Ser Distinto

A elegância distinta (…) Ă© difĂ­cil de imitar, porque, no fundo, ela Ă© negativa e pressupõe uma prática longa e constante. Pois a pessoa nĂŁo deve, por exemplo, representar na sua atitude qualquer coisa que indique dignidade, já que dessa maneira se cai facilmente num carácter formal e orgulhoso; antes se deve, simplesmente, evitar o que Ă© indigno, o que Ă© vulgar; a pessoa nunca se deve esquecer, deve prestar sempre atenção a si e aos outros, nĂŁo perdoar nada a si prĂłpria, nĂŁo fazer aos outros nem de mais, nem de menos, nĂŁo parecer comovida com nada, nĂŁo se impressionar com nada, nunca se apressar demasiado, saber dominar-se em qualquer momento e, assim, manter um equilĂ­brio exterior, por muito forte que seja interiormente o temporal.
O homem nobre pode, em certos momentos, desleixar-se; o homem distinto nunca. Este é como um homem muito bem vestido: não se enconstará em lado nenhum e toda a gente evitará roçar nele. Ele distingue-se dos outros e, todavia, não deve ficar sozinho; pois, tal como em todas as artes e, portanto, também nesta, o mais difícil deve, finalmente, ser executado com facilidade: por isso, a pessoa distinta, apesar de todo o isolamento, deve parecer sempre ligada a outrem; em parte alguma, deve mostrar-se rígida; em todo o lado deve ser polida e aparecer sempre como a primeira, sem nunca se impor como tal.
VĂŞ-se, por conseguinte, que, para parecer distinto, se tem de ser realmente distinto.