto negam na sua definição genérica,

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Aborrecido de Estudar

Enfastiavam-me as aulas, salvo as de literatura — que aprendia de cor — e tinha nelas um protagonismo único. Aborrecido de estudar, deixava tudo à mercê da boa sorte. Tinha um instinto próprio para pressentir os pontos álgidos de cada matéria e quase adivinhar os que mais interessavam aos professores para não estudar o resto. A realidade é que não entendia por que devia sacrificar engenho e tempo em matérias que não me interessavam e, pela mesma razão, não me iam servir para nada numa vida que não era minha.

Atrevi-me a pensar que a maioria dos meus professores me classificava mais pela minha maneira de ser do que pelos meus exames. Salvavam-me as minhas respostas imprevistas, as minhãs ideias dementes, as minhas invenções irracionais. No entanto, quando acabei o quinto ano, com sobressaltos académicos que não me sentia capaz de superar, tomei consciência dos meus limites. O bacharelato tinha sido até então um caminho empedrado de milagres, mas avisava-me o coração que no final do quinto me esperava uma muralha intransponível. A verdade sem adornos era que me faltava já a vontade, a vocação, a ordem, o dinheiro e a ortografia para embarcar numa carreira académica. Melhor dizendo: os anos voavam e não fazia a mínima ideia do que ia fazer da minha vida,

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Moral Vazia

O que nós chamamos a moral não passa de um empreendimento desesperado dos nossos semelhantes contra a ordem universal, que é a luta, a carnificina e o jogo cego de forças contrárias.
(…) Cada época tem a sua moral dominante, que não resulta nem da religião nem da filosofia, mas do hábito, única força capaz de reunir os homens num mesmo sentimento, pois tudo o que é sujeito ao raciocínio divide-os; e a humanidade só subsiste com a condição de não reflectir sobre aquilo que é essencial para a sua existência.
(…) A moral é a ciência dos costumes, e com eles muda. Ela difere de país para país e em nenhum lugar permanece a mesma no espaço de dez anos.

A Análise dos Sentimentos

Os sentimentos experimem a felicidade, fazem sorrir. A análise dos sentimentos exprime a felicidade, pondo de parte toda a personalidade; faz sorrir. Aqueles elevam a alma, dependentemente do espaço, do tempo, até à concepção da humanidade considerada em si mesma, nos seus membros ilustres! Esta eleva a alma, independentemete do tempo, do espaço, até à concepção da humanidade considerada na sua mais alta expressão, a vontade! Aqueles tratam dos vícios, das virtudes; esta trata apenas das virtudes. Os sentimentos não conhecem a ordem da sua marcha. A análise dos sentimentos ensina a fazê-la conhecer, aumenta o vigor dos sentimentos. Com eles, tudo é incerteza. São a expressão da felicidade e da infelicidade, dois extremos. Com ela, tudo é certeza. Ela é a expressão daquela felicidade que resulta, em determinado momento, de nos sabermos conter no meio das paixões boas ou más.
Ela utiliza a sua calma para fundir a descrição dessas paixões num princípio que circula através das páginas: a não-existência do mal. Os sentimentos choram quando lhes é preciso, tanto como quando lhes não é. A análise dos sentimentos não chora. Possui uma sensibilidade latente, que apanha desprevenido, arrasta por cima das misérias, ensina a dispensar guia, fornece uma arma de combate.

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A marca de uma inteligência de primeira ordem é a capacidade de ter duas ideias opostas presentes no espírito ao mesmo tempo e nem por isso deixar de funcionar.

A Ordem e a Variedade

Não basta mostrar à alma muitas coisas, é necessária mostrá-las com ordem, porque nesse caso lembramo-nos daquilo que vimos e começamos a imaginar o que veremos; a nossa alma alegra-se pelo seu alcance e pela sua capacidade de penetração; mas numa obra onde não existe qualquer ordem, a alma vê vacilar em cada instante quem deseja introduzir-se nela. A sequência que o autor cria confunde-se com aquela que nós fazemos; a alma não retém nada, não prevê nada; é humilhada pela confusão das suas ideias, pela inutilidade que lhe resta; encontra-se verdadeiramente fatigada e não pode apreciar qualquer prazer.
(…) Mas se a ordem é necessária às coisas, é também necessária a variedade: sem ela a alma esmorece, porque as coisas semelhantes lhe parecem as mesmas e, se uma parte de um quadro se assemelhasse a outra que tivéssemos visto, esse objecto seria novo sem o parecer e não proporcionaria qualquer prazer. E, como a beleza das obras de arte, tal como a da natureza, consiste no prazer que nos proporciona, é necessário torná-la o mais possível apta a variar esses prazeres; é necessário fazer a alma ver coisas que nunca viu; é necessário que o sentimento que lhe propocionamos seja diferente do que tem sentido até ali.

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A calma é um elemento criador. Purifica, recolhe, põe em ordem as forças internas, compensando o que o desordenado movimento dispersa.

Colada à Tua Boca

Colada à tua boca a minha desordem.
O meu vasto querer.
O incompossível se fazendo ordem.
Colada à tua boca, mas descomedida
Árdua
Construtor de ilusões examino-te sôfrega
Como se fosses morrer colado à minha boca.
Como se fosse nascer
E tu fosses o dia magnânimo
Eu te sorvo extremada à luz do amanhecer.

Preciso de Ti

Antes de começar… Acabei de suplicar dez minutos para este bilhete… Terrivelmente, terrivelmente vivo, dorido, e sentindo absolutamente que preciso de ti. Permiti o silêncio deliberadamente, sentindo uma grande necessidade de me retirar em mim mesmo, para escrever, e mil coisas prevalecendo.

Mudei para outra máquina, assustadora; a máquina francesa… maldita, e eu bêbedo com o desejo de te escrever. Ouve, ligo-te de manhã: esta noite ou escrevo ou rebento, mas tenho de te ver. Vejo-te brilhante e maravilhosa e ao mesmo tempo tenho estado a escrever à June e todo dividido mas tu compreenderás — tens de compreender. Vou atirar-me a uma pausa e faço uma chamada. Anais, apoia-me. Não deixes que os silêncios te preocupem: estás toda à minha volta como uma chama clara. Nada a não ser dois pontos, não encontro o ponto nem os apóstrofos. Nenhuma cópia disto também: óptimo: bêbedo… bêbedo de vida… Anais, por Cristo: se tu soubesses o que estou a sentir agora.

Isto foi [escrito] ao chegar [ao escritório]. Agora 3h20 da manhã no quarto do Fred… Toda a força desaparecida e destruída por imagens. O Fred está na cama com a Gaby do chambre 48. Está deitada como um cadáver.

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O Homem não é um Ser Egoísta

Todos os homens estão prontos a morrer pelo que amam. Não diferem a não ser pelo grau da coisa amada e da concentração ou dispersão do amor. Ninguém se desama a si mesmo. O homem deseja ser egoísta e não consegue. É a característica mais tocante da sua desgraça e a fonte da sua grandeza.
O homem dedica-se sempre a uma ordem. No entanto, salvo iluminação sobrenatural, esta ordem tem como núcleo o próprio ou um ser particular (que pode ser uma abstracção) para o qual se transferiu (Napoleão para os soldados, a Ciência, o Partido, etc.). Ordem perspectiva.