Passagens sobre Hábitos

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Frases sobre hábitos, poemas sobre hábitos e outras passagens sobre hábitos para ler e compartilhar. Leia as melhores citações em Poetris.

A Fonte da Harmonia

A boa disposição e a alegria de um cão, o seu amor incondicional pela vida e a prontidão dele para a celebrar a todo o momento contrasta muito com o estado de espírito do dono – deprimido, ansioso, sobrecarregado de problemas, perdido em pensamentos, ausente do único lugar e do único tempo que existe: o Aqui e o Agora. E uma pessoa interroga-se: vivendo com alguém assim, como consegue o cão manter-se tão equilibrado e são, tão cheio de alegria?

Quando apreendemos a Natureza apenas através da mente, do pensamento, não somos capazes de sentir a sua força de viver e de existir. Vemos somente a parte física, a matéria, e não nos apercebemos da vida interior – o mistério sagrado. O pensamento reduz a Natureza a uma mercadoria que se usa na busca de benefícios ou de conhecimento ou de qualquer outro fim utilitário. A floresta ancestral passa a ser vista apenas como madeira, o pássaro como um objecto de investigação, a montanha como alguma coisa para se explorar ou conquistar.

Quando se apreende a Natureza, deve-se permitir que hajam momentos sem pensamento, sem a intervenção da mente. Ao aproximarmo-nos da Natureza desta maneira, ela responde-nos e,

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O Progresso Real não se Deve aos Génios

É opinião, pode dizer-se, universal, que o conhecimento humano deve a maior parte do seu progresso àqueles génios supremos que surgem de quando em quando, um agora, outro depois, que são quase milagres da natureza. Eu, pelo contrário, penso que ele deva a sua maior parte aos génios comuns, e muito pouco aos extraordinários. Um destes, suponhamos, depois de ter preenchido com a erudição a área do conhecimento dos seus contemporâneos, avança no saber, digamos, dez passos em frente. Os outros homens, porém, não só não se aprestam a segui-lo como, a maior parte das vezes, isto para não dizer pior, se riem do seu progresso.
Entretanto muitos génios medíocres, valendo-se em parte, talvez, dos pensamentos e das descobertas daquele extraordinário, mas principalmente através de estudos deles próprios, dão um passo em conjunto; e, nesse passo, dada a pequenez do espaço, isto é, a reduzida novidade das suas opiniões, e também devido ao elevado número daqueles que são os seus autores, ao fim de alguns anos são universalmente seguidos. Assim, avançando, como é seu hábito, a pouco e pouco, e por obra e a exemplo de outros intelectos medíocres, os homens completam, finalmente, o décimo passo; e as opiniões daquele génio extraordinário são geralmente aceites como verdadeiras em todos os países civilizados.

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Sou um Verdadeiro Solitário

O meu sentido ardente de justiça social e de dever social estiveram sempre em estranho desacordo com uma marcada carência de necessidade directa de ligação com os homens e com as comunidades humanas. Sou um verdadeiro solitário («Einspänner»), que nunca pertenceu inteiramente e de todo o coração ao Estado, à Pátria, ao círculo dos amigos ou até mesmo à família mais chegada, mas antes pelo contrário experimentou sempre, em relação a todas essas ligações, um sentimento indomável de estranheza e de ânsia de isolamento, um sentimento que com a idade mais se intensifica. Apercebemo-nos nitidamente, mas sem o lamentarmos, que nos é limitada a convivência em sociedade com outros seres humanos. Um homem desta natureza perde, de certo modo, uma parte da sua maneira de ser inocente e despreocupada mas ganha em se sentir largamente independente das opiniões, dos hábitos e juízos dos homens, e não cai na tentação de estabelecer o seu equilíbrio numa base tão pouco sólida.

A Tristeza dos Portugueses

Porque é que os portugueses são tristes? Porque estão perto da verdade. Quem tiver lido alguns livros, deixados por pessoas inteligentes desde o princípio da escrita, sabe que a vida é sempre triste. O homem vive muito sujeito. Está sujeito ao seu tempo, à sua condição e ao seu meio de uma maneira tal que quase nada fica para ele poder fazer como quer. Para se afirmar, como agora se diz, tão mal.
Sobre nós mandam tanto a saúde e o dinheiro que temos, o sítio onde nascemos, o sangue que herdámos, os hábitos que aprendemos, a raça, a idade que temos, o feitio, a disposição, a cara e o corpo com que nascemos, as verdades que achamos; mandam tanto em nós estas coisas que nos dão que ficamos com pouco mais do que a vontade. A vontade e um coração acordado e estúpido, que pede como se tudo pudéssemos. Um coração cego e estúpido, que não vê que não podemos quase nada.
Aí está a razão da nossa tristeza permanente. Cada homem tem o corpo de um homem e o coração de um deus. E na diferença entre aquilo que sentimos e aquilo que acontece, entre o que pede o coração e não pode a vida,

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O Declínio da Natalidade

A mudança de relações entre pais e filhos é um exemplo típico da expansão geral da democracia. Os pais já não estão muito seguros dos seus direitos sobre os filhos, os filhos já não sentem que devem respeito aos pais. A virtude da obediência, que era outrora exigida sem discussão, passou de moda e com certa razão.
A psicanálise aterrorizou os pais cultos com o medo de causarem, sem querer, mal aos filhos. Se os beijam, podem provocar o complexo de Édipo; se não os beijam, podem provocar crises de ciúmes. Se os repreeendem em qualquer coisa, podem fazer nascer neles o sentimento do pecado; se não o fazem, os filhos adquirem hábitos que os pais consideram indesejáveis. Quando vêem as crianças a chupar no polegar, tiram disso toda a espécie de conclusões terríveis, mas não sabem o que fazer para o evitar. O uso dos direitos dos pais que era antigamente uma manifestação triunfante da autoridade, tornou-se tímido, receoso e cheio de escrúpulos.

Perderam-se as antigas alegrias simples e isto é tanto mais grave quanto é certo que, devido à nova liberdade das mulheres solteiras, a mãe tem de fazer muito mais sacrifícios do que antigamente ao optar pela maternidade.

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A Vida é um Hábito

O hábito é o balastro que prende o cão ao seu vómito. Respirar é um hábito. A vida é um hábito. Ou melhor, a vida é uma sucessão de hábitos, porque o indivíduo é uma sucessão de indivíduos […] «Hábito» é pois o termo genérico para os inúmeros contratos celebrados entre os inúmeros sujeitos que constituem o indivíduo e os seus inúmeros objectos correlativos. Os períodos de transição que separam as consecutivas adaptações […] representam as zonas perigosas na vida do indivíduo, perigosas, penosas, misteriosas e férteis, em que, por um momento, o tédio de viver é substituído pelo sofrimento de ser.

A Eterna Criação da Literatura

A literatura é um acontecimento completamente à parte. É um acontecimento que, de cada vez, recomeça de alto a baixo. É um acontecimento sem hábitos. No caso de um bom marceneiro, ou mesmo de um bom buscador de ouro, trata-se de refazer o que se fazia antes dele e – se for possível – contribuir com o seu pequeno aperfeiçoamento para a forma da mesa ou para o oco da bateia. Mas um jovem escritor não deve absolutamente ameliorar Proust, ou aperfeiçoar Claudel, completar Gide ou fazer um pequeno retoque a Valéry. Não, de modo algum. Cabe-lhe escrever como se nem Gide, nem Proust tivessem existido nunca.

O Sexo

Neste corpo, a densa neblina, quase um hábito,
lentamente descida, sedimento e sede,
subtilmente o acalma. Ancora que se desloca,
movediça e infirme. Só no olhar, além

da luz e da cal, se distinguem os desejos
e a mestria das palavras. E não há remos
nem astros. Convido a neblina a esta
mesa de chumbo, onde nada levanta o fogo

solar ou os signos se alteiam. É a hora
em que o corpo treme e a sombra lavra as frouxas
manhãs. O que serão as tardes, sob a névoa,

quando o vigor agoniza e o vão das águas abre
o caos e os ecos? Estaremos em paz,
usando a palavra, última herdeira das areias.

Os Dias Ricos

É bom ter um dia complicado se formos nós a complicá-lo, à medida que vamos andando. São os dias ricos. Nunca sabemos o que vamos fazer a seguir mas fazemos sempre qualquer coisa a seguir, para não interromper a cadeia.

Em vez de jantarmos em casa ou jantarmos fora, entramos num restaurante onde costumamos jantar e comemos apenas um petisco, um aperitivo. Os anfitriões também apreciam a mudança. É como ir cumprimentá-los.

Metemos conversa com um casal que só nos parece japonês porque queremos que seja, para lhes perguntar como preparam a massa Shirataki, que tem zero calorias. Perguntamos de onde são? Da Holanda, respondem. Os preconceitos, no sentido de pré-juízos ou pensamentos já feitos (na verdade, substitutos e obstáculos do conhecimento), são cada vez mais inúteis.

Os hábitos são diferentes. Para celebrá-los, nem é preciso esquecê-los ou trocá-los por alternativas, felizes ou desagradáveis. O melhor é interrompê-los e acrescentar-lhes desvios espontaneamente decididos que enaltecem, através da diversão, a felicidade subjacente.

Os dias ricos levam outro dia inteiro a contar. Só fazer a lista do que se fez cansa tão bem como nadar um quilómetro, devagarinho, num oceano vivo que nos consente.

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Ao Longo da Escrita deste Livro

No ano passado, em outubro, talvez a 27, sei que foi a uma terça-feira, a minha mãe incentivou-me a dar um passeio. Há muito que desistiu de me dissuadir dos livros, tanto lês que treslês, mas mantém o hábito de, cuidadosa, depois de bater à porta com pouca força, entrar no meu quarto e perguntar: não te apetece dar um passeio? Na maioria das vezes, não tenho disposição para lhe responder mas, nessa tarde, estava a meio de um capítulo altruísta e decidi fazer-lhe a vontade. O volante do carro, as minhas mãos a sentirem todas as pedras quase como se estivesse a deslizá-las na estrada. Estacionei no campo, a pouca distância de um grupo de homens e mulheres, botas de borracha, que estavam a apanhar azeitona. Espalhavam uma gritaria animada que não se alterou quando saí do carro e me aproximei, boa tarde. Uma vantagem do meu nome é que dispenso alcunha. Olha o Livro, boa tarde. O sol estava a pôr-se. Troquei graças, enquanto dois homens recolheram os panões carregados debaixo da última oliveira e os levaram às costas.
Não esqueço o que vi a seguir. As mulheres dobraram os panões vazios e dispuseram-nos na terra, em forma de corredor.

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É o Hábito Que Nos Persuade

É preciso não nos conhecermos mal: somos autómato, tanto quanto espírito, donde resulta que o instrumento pelo qual se faz a persuasão não é unicamente a demonstração. Quão poucas são as coisas demonstradas! As provas não convencem senão o espírito. O hábito dá-nos provas mais fortes e mais críveis; inclina o autómato, que arrasta o espírito, sem que ele o saiba. Quem demonstrou que amanhã será dia, e que morremos? E que existirá de mais crível? É, portanto, o hábito que nos persuade; é ele que faz tantos cristãos, que faz os maometanos, os pagãos, os artesãos, os soldados, etc.
Enfim, é preciso recorrer a ele depois de o espírito ter visto onde está a verdade, para nos dessedentar e nos impregnar dessa crença que nos escapa a todo o momento; pois ter as provas sempre presentes é por demais penoso. É mister adquirir uma crença mais fácil – a do hábito -, que, sem violência, sem artifício, sem argumento, nos faz crer nas coisas e predispõe todas as nossas faculdades para essa crença, de sorte que a nossa alma nela mergulhe naturalmente.Não basta crer pela força da convicção, quando o autómato está predisposto a crer o contrário. É preciso fazer com que as nossas duas partes creiam: o espírito,

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Muito pouco da grande crueldade mostrada pelos homens pode ser atribuída realmente a um instinto cruel. A maior parte dela é resultado da falta de reflexão ou de hábitos herdados.

O hábito de prestar atenção a pequenas coisas e de dar valor a pequenas cortesias é uma das marcas importantes de uma pessoa boa.

Sua existência foi tão completa e tão ligada à verdade que provavelmente na hora de entregar-se e findar, teria pensado, se tivesse o hábito de pensar: eu nunca fui.

Não diferimos uns dos outros senão pelos acessórios – pelo vestuário, pelas maneiras, tom de voz, opiniões religiosas, aparência pessoal, alguns hábitos e outras coisas do mesmo género.

Adeus

Sim, vou partir.
E não levo saudade
De ninguém
Nem em ti penso agora!
Julgavas que a tristeza desta hora
Fosse maior que a firme vontade
Que eu pus em destruir
O luminoso fio de ternura
Que me prendia ao teu olhar?
Julgaste mal:
Eu sei amar,
Mas meu amor
O que eu não sei
É ser banal!

Mas por que vim eu escrever-te ainda?
Nem eu sei!
Talvez somente
O hábito cortês da despedida
– e o hábito faz lei!

Choro?! Oh, sim , perdidamente!
Mas sabes tu, por que este pranto
Assim amargo e soluçado vem?
É que na hora da partida
Eu nunca pude sem chorar
Dizer adeus a ninguém!

Os Hábitos Embutidos

Já me não entendo com essa gente dos comboios suburbanos; esses homens que homens se julgam e que, no entanto, como as formigas, estão reduzidos, por uma pressão que não sentem, aos hábitos que lhes criam. Quando ociosos, em que ocupam eles os seus absurdos e insignificantes domingos?
Certa vez, na Rússia, ouvi tocar Mozart numa fábrica. Escrevi a esse respeito. Recebi duzentas cartas insultuosas. Não quero mal aos que preferem um reles café-concerto. Nenhuma outra harmonia eles conhecem. Mas abomino o dono do café-concerto. Não gosto que degradem os homens.