Máximas do Nosso Saber
O que sabemos, sabemo-lo afinal apenas para nós mesmos. Se falo com alguém daquilo que julgo saber, acontece que imediatamente ele supõe saber o assunto melhor que eu, e sou obrigado a regressar a mim mesmo com o meu saber. O que sei bem, sei-o apenas para mim. Uma palavra pronunciada por outro raramente constitui um estímulo. Na maior parte das vezes suscita contradição, paralisia ou indiferença.
Instruamo-nos primeiro a nós próprios e seremos depois capazes de receber instruções dos outros.
Em boa verdade aprendemos sempre em livros que não somos capazes de avaliar. O autor de um livro que fôssemos capazes de avaliar teria que aprender connosco.
Muitos há que têm orgulho no que sabem. Face ao que não sabem costumam ser arrogantes. No fundo só se sabe quando se sabe pouco. À medida que cresce o saber, crece igualmente a dúvida.
Passagens sobre Autor
236 resultadosCrescimento Cultural
Como indivíduos, verificamos que o nosso desenvolvimento depende das pessoas que conhecemos no curso da nossa vida (essas pessoas incluem os autores cujas obras lemos e as personagens, tanto da ficção como da história). O benefício desses encontros é devido tanto às diferenças como às semelhanças, tanto ao conflito como à simpatia entre pessoas. Feliz é o homem que, no momento oportuno, encontra o amigo adequado; feliz também o homem que, no momento adequado, encontra o inimigo adequado.
Não aprovo o extermínio do inimigo; a política de exterminar ou, como se diz barbaramente, liquidar o inimigo constitui um dos mais alarmantes desenvolvimentos da guerra moderna e, também, da paz moderna, do ponto de vista de quem deseja a sobrevivência da cultura. Precisamos do inimigo. Assim, dentro de certos limites, o atrito, não só entre indivíduos mas também entre grupos, parece-me necessário à civilização.
A universidade da irritação é a melhor garantia de paz. Um país dentro do qual as divisões tenham ido demasiado longe é um perigo para si próprio; um país demasiado unido – seja por natureza ou por intenção, por fins honestos ou por fraude e opressão – é uma ameaça para os outros.
Qualquer ideia que te agrade, Por isso mesmo… é tua. O autor nada mais fez que vestir a verdade Que dentro em ti se achava inteiramente nua…
A verdadeira revolução acontece quando mudam os papéis e não apenas os autores.
Agradar ao Vulgo é Mau Sinal
«Nunca pretendi agradar ao vulgo; daquilo que eu sei o vulgo não gosta, daquilo que o vulgo gosta não quero eu saber.» Quem é o autor? Pareces pensar que eu ignoro que pessoa é o meu discípulo!… É Epicuro; mas o mesmo te dirão os mestres de todas as outras escolas, peripatéticos, académicos, estóicos, cínicos. Como pode de facto agradar ao vulgo alguém a quem só a virtude agrada? Não se conquista o favor popular por processos limpos. Terás de igualar-te primeiro ao vulgo, que só te aprovará quando te considerar um dos seus. Ora para a tua formação a opinião que tenhas sobre ti mesmo importa muito mais do que a dos outros. A amizade de pessoas dúbias só se concilia por processos dúbios.
Em que te ajudará nisto a filosofia, essa arte excelsa que a tudo sobreleva? Precisamente em levar-te a querer agradar mais a ti do que ao vulgo, a avaliar a qualidade, e não o número, das pessoas que emitem juízos sobre ti, a viver sem temor dos deuses ou dos homens, a poder vencer a adversidade ou a pôr-lhe cobro.
A partir de certa qualidade já não podemos dizer que um autor é melhor do que outro. Podemos apenas dizer qual é que preferimos.
Fundamentalmente, um bom autor tem o seu próprio senso de estilo. Há uma voz natural, profunda, e essa voz está presente desde o primeiro esboço de um manuscrito. Quando ele ou ela desenvolve a partir do manuscrito original, continua a reforçar e simplificar essa voz natural e profunda.
Espontaneidade Pública Inexistente
O público não é crítico, não pensa espontaneamente. Na escolha do que lê, na própria disposição do seu bom gosto, é guiado por influências externas. Este fenómeno vê-se com particular clareza no caso das modas, mormente nas do vestuário, em que determinadas casas de criações do género determinam o que há de ser de bom gosto, e efectivamente todo o público segue o critério que lhe é assim imposto. É frequente, anos mais tarde, o homem ou a mulher que se teve por vestindo com o melhor gosto em tal época, pasmar, ante um seu retrato e vendo-o à luz de novas modas e novos tipos de gosto, de como algum dia considerou de bom gosto ou de qualquer espécie de elegância o desastrado fato ou vestido que relembra.
Temos, pois, que para o público apreciar um pintor, um poeta, um músico, que não seja banal, tem que haver quem chame a atenção do público para ele. O espírito humano espontaneamente aceita só o que já conhece; e como o valor, em qualquer secção da actividade humana superior, reside essencialmente na originalidade, resulta que não há aceitação espontânea, nem a pode haver, de um autor ou artista, que seja espontaneamente aceite pelo público.
Há livros que lemos com a impressão de estar dando uma esmola ao autor.
Sente-se e bote pra fora tudo o que vem em sua cabeça, você é um escritor. Mas um autor é aquele que pode julgar o seu próprio material de valor, sem piedade, e destruir a maior parte dele.
A Vida de um Livro
Acredito que a vida de um livro enquanto está nas mãos do autor não é mais importante do que quando está nas mãos do leitor. O leitor é quase sempre um autor ele próprio. É ele que dá significado às palavras e por isso até acho muito interessante quando as pessoas me vêm apontar coisas que não eram minha intenção, mas que de facto estão lá. E há muitas outras coisas que foram minhas intenções e que nunca ninguém me referiu, e no entanto também lá estão. Se calhar alguém reparou nelas ou ainda vai reparar. Tudo o que um leitor leia num livro é legítimo porque nessa fase o leitor é tudo, é ele que faz o livro.
Para ser original, basta imitar os autores que já não estão na moda.
O escritor curto em idéias e fatos será, naturalmente, um autor de idéias curtas, assim como de um sujeito de escasso miolo na cachola, de uma cabeça de coco velado, não se poderá esperar senão breves análises e chochas tolices.
Seja autor e não vítima de sua história.
O autor que tenha medo da popularidade, senão será derrotado pelo triunfo. Tem uma hora em que se deve tirar retrato de si mesmo. A fome é sempre igual à primeira fome. A carência se renova inteira e vazia.
O Cachimbo
Trigueiro, negro, enfarruscado,
Sou o cachimbo d’um autor,
incorrigível fumador,
Que me tem já quase queimado.Quando o persegue ingente dor,
Eu, a fumar, sou comparado
Ao fogareiro improvisado
Para o jantar d’um lenhador.Vai envolver-lhe a tova mente
O fumo azul e transparente
Da minha boca em erupção…A sua dor, prestes, se acalma;
Leva-lhe o fumo a paz à alma,
Vai Alegrar-lhe o coração!Tradução de Delfim Guimarães
Colecção de perplexidades e obsessões, cada crónica de jornal é, no essencial, um fragmento da biografia do seu autor.
Os sonhos trazem saúde para a emoção, equipam o frágil para ser autor da sua história, renovam as forças do ansioso, animam os deprimidos.
A Simpatia pela Obra de Arte
Qualquer produto intelectual de valor que se pretende surta um efeito imediato, vasto e profundo, tem de conter uma secreta harmonia, uma afinidade mesmo entre o destino pessoal do autor e o destino da generalidade dos seus contemporâneos. As pessoas não sabem por que razão atribuem fama a uma obra de arte. Longe de serem connaisseurs, julgam descobrir nela uma centena de virtudes para justificar tal apreço; mas o verdadeiro motivo do seu aplauso é imponderável – é a simpatia.
O Estilo é um Reflexo da Vida
Qual a causa que provoca, em certas épocas, a decadência geral do estilo ? De que modo sucede que uma certa tendência se forma nos espíritos e os leva à prática de determinados defeitos, umas vezes uma verborreia desmesurada, outras uma linguagem sincopada quase à maneira de canção? Porque é que umas vezes está na moda uma literatura altamente fantasiosa para lá de toda a verosimilhança, e outras a escrita em frases abruptas e com segundo sentido em que temos de subentender mais do que elas dizem? Porque é que nesta ou naquela época se abusa sem restrições do direito à metáfora? Eis o rol dos problemas que me pões. A razão de tudo isto é tão bem conhecida que os Gregos até fizeram dela um provérbio: o estilo é um reflexo da vida! De facto, assim como o modo de agir de cada pessoa se reflecte no modo como fala, também sucede que o estilo literário imita os costumes da sociedade sempre que a moral pública é contestada e a sociedade se entrega a sofisticados prazeres. A corrupção do estilo demonstra plenamente o estado de dissolução social, caso, evidentemente, tal estilo não seja apenas a prática de um ou outro autor,