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Fogo

Faísca luminar da etérea chama
Que acendes nossa máquina vivente,
Que fazes nossa vista refulgente
Com eléctrico gás, com subtil flama:

A nossa construção por ti se inflama;
Por ti, o nosso sangue gira quente;
Por ti, as fibras tem vigor potente,
Teu vivo ardor por elas se derrama.

Tu, Fogo animador, nos vigorizas,
E Ă  maneira de um voltejante rio,
Por todo o nosso corpo te deslizas.

O homem, só por ti tem força e brio
Mas, se tu o teu giro finalizas,
Quando a chama se apaga, ele cai frio.

Soneto 568 Nazaretado

Uns dizem que de Ă­ndia tinha cara;
a outros parecia um rapazelho.
Famoso mesmo foi o seu joelho,
além da voz, que mais se aveludara.

Veludo, mas cortante, coisa rara:
quer fosse a Lindonéia nosso espelho
ou fosse o Carcará bordão vermelho,
o fato Ă© que, no mapa, a nata Ă© Nara.

Da Bossa Nova Ă© musa mais bem-quista.
Tropicalista diva, brilha quieta.
Rebelde mais serena nĂŁo se avista.

Foi Ă­dolo, na luta, do poeta,
ao mesmo tempo olĂ­mpica e humanista,
pois Nara Ă© nata, Ă© nota, Ă© gata, Ă© neta.

Mas o homem nĂŁo foi feito para a derrota – disse. – Um homem pode ser destruĂ­do, mas nĂŁo derrotado.

Grande perigo o da sociedade quando os maus nĂŁo podem recorrer Ă  hipocrisia.

A Visita do PrĂ­ncipe

Não sei nunca o que me trazem as palavras, elas gostam tanto de me surpreender. Hoje ao levantar da névoa trouxeram-me a casa sobre o rio, o terraço escassamente iluminado por um lampeão que balançava ao vento, o pequeno sapo que todas as noites, rente ao muro, se ia aproximando, depositário de tudo o que nesse tempo em mim se confundia com a ternura. Pequeno príncipe da vadiagem, por ali se quedava sem outro ofício que não fosse o de receber alguma carícia, só depois regressando por entre a humidade das pedras aos pântanos da sombra, a noite inteira nos olhos desmedidos.

Se nós dermos a nossa maior riqueza a um ser que amamos com todo o nosso coração, se conseguirmos fazer isso sem esperar nada de volta, então o mundo iria tornar-se um lugar maravilhoso.

Por entre a chuva de mortais peloiros
A nua fronte enriquecer de loiros
Eu procuro, eu desejo,
Para teus mimos desfrutar sem pejo,
Pois quem deste esplendor se nĂŁo guarnece,
NĂŁo Ă© digno de ti, nĂŁo te merece.