Passagens sobre Domínio

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Frases sobre domínio, poemas sobre domínio e outras passagens sobre domínio para ler e compartilhar. Leia as melhores citações em Poetris.

Deveres Virtuosos

Os nossos hábitos tornam-se virtudes graças a uma transposição livre no domínio do dever, pelo facto de trazermos a inviolabilidade nos conceitos; os nossos hábitos tornam-se virtudes pelo facto de acharmos menos importante o bem particular que a sua inviolabilidade – por consequência pelo sacrifício do indivíduo ou pelo menos pela possibilidade entrevista de um tal sacrifício. – Quando o indivíduo se considera pouco importante começa o domínio das virtudes e das artes – o nosso mundo metafísico. O dever seria particularmente puro se na essência das coisas nada correspondesse ao facto moral.

A um Retrato

Amo-te, flor! Se te amo, Deus que o sabe
Que o diga a teus irmãos, que o Céu povoam
E ébrios de glória cânticos entoam
A quem no mar, na Terra e Céus não cabe.

Se te amo, flor! que o diga o mar que expele
Quanto é domínio, e beija humilde a praia…
Se mal que a Lua lá das ondas saia
Nas rochas me não vê gemer com ele!

Amo-te, flor! Se te amo, o Sol que o diga:
Quando lá da montanha aos Céus se eleva,
Se entre os vermes do pó, que o vento leva,
Me banha a mim também na luz amiga.

Se te amo, flor? Sem ti… que noite escura,
Meu céu, meu campo em flor, meu dia e tudo!
Diga-te a noite minha se te iludo,
Se em vida já sem ti sonhei ventura!

O anjo que no berço humilde e escasso
Do Céu me veio alumiar piedoso
E em lágrimas e riso, pranto e gozo,
Desde então me acompanha passo a passo;

És tu! Amo-te e muito!

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A Glória Mais Genuína

A glória mais genuína, a póstera, nunca é ouvida por quem é seu objecto e, no entanto, ele é tido por feliz. Assim, a sua felicidade consistiu propriamente nas grandes qualidades que lhe conferiram a sua glória e no facto de que encontrou oportunidade para desenvolvê-las; logo, foi-lhe permitido agir como era adequado, ou praticar aquilo que praticava com prazer e amor. Pois só as obras assim nascidas alcançam glória póstera. A sua felicidade consistiu, pois, no grande coração, ou também na riqueza de um espírito cuja estampa, nas suas obras, recebe a admiração dos séculos vindouros. Tal felicidade consistiu nos seus próprios pensamentos, cuja meditação será a ocupação e o gozo dos espíritos mais nobres de um imenso futuro. O valor da glória póstera reside, portanto, em merecê-la, e isso é a sua recompensa verdadeira.
Se chegou a haver obras que adquiriram glória na posteridade e que também a obtiveram entre os seus contemprâneos, tratam-se de circunstâncias fortuitas, sem grande importância. Pois, como os homens, via de regra, são privados de juízo próprio e, sobretudo, não têm capacidade alguma para apreciar as realizações elevadas e difíceis, acabam sempre por seguir nesse domínio a autoridade alheia, e a glória de género superior,

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Quantos Séculos Precisa um Espírito para Ser Compreendido?

Os maiores acontecimentos e os maiores pensamentos – mas os maiores pensamentos são os maiores acontecimentos – são os que mais tarde se compreendem: as gerações que lhes são contemporâneas não vivem esses acontecimentos, – passam por eles. Acontece aqui algo de análogo ao que se observa no domínio dos astros. A luz das estrelas mais distantes chega mais tarde aos homens; e antes da sua chegada, os homens negam que ali – existam estrelas. “Quantos séculos precisa um espírito para ser compreendido?” – aí está também uma medida, um meio de criar uma hierarquia e uma etiqueta necessárias: para o espírito e para a estrela.

A História é um Criar e Desfazer de Ilusões

A História é um criar e desfazer de ilusões. Em todos os domínios, sobretudo no do pensar. Admitamos que é antes um desfazer de ilusões até à verdade final. Cercados do nada, antes e depois, o indivíduo, a espécie, a própria terra, o sistema solar, o universo com a degradação da energia, que é que quer dizer uma «ilusão»? É o acordar de um sonho num sonho. Que significa o entusiasmo com o desfazer do que nos iludiu? Mas continuar a sonhar num sonho de segundo grau é não saber que se continua. Com essa ignorância se faz a grandeza do homem. Ou com o ignorar, mas como se não. A verdade perfeita é o nada que nos cerca. Mas no nada nem sequer se sabe que não há nada. Só portanto na ilusão pode haver tudo. E, nesse caso, continuemos.

O Crédulo

A fé pode ser definida em resumo como uma crença ilógica na ocorrência do improvável. Ela contém um saber patológico; extrapola o processo intelectual normal e atravessa o viscoso domínio da metafísica transcedental. O homem de fé é aquele que simplesmente perdeu (ou nunca teve) a capacidade para um pensamento claro e realista. Não que ele seja uma mula; é, na realidade, um doente. Pior ainda, é incurável, porque o desapontamento, sendo essencialmente um fenómeno objetivo, não consegue afectar a sua enfermidade subjectiva. A sua fé apodera-se da virulência de uma infecção crónica. O que ele diz, em suma, é: “Vamos confiar em Deus, Aquele que sempre nos enganou no passado”.

Controlar a Ira

Se deste vazão à ira, fica certo de que, além do mal nela implícito, revigoraste o hábito e acrescentaste lenha à fogueira. Quando és vencido por uma tentação da carne, não consideres isso simples derrota: considera, também, que revigoraste os teus hábitos dissolutos. Os hábitos e as faculdades são necessariamente afectados pelos actos correspondentes. Os que antes não existiam, agora aparecem; os demais cobram vigor e domínio. Esta é a versão que os Filósofos dão das moléstias da mente: supõe que algum dia cobiçaste ter dinheiro: se a razão, em dose suficiente para provocar a consciência do mal, intervir, a cobiça é anulada e a mente recupera imediatamente a sua autoridade original; contudo, se não recorreres a nenhum remédio, jamais poderás esperar tal recuperação; ao contrário, a próxima vez em que for excitada pelo objecto correspondente, a chama do desejo irromperá mais prontamente do que antes. Pela frequência da repetição, a mente, ao fim e ao cabo, fica calejada e, assim, esta moléstia mental produz Avareza confirmada.
Quando alguém teve febre, mesmo depois de voltar à normalidade, não se encontra nas mesmas condições de saúde que antes, a menos que a sua cura seja completa. Algo de semelhante ocorre com as moléstias da mente.

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Darem-te o domínio sobre outra pessoa é uma coisa pesada; execeres domínio sobre outra pessoa é uma coisa errada; dares o domínio de ti mesmo a outra pessoa é uma coisa perversa.

O Espaço Que a Tecnologia Expulsa

A tecnologia que inunda o mundo de hoje, e a ciência que a serviu, não o invadem apenas na parte exterior do homem mas ainda os seus domínios interiores. Assim o que daí foi expulso não deixou apenas o vazio do que o preenchia, mas substituiu-o pelo que marcasse a sua presença. O mais assinalável dessa presença é por exemplo um computador.

Retrato de Mónica

Mónica é uma pessoa tão extraordinária que consegue simultaneamente: ser boa mãe de família, ser chiquíssima, ser dirigente da «Liga Internacional das Mulheres Inúteis», ajudar o marido nos negócios, fazer ginástica todas as manhãs, ser pontual, ter imensos amigos, dar muitos jantares, ir a muitos jantares, não fumar, não envelhecer, gostar de toda a gente, gostar dela, dizer bem de toda a gente, toda a gente dizer bem dela, coleccionar colheres do séc. XVII, jogar golfe, deitar-se tarde, levantar-se cedo, comer iogurte, fazer ioga, gostar de pintura abstracta, ser sócia de todas as sociedades musicais, estar sempre divertida, ser um belo exemplo de virtudes, ter muito sucesso e ser muito séria.
Tenho conhecido na vida muitas pessoas parecidas com a Mónica. Mas são só a sua caricatura. Esquecem-se sempre ou do ioga ou da pintura abstracta.
Por trás de tudo isto há um trabalho severo e sem tréguas e uma disciplina rigorosa e constante. Pode-se dizer que Mónica trabalha de sol a sol.
De facto, para conquistar todo o sucesso e todos os gloriosos bens que possui, Mónica teve que renunciar a três coisas: à poesia, ao amor e à santidade.

A poesia é oferecida a cada pessoa só uma vez e o efeito da negação é irreversível.

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Glória

Vive dentro de mim um mundo raro
Tão vário, tão vibrante, tão profundo
Que o meu amor indómito e avaro
O oculto raivoso ao outro mundo

E nele vivo audaz, ardentemente,
Sentindo consumir-se a sua chama
Que oscila e desce e sobe inquietamente;
Ouvindo a minha voz que por mim chama

Em situações grotescas que me ferem,
Ou conquistando o que meus olhos querem:
Príncipe ou Rei sonhando com domínios.

Sinto bem que são vãs pra me prenderem
As mãos da Vida, muito embora imperem
Sobre a noção real dos meus declínios.

A Felicidade é um Túnel

o domínio
o erotismo do domínio
do domínio irrisório
mas enorme

submeter
ver tremer
ver o tremor do outro

vencer
o gelo
o desdém
veloz

a felicidade é um túnel

Português Vulgar

O meu gato deixa-se ficar
em casa, arejando o prato
e o caixote das areias. Já não vai
de cauda erguida contestar o domínio
dos pedantes de raça, pelos
quintais que restam. O meu gato
é um português vulgar, um tigre
doméstico dos que sabem caçar ratos e
arreganhar dentes a ordens despóticas. Mas
desistiu de tudo, desde os comícios nocturnos
das traseiras até ao soberano desprezo
pela ração enlatada, pelo mercantilismo
veterinário ou pela subserviência dos cães
vizinhos. Já falei deste gato
noutro poema e da sua genealogia
marinheira, embarcada nas antigas
naus. Se o quiserem descobrir, leiam
esse poema, num livro certamente difícil
de encontrar. E quem procura hoje
livros de poemas? Eu ainda procuro,
nos olhos do meu gato, os
dias maiores de Abril.

O génio é o livre domínio de todas as qualidades que, isoladas umas das outras, dominam os aleijados.

Uma ira desmedida acaba em loucura; por isso, evita a ira, para conservares não apenas o domínio de ti mesmo, mas também a tua própria saúde.

Os Acontecimentos Simultâneos

Considera quantas coisas, no mesmo instante infinitesimal, se produzem simultaneamente em cada um de nós, tanto no domínio do corpo como no da alma. Por isso te não surpreenderá que muitos mais acontecimentos se produzam, ou antes, que eles se produzam todos a um tempo, no ser simultaneamente único e universal a que chamamos mundo.

O que Une uma Mulher a um Homem

O que une uma mulher a um homem não passa por nada do que aparentemente vale. Passa por onde? Não, não: pode não ser por aí, embora seja fundamentalmente por aí. Porque mesmo aí outros poderiam cumprir melhor, com o acréscimo do resto. Há uma falha (uma falta) essencial na mulher que só um certo homem pode preencher. E não é necessariamente essa. O mais misterioso no domínio das relações é o que se situa nas relações amorosas. Ou seja no que há de mais íntimo, essencial, primeiro do ser humano. Um labregório qualquer, torto, bronco, cabeçudo, pode ser amado pela mulher mais divinal e inteligente e ilustrada e refinada de figura. Haverá, pois, para o homem dois mundos que não comunicam entre si e que se separam na porta do quarto. Poucos são os que a atravessam em glória — idos da rua ou para a rua.