Entendo porque as pessoas pensam que somos gays. Não há uma definição em nossa cultura para este tipo de vínculo entre as mulheres. Então eu me pergunto por que as pessoas têm de gravar isso: Como vocês podem ser tão próximas sem ter um relacionamento sexual?.
Passagens sobre Cultura
234 resultadosCultura é o que fica depois de se esquecer tudo o que foi aprendido.
Separar a liberdade da justiça significa separar a cultura e o trabalho, o que constitui o pecado social por excelência.
Recordação
Foi por aqui, sob estes árvoredos,
Sob este doce e plácido horizonte,
Perto da clara e pequenina fonte
Que murmura lá baixo os seus segredos…Recordo bem todos os cantos ledos
Da passarada — e lembro-me da ponte
Por sobre a qual via-se além, de fronte,
O mar azul batendo nos penedos.Sinto a impressão ainda da paisagem,
Do trêmolo (…)* da folhagem,
Das culturas rurais, do sítio agreste.A luz do dia vinha então morrendo…
Foi por aqui que eu pude ficar crendo
O quanto pode o teu olhar celeste.* Rasurado
A contracultura não carece de justificativa, mas a cultura a exige.
A Vantagem do Aforismo
Conviria talvez distinguir entre os aforismos e não os adorar a todos igualmente nem passar sobre todos a mesma condenação desdenhosa. O aforismo nem sempre traduz o desprezo da razão ou uma mal entendida liberdade. Há aforismos que são como pequenos capítulos do livro que se quereria escrever, como fotografias tiradas momento a momento dos passos de um homem que marcha direito e firme pela sua estrada; podem ser tão logicamente encadeados entre si, constituir tão seguro edifício como o tratado que se vai completando no vagar e no silêncio. Há porventura até algum merecimento a descobrir neste método; porei em primeiro lugar a tendência que nele pode haver para uma fuga da retórica, para uma negativa ante o desejo de encher mais uma página; a métopla do templo, com o seu fixo, restrito quadro, leva o artista a concentrar-se, a exprimir o máximo de ideias no mínimo de figuras e gestos. Por outro lado, é inegável que a obra extensa é pouco acessível àqueles mesmos que mais precisam de cultura, que duas ou três frases, esplêndidas no seu isolamento, enérgicas e nítidas, lhes ficam mais gravadas no espírito do que longos monólogos.
Flor de Ventura
A flor de ventura
Que amor me entregou,
Tão bela e tão pura
Jamais a criou:Não brota na selva
De inculto vigor,
Não cresce entre a relva
De virgem frescor;Jardins de cultura
Não pode habitar
A flor de ventura
Que amor me quis dar.Semente é divina
Que veio dos Céus;
Só n’alma germina
Ao sopro de Deus.Tão alva e mimosa
Não há outra flor;
Uns longes de rosa
Lhe avivam a cor;E o aroma… Ai!, delírio
Suave e sem fim!
É a rosa, é o lírio,
É o nardo, o jasmim;É um filtro que apura,
Que exalta o viver,
E em doce tortura
Faz de ânsias morrer.Ai!, morrer… que sorte
Bendita de amor!
Que me leve a morte
Beijando-te, flor.
Um Segredo de um Casamento Feliz
Desde que a Maria João e eu fizemos dez anos de casados que estou para escrever sobre o casamento. Depois caí na asneira de ler uns livros profissionais sobre o casamento e percebi que eu não percebo nada sobre o casamento.
Confesso que a minha ambição era a mais louca de todas: revelar os segredos de um casamento feliz. Tendo descoberto que são desaconselháveis os conselhos que ia dar, sou forçado a avisar que, quase de certeza, só funcionam no nosso casamento.
Mas vou dá-los à mesma, porque nunca se sabe e porque todos nós somos muito mais parecidos do que gostamos de pensar.
O casamento feliz não é nem um contrato nem uma relação. Relações temos nós com toda a gente. É uma criação. É criado por duas pessoas que se amam.
O nosso casamento é um filho. É um filho inteiramente dependente de nós. Se nós nos separarmos, ele morre. Mas não deixa de ser uma terceira entidade.
Quando esse filho é amado por ambos os casados – que cuidam dele como se cuida de um filho que vai crescendo -, o casamento é feliz. Não basta que os casados se amem um ao outro.
Ser intelectual é usar sobretudo a inteligência, o que eu não faço: uso é a intuição, o instinto. Ser intelectual é também ter cultura, e eu sou tão má leitora que, agora já sem pudor, digo que não tenho mesmo cultura. Nem sequer li as obras importantes da humanidade.
A Destruição de Tudo
É a palavra de ordem para o homem de hoje. Destruir. Tudo. Os deuses, as artes, diferenças culturais, ou a só cultura, diferenças sexuais, diferenças literárias ou a só literatura que leva hoje tudo, valores de qualquer espécie, filosofias, o simples pensamento, a simples palavra – tudo alegremente ao caixote. Entretanto, ou por isso, proliferação das gentes com a forma que lhes pertence, devastação da sida, que foi o que de melhor a natureza arranjou para equilibrar a demografia, droga dura para se avançar na vida mais depressa, criminalidade para esse avanço, juventude de esgotos nocturnos, velhos em excesso e que não há maneira de se despacharem e atulham os chamados lares de idosos ou simplesmente os depósitos em que são largados até mudarem de cemitério, politiqueiros que têm a verdade do erro que se segue e o mais e o mais. É tempo de cair um pedregulho como o que acabou com os dinossauros há sessenta milhões de anos e de poder dar-se a hipótese de a vida recomeçar. Até que venha outra vez a destruição e Deus definitivamente se farte do brinquedo. Entretanto vê se vês ainda alguma flor ao natural e demora-te um pouco a admirar-lhe a beleza e estupidez.
A Cultura Portuguesa e o Provincianismo
A cultura portuguesa tem um amor fatal pelo provincianismo. O provincianismo é a forma mais «engagée» de existir socialmente e literariamente. Daí a impossibilidade, ou melhor, o medo de se realizar sequer um realismo a sério, porquanto este exige uma descida ao inferno e não vejo por aí quem se atreva além do purgatório. Fica-se assim na meia tinta do naturalismo, retratando quadros convencionais de uma sociedade provinciana onde, além da já muito conhecida injustiça social (reparável pela economia e não pela literatura), nada se capta que possa sugerir a simples violência de se estar no mundo. Provincianismo chama-se ainda àquela nossa atitude que toma muito a sério ou, ainda, solenemente, tudo o que faz, tornando inviável uma literatura que desmonte eficazmente a engrenagem humana e social pela incomplacente investida de um humor cruel. Houve recentes tentativas queirozianas para denunciar as fraquezas do meio. Conseguiu-se fazer realismo desta vez? Também não, porque se fez realismo de empréstimo, de segunda mão, colhido no «diz-se diz-se» das esquinas. Escreveu-se razoavelmente má-língua, mas não se agitaram as pessoas e as instituições de forma a tornar visível o lodo depositado no fundo. Isto quanto aos que fazem profissão de fé de realismo social ou burguês.
Há uma cultura de banalização. Tudo é banal, tudo está sujeito ao consumo.
A cultura é tudo o que resta depois de se ter esquecido tudo o que se aprendeu.
O Amor Encontra-se nas Coisas Simples
É mais fácil programar supercomputadores, gerir grandes empresas, cumprir elevadas metas profissionais, do que construir relações saudáveis regadas com um sublime amor. Houve brilhantes intelectuais que quiseram conquistar o amor com a sua cultura, mas ele disse: «Encontro-me nas coisas simples e anónimas!» Houve milionários que quiseram comprá-lo com dinheiro, mas ele declarou: «Não estou à venda!» Alguns generais quiseram dominá-lo com armas, mas ele afirmou: «Só floresço no terreno da espontaneidade!» Os políticos tentaram seduzi-lo com o seu poder, mas o amor bradou: «O poder asfixia-me.» Houve pessoas célebres que quiseram envolvê-lo com a fama, mas ele sem hesitar comentou: «A fama nunca me poderá seduzir.»
Se as vozes moderadas do Islã não modernizarem sua cultura e sua fé, pode ser que os ‘Rushdies’ tenham de fazê-lo por elas.
A actividade social chamada comércio, por mal vista que esteja pelos teoristas de sociedades impossíveis, é contudo um dos dois característicos distintivos das sociedades chamadas civilizadas. O outro característico distintivo é o que se denomina cultura.
O Amor Social
É necessário voltar a sentir que precisamos uns dos outros, que temos uma responsabilidade para com os outros e o mundo, que vale a pena sermos bons e honestos. Vivemos já muito tempo na degradação moral, baldando-nos à ética, à bondade, à fé, à honestidade; chegou o momento de reconhecer que esta alegre superficialidade de pouco nos serviu. Uma tal destruição de todo o fundamento da vida social acaba por nos colocar uns contra os outros, na defesa dos próprios interesses, provoca o despertar de novas formas de violência e crueldade e impede o desenvolvimento de uma verdadeira cultura do cuidado do meio ambiente.
O exemplo de Santa Teresa de Lisieux convida-nos a pôr em prática o pequeno caminho do amor, a não perder a oportunidade de uma palavra gentil, de um sorriso, de qualquer pequeno gesto que semeie paz e amizade. Uma ecologia integral é feita também de simples gestos quotidianos, pelos quais quebramos a lógica da violência, da exploração, do egoísmo. Pelo contrário, o mundo do consumo exacerbado é, simultaneamente, o mundo que maltrata a vida em todas as suas formas.
O amor, cheio de pequenos gestos de cuidado mútuo, é também civil e político,
A Cultura e a Corrupção
Qualquer um pode ser bom no campo. Lá não há tentações. É por isso que as pessoas que não vivem na cidade são tão terrivelmente bárbaras. A civilização não é de modo nenhum uma coisa fácil de atingir. Há duas maneiras de um homem a alcançar. Uma é pela cultura e outra é pela corrupção. As pessoas do campo não têm qualquer oportunidade de praticar nenhuma delas e, por conseguinte, estagnam.
A Igreja sempre viveu a passagem dramática da morte à luz da ressurreição de Jesus Cristo, que abriu o caminho para a certeza da vida futura. Temos um grande desafio em aceitá-la, sobretudo na cultura contemporânea, que muitas vezes tende a banalizar a morte até a fazer tornar-se uma simples ficção ou a escondê-la.
Povos Sem Sorte
As pessoas podem sentir pena de um homem que está a passar por tempos difíceis, mas quando um país inteiro é pobre, o resto do mundo assume que todos os seus cidadãos são desmiolados, preguiçosos, sujos, tolos e desajeitados. Em vez de pena, provocam o riso. É tudo uma anedota: a sua cultura, os seus costumes, as suas práticas. Com o tempo o resto do mundo pode, parte dele, começar a ficar envergonhado por ter pensado dessa maneira, e quando olham em volta e vêem os imigrantes desse pobre país a esfregar o chão e a fazerem os trabalhos pior pagos, eles naturalmente preocupam-se sobre o que poderia acontecer se um dia estes trabalhadores se insurgissem contra eles. Assim, para manter as aparências agradáveis, começam a interessar-se pela cultura dos imigrantes e às vezes até fingem que pensam neles como se fossem seus iguais.