Passagens sobre Contrário

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Frases sobre contrário, poemas sobre contrário e outras passagens sobre contrário para ler e compartilhar. Leia as melhores citações em Poetris.

Todo o escritor que é original é diferente. Mas nem todo o que é diferente é original. A originalidade vem de dentro para fora. A diferença é ao contrário. A diferença vê-se, a originalidade sente-se. Assim, uma é fácil e a outra é difícil.

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Se meu desejo só é sempre ver-vos,
Que causará, senhora, que em vos vendo
Assi me encolho logo, e arrependo,
Que folgaria então poder esquecer-vos?

Se minha glória só é sempre ter-vos
No pensamento meu, porque em querendo
Cuidar em vós, se vai entristecendo?
Nem ousa meu esprito em si deter-vos?

Se por vós só a vida estimo, e quero,
Como por vós a morte só desejo?
Quem achará em tais contrários meio?

Não sei entender o que em mim mesmo vejo.
Mas que tudo é amor, entendo, e creio,
E no que entendo, e creio, nisso espero.

O Pranto e o Riso

Se o Pranto e o Riso aparecessem neste grande teatro no traje da verdade (sempre nua), sem dúvida seria a vitória do Pranto. Mas vestido, ornado e armado de uma tão superior eloquência, que o Riso se ria do Pranto, não é merecimento, foi sorte. De tudo quanto ri saiu vestido, ornado e armado o Riso: riem-se os prados e saiu vestido de flores: ri-se a Aurora, e saiu ornado de luzes; e se aos relâmpagos e raios chamou a Antiguidade Risus Vestae, et Vulcani, entre tantos relâmpagos, trovões e raios de eloquência, quem não julgará ao miserável Pranto cego, atónito e fulminado? Tal é a fortuna, ou a natureza, destes dois contrários. Por isso nasce o Riso na boca, como eloquente, e o Pranto nos olhos, como mudo.
(…) Demócrito ria sempre: logo nunca ria. A consequência parece difícil e é evidente. O Riso, como dizem todos os Filósofos, nasce da novidade e da admiração e cessando a novidade ou a admiração, cessa também o riso; e como Demócrito se ria dos ordinários desconcertos do mundo, e o que é ordinário e se vê sempre não pode causar admiração nem novidade; segue-se que nunca ria, rindo sempre, pois não havia matéria que motivasse o riso.

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Ajuda entre Sábios

Estás interessado em saber se um sábio pode ser útil a outro sábio. Nós definimos o sábio como um homem dotado de todos os bens no mais alto grau possível. A questão está pois em saber como é possível alguém ser útil a quem já atingiu o supremo bem. Ora, os homens de bem são úteis uns aos outros. A sua função é praticar a virtude e manter a sabedoria num estado de perfeito equilíbrio. Mas cada um necessita de outro homem de bem com quem troque impressões e discuta os problemas. A perícia na luta só se adquire com a prática; dois músicos aproveitam melhor se estudarem em conjunto. O sábio necessita igualmente de manter as suas virtudes em actividade e, por isso mesmo, não só se estimula a si próprio como se sente estimulado por outro sábio. Em que pode um sábio ser útil a outro sábio? Pode servir-lhe de incitamento, pode sugerir-lhe oportunidades para a prática de acções virtuosas. Além disso, pode comunicar-lhe as suas meditações e dar-lhe conta das suas descobertas. Nunca faltará mesmo ao sábio algo de novo a descobrir, algo que dê ao seu espírito novos campos a explorar.
Os indivíduos perversos fazem mal uns aos outros,

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Navio que Partes para Longe

Navio que partes para longe,
Por que é que, ao contrário dos outros,
Não fico, depois de desapareceres, com saudades de ti?
Porque quando te não vejo, deixaste de existir.
E se se tem saudades do que não existe,
Sinto-a em relação a cousa nenhuma;
Não é do navio, é de nós, que sentimos saudade.

Inveja e Proximidade

Não é a desproporção entre nós e os outros que produz a inveja, mas, pelo contrário, a proximidade. Um soldado raso não nutre pelo seu general inveja comparável à que poderá sentir pelo seu sargento ou por um cabo; nem um escritor eminente encontrará tanta inveja por banda dos escritorecos vulgares como nos autores que dele mais se aproximam. Uma grande desproporção anula a relação, seja impedindo-nos de nos compararmos com aquilo que nos é remoto, seja minorando os efeitos da comparação.

Ó Meus Irmãos Contrários

Ó meus irmãos contrários que guardais nas vossas
[pupilas
A noite infusa e o seu horror
Onde vos deixei eu
Com vossas pesadas mãos no azeite preguiçoso
Dos vossos actos antigos
Com tão pouca esperança que’a morte tem razão
Ó meus irmãos perdidos
Eu vou para a vida tenho aparência de homem
Para provar que o mundo é feito à minha medida

E não estou só
Mil imagens de mim multiplicam a luz
Mil olhares semelhantes igualam a carne
É a ave é a criança é a rocha é a planície
Que se misturam a nós
O ouro desata a rir ao ver-se fora do abismo
A água o fogo despem-se por uma única estação
Já não há eclipse na fronte do universo.

Tradução de António Ramos Rosa

Não se pode pensar em virtude sem se pensar num estado e num impulso contrários aos de virtude e num persistente esforço da vontade. Para me desenhar um homem virtuoso tenho que dar relevo principal ao que nele é voluntário.

O Mais Fundo de Nós Mesmos

A uma certa altura do auto-conhecimento, quando estão presentes outras circunstâncias que favorecem a auto-segurança, invariavelmente e sem outra hipótese sentimo-nos execráveis. Todas as medidas do bem — por muito que as opiniões possam diferir sobre isto — parecerão demasiado altas. Vemos que não passamos de um ninho de ratos feito de dissimulações miseráveis. O mais insignificante dos nossos actos não deixa de estar contaminado por estas dissimulações. Estas intenções dissimuladas são tão horríveis que no decurso do nosso exame de consciência não vamos querer ponderá-las de perto, mas, pelo contrário, ficaremos contentes de as avistar de longe. Estas intenções não são todas elas feitas apenas de egoísmo, o egoísmo em comparação parece um ideal do bem e do belo. A porcaria que vamos encontrar existe por si só; reconheceremos que viemos ao mundo pingando este fardo e sairemos outra vez irreconhecíveis, ou então demasiado reconhecíveis, por causa dela. Esta porcaria é o fundo mais profundo que encontraremos; nos fundos mais profundos não haverá lava, não, mas porcaria. É o mais fundo e o mais alto e até as dúvidas que o exame de consciência origina em breve enfraquecerão e se tornarão complacentes como o espojar de um porco na imundície.

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Ali não Havia Eletricidade

Ali não havia eletricidade.
Por isso foi à luz de uma vela mortiça
Que li, inserto na cama,
O que estava à mão para ler —
A Bíblia, em português (coisa curiosa), feita para protestantes.
E reli a “Primeira Epístola aos Coríntios”.
Em torno de mim o sossego excessivo de noite de província
Fazia um grande barulho ao contrário,
Dava-me uma tendência do choro para a desolação.
A “Primeira Epístola aos Coríntios” …
Relia-a à luz de uma vela subitamente antiqüíssima,
E um grande mar de emoção ouvia-se dentro de mim…
Sou nada…
Sou uma ficção…
Que ando eu a querer de mim ou de tudo neste mundo?
“Se eu não tivesse a caridade.”
E a soberana luz manda, e do alto dos séculos,
A grande mensagem com que a alma é livre…
“Se eu não tivesse a caridade…”
Meu Deus, e eu que não tenho a caridade

O que aumenta quando acumulado é apenas a matéria. A Vida, pelo contrário, aumenta quando é partilhada com os outros.

Meu Céu Interior

Se esses teus olhos, no meu livro, imersos,
encontrarem diversas emoções,
– não tentes decifrar… – mil corações
nós os temos num só, todos diversos…

Os meus poemas aqui, vivem dispersos,
como as estrelas… e as constelações…
– no céu das minhas íntimas visões,
no”meu céu interior…”cheio de versos.

Não procures o poeta compreender…
– Os versos que umas cousas nos desnudam,
Outras cousas, ocultam, sem querer…

Uns, são felizes… Outros, ao contrário…
– No rosário da vida, as contas mudam,
e os versos são contas de um rosário!…

O Ideal Quimérico

Tenho grandes suspeitas e muitas reservas maldosas em relação ao que se chama ideal. O meu pessimismo está em ter reconhecido que os grandes sentimentos são uma fonte de infelicidades; ou seja, de estiolamento, de desvalorização do Homem. Sempre que esperamos dum ideal algum progresso, entramos na ilusão: a vitória do ideal tem sofrido, até hoje, um movimento retrógrado.
Cristianismo, revolução, abolição da escravatura, igualdade de direitos, filantropia, amor ao inimigo, justiça, verdade… Tudo grandes palavras, que só têm valor nas batalhas ou nas bandeiras: não como realidades, mas como fórmulas aparatosas, que exprimem o contrário do que dizem.
Afinal, o nosso idealismo quimérico faz também parte da existência, e também deve manifestar-se no carácter da existência; não sendo a fonte da existência, nem por isso deixa de estar presente nela. Tanto os nossos pensamentos mais elevados como os mais temerários são fragmentos característicos da realidade. Porque, o nosso pensamento é feito de características da realidade; o nosso pensamento é feito da mesma substância de todas as coisas.

Os Laços Afetivos

Criar intimidade entre si e outra pessoa não implica perder a sua noção de Eu nem diluir-se no outro. Para criar efetivamente laços com outra pessoa, ambos têm de manter a sua integridade e individualidade. Caso contrário, o resultado será uma amálgama disfuncional. Para estabelecer uma analogia com o corpo humano, as células dos olhos criam uma ligação entre si para permitir a visão. Cada célula tem de se articular com todas as outras e isso implica que cada uma delas mantenha a sua estrutura e função individuais ao serviço da operação mais complexa da visão. Quando estabelecemos laços com outros, estamos simplesmente a ser aquilo que somos enquanto partilhamos um objetivo ou atividade comuns.

É tão simples quanto isso. Talvez saia com um grupo de pessoas para garantir um parecer favorável na reunião da tarde e entretanto desenvolva um sentimento de camaradagem e acabem por ir jantar fora e partilhar as vossas histórias. Esta é uma experiência de criação de laços afetivos. Ao contrário de certos medos que possamos ter do que possa levar-nos a perder a identidade, a criação de laços afetivos saudáveis fortalece a nossa confiança e autoestima.

Na Paz Não Há Verdadeiro Progresso, o Egoísmo Impera

A ciência e a arte progridem sempre num primeiro período imediato a uma guerra. A guerra renova-as, rejuvenesce-as, fomenta, fortalece, as ideias e imprime-lhes certo impulso. Numa larga paz, pelo contrário, sucumbe também a ciência. Indiscutivelmente o culto da ciência requer valor e até espírito de sacrifício. Mas quantos sábios resistem à praga da paz? A falsa honra, o egoísmo e a ânsia de prazeres superficiais, bestiais, fazem também mossa no seu espírito. Procure o senhor acabar com uma paixão como a inveja, por exemplo; é ordinário e vulgar, mas com tudo isso penetra até nas nobílissimas almas dos sábios. Também o sábio acaba por querer ter a sua parte no brilho e esplendores gerais. Que significa, ante o triunfo da riqueza, o triunfo de uma descoberta científica, a menos que seja tão estrondosa como a descoberta de um novo planeta? Parece-lhe que em tais circunstâncias haverá ainda muitos escravos do trabalho para o bem geral?

Longe disso, procura-se a glória e cai-se no charlatanismo, na procura do efeito, e antes de mais nada no utilitarismo… visto que também se quer, ao mesmo tempo, ser rico. Na arte acontece o mesmo que na ciência: idêntica ânsia do efeito,

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Técnicas de Narrador

Os que me conheceram aos quatro anos dizem que era pálido e ensimesmado e que só falava para contar disparates, mas os meus relatos eram em grande parte episódios simples da vida diária, que eu tornava mais atraentes com pormenores fantásticos para que os adultos me prestassem atenção. A minha melhor fonte de inspiração eram as conversas que os mais velhos mantinham diante de mim, porque pensavam que não as entendia, ou as que cifravam de propósito para que não as entendesse. E, de facto, acontecia o contrário: absorvia-as como uma esponja, desmontava-as em peças, alterava-as para escamotear a origem, e quando as contava aos mesmos que as tinham contado ficavam perplexos pelas coincidências entre o que eu dizia e o que eles pensavam.

Às vezes não sabia o que fazer com a minha consciência e procurava dissimular com um rápido pestanejar. Tanto era assim que algum racionalista da família decidiu que eu fosse observado por um médico da vista, que atribuiu o meu pestanejar a uma infecção das amígdalas e me receitou um xarope de rábano iodado que me fez muito bem para aliviar os adultos. A avó, por seu lado, chegou à conclusão providencial de que o neto era adivinho.

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O Segredo das Mulheres

Como os homens andam sempre atrasados em relação às mulheres (porque só pensam numa coisa de cada vez e acham que falar acerca das coisas é pior do que fazê-las), quem sabe se não é estudando o comportamento feminino de hoje que poderemos vislumbrar o nosso macaquismo masculino de amanhã?
As mulheres de hoje sabem quem lhes pode fazer mal: são as outras mulheres. Os homens, por muito amados e queridos, nem sequer são considerados competidores. São como são, têm a inteligência e o material que têm – e que Deus os abençoe por ser assim, como os pêssegos-rosa e os arcos-íris e todos os outros fenómenos naturais que são difíceis de prever e de controlar.

O segredo das mulheres, que nenhum homem pode perceber, a não ser que seja amado por alguma que se sinta suficientemente amada por um para lhe contar mais do que o suficiente para ele continuar a existir tal como é (que mais não se lhe pede) é: os homens não entram na equação. É tudo uma questão entre elas.
Elas são espertas. É por isso que morrem de medo umas das outras. Conhecem o perigo e sabem quem pode emperigá-las.

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Só Sente Ansiedade pelo Futuro aquele cujo Presente é Vazio

O principal defeito da vida é ela estar sempre por completar, haver sempre algo a prolongar. Quem, todavia, quotidianamente der à própria vida “os últimos retoques” nunca se queixará de falta de tempo; em contrapartida, é da falta de tempo que provém o temor e o desejo do futuro, o que só serve para corroer a alma. Não há mais miserável situação do que vir a esta vida sem se saber qual o rumo a seguir nela; o espírito inquieto debate-se com o inelutável receio de saber quanto e como ainda nos resta para viver. Qual o modo de escapar a uma tal ansiedade? Há um apenas: que a nossa vida não se projecte para o futuro, mas se concentre em si mesma. Só sente ansiedade pelo futuro aquele cujo presente é vazio. Quando eu tiver pago tudo quanto devo a mim mesmo, quando o meu espírito, em perfeito equilíbrio, souber que me é indiferente viver um dia ou viver um século, então poderei olhar sobranceiramente todos os dias, todos os acontecimentos que me sobrevierem e pensar sorridentemente na longa passagem do tempo! Que espécie de perturbação nos poderá causar a variedade e instabilidade da vida humana se nós estivermos firmes perante a instabilidade?

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