Passagens sobre Instituição

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Ser Português, Ainda

Para ser português, ainda, vive-se entre letras de poemas e esperanças, cantigas e promessas, de passados esquecidos e futuros desejados, sem presente, sem pensamento, sem Portugal. Para ser português, ainda, aprende-se a existir no gume da tristeza, como um equilibrista num andaime de navalhas levantadas, numa obra que se vai construindo sob uma arquitectura de demolição. Tínhamos direito a um Portugal inteiro, com povo e com a terra, mas o povo enlouqueceu e a terra foi arrasada e tudo o que era pátria, doce e atrevida, se afasta à medida que olhamos para ela, tal é a ânsia de apagamento e de perdição. Restam-nos sons e riscos. Portugal encolheu-se. Escondeu-se nos poetas e cantores. Recolheu-se nas vozes fundas de onde nasceu. Portugal abrigou-se em portugueses e portuguesas nos quais uma ideia de Portugal nunca se perdeu.

Para se ser português, ainda, é preciso estreitar os olhos e molhar a garganta com vinho tinto para poder gritar que isto assim não é Portugal, não é país, não é nada. Torna-se cada vez mais difícil que o povo e a terra e a ideia se possam alguma vez reunir.
É preciso defender violentamente as instituições: a Universidade, o Parlamento,

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O Cuidado pela Posteridade é Maior naqueles que não Deixam Posteridade

As alegrias dos pais são secretas, como também o são os desgostos e os receios: não sabem exprimir as primeiras, não querem exprimir os segundos. As crianças tornam mais suaves os nossos trabalhos, mas tornam amargas as nossas desgraças; acrescem os cuidados da vida, mas mitigam a lembrança da morte. A perpetuidade pela geração é comum aos animais; mas a glória, o mérito, e os nobres feitos são próprios do homem. E certamente observar-se-á que as obras e as instituições mais nobres provêm de homens sem filhos, homens que transmitiram as imagens do seu espírito, já que não transmitiram as dos seu corpo. Assim o cuidado pela posteridade é maior naqueles que não deixam posteridade.

Existência, Corpo e Costumes, Como Eixos do Gosto

Na nossa actual maneira de ser, a nossa alma aprecia três tipos de prazer: aqueles que ela retira do próprio fundo da sua existência; outros que resultam da sua união com o corpo; e por fim, outros que radicam nos costumes e preconceitos que certas instituições, certos usos e certos hábitos lhe levam a apreciar.
São esses diferentes prazeres da nossa alma que constituem os objectos do gosto, como o belo, o bom, o agradável, o cândido, o delicado, o terno, o gracioso, o não sei o quê, o nobre, o grande, o sublime, o majestoso, etc. Por exemplo, quando sentimos prazer ao ver uma coisa que possui uma utilidade para nós, dizemos que ela é boa; quando sentimos prazer ao vê-la, sem dela abstrairmos uma utilidade manifesta, chamamo-la bela.

Estou convencido de que a ‘tarefa primordial’ das instituições humanas, dentre as quais também o progresso, seja aquela de não apenas preservar os homens de sofrimentos inúteis e da morte precoce, mas também de conservar no homem toda a sua humanidade: a satisfação do trabalho desenvolvido com a inteligência das mãos e da mente, a satisfação de ajudar-se mutuamente e de um relacionamento feliz com os homens e com a natureza, a satisfação do conhecimento da arte.

Toda a coexistência pacífica dos homens se baseia, em primeiro lugar, na mútua confiança, e só em segundo lugar em instituições tais como tribunais e polícia; isto vale para as nações tanto como para os indivíduos isoladamente. A confiança, porém, baseia-se numa relação leal do «give and take» isto é, «dar e receber».

O casamento é uma grande instituição, mas eu não estou preparada para as instituições.

A Voltinha é uma Instituição Nacional

Agora que os Portugueses voltam a casar-se pela Igreja e a fazer juramentos solenes de fidelidade onde prometem que não irão enganar os cônjuges (mesmo que os cônjuges fiquem intoleravelmente leprosos ou maçadores ou miseráveis), as pessoas têm de saber enfrentar as facilidades, dificuldades e dúvidas da fidelidade.
Por exemplo, «a voltinha» é uma instituição nacional. Dar «uma voltinha» com alguém não é andar com alguém — é «ver como anda».
Como quem dá uma voltinha ao quarteirão na motocicleta do padeiro. Monta-se, pega-se de empurrão, dá-se a voltinha, desmonta-se e desliga-se. «Chegaste a andar com ele?», pergunta uma parola mais curta. «És parva!, — responde a mais alta, — dei só uma voltinha!».
A ideia é que a voltinha «não vale». Não se fala, não se paga, não se recorda, não se conta; enfim, «não conta». As voltinhas estão para as relações humanas como os brindes da Juá para o sistema económico português: não entram no orçamento. Quando se vai «dar uma voltinha» com alguém, não se vai nem com muita vontade nem com muita pressa — vai-se. Não faz sentido dizer que se «deseja» dar uma voltinha com alguém. As voltinhas não são o resultado de grandes planos e seduções — «proporcionam-se» (eis o verbo moderno mais estúpido).

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O Paradoxo da Sociedade totalmente Livre

A pessoa ou instituição que encarregamos de nos tornar felizes têm o direito de se queixarem se lhes recordarmos que, apesar de tudo, continuamos livres e senhores de recalcitrar. Tudo o que não conseguimos realizar sós, diminui a nossa liberdade. O doente nas mãos do médico é como a sociedade nas mãos do salvador – herói ou partido.
Como? Encarregamo-nos de organizar a sociedade – isto é, vós próprios, e depois, pretendeis continuar livres.
Precisamente porque não existe sociedade económica pura, toda a organização científica da economia contém em si a afirmação de uma mística – quer dizer, um credo estatal que atinge também a vida interior, e, assim como o organizador deve eliminar toda a heterodoxia económica, terá igualmente de eliminar as heterodoxias interiores.
Uma sociedade inteiramente orientada do ponto de vista económico e totalmente livre espiritualmente é uma contradição.

As Instituições São Degenerativas

Quem faz uma religião não sabe o que faz. Por pouco diria a mesma coisa a respeito daqueles que fundam as grandes instituições humanas, ordens monásticas, companhias de seguros, guarda nacional, bancos, sindicatos, academias e conservatórios, sociedades de ginástica de beneficência e de de conferências. Estes estabelecimentos, comumente, não correspondem durante muito tempo às intenções dos seus fundadores e acontece às vezes que se tornam coisas completamente opostas.

Importa Procurar o Perigo

Não estamos nós na maior pobreza onde mais seguros estamos, na maior riqueza onde estamos em maior perigo – não é voltar sempre a procurar o perigo que importa; não existe um hálito de morte e de putrefacção em torno de todas as instituições em que a vida é descurada e preterida pelo mecanismo da vida, tais as repartições públicas, as escolas oficiais, o funcionamento assegurado dos sacerdotes, etc.?

Governos Apostados em Errar

Entre nós tem-se visto governos que parecem absurdamente apostados em errar, errar de propósito, errar sempre, errar em tudo, errar por frio sistema. Há períodos em que um erro mais ou um erro menos realmente pouco conta. No momento histórico a que chegámos, porém, cada erro, por mais pequeno, é um novo golpe de camartelo friamente atirado ao edifício das instituições; mas ao mesmo tempo tal é a inquietação que todos temos do futuro e do desconhecido que cada acerto, cada bom acerto é uma estaca mais, sólida e duradoura, para esteiar as instituições. Toda a dúvida está em saber se ainda há ou se já não há, em Portugal, um governo capaz de sinceramente se compenetrar desta grande, desta irrecusável verdade.

O Crime da Palavra

Nenhum código, nenhuma instituição humana pode prevenir o crime moral que mata com uma palavra. Nisso consta a falha das justiças sociais; aí está a diferença que há entre os costumes da sociedade e os do povo; um é franco, outro é hipócrita; a um, a faca, à outra, o veneno da linguagem ou das ideias; a um a morte, à outra a impunidade.

A Plenitude de Realização Humana está Fora da Sabedoria

O homem mais perfeitamente educado por um mestre foi Stuart Mill. Aos vinte anos de idade ele tinha aprendido com James Mill, seu pai, tudo quanto a ciência pode ensinar a um sábio e a um filósofo. E todavia Stuart Mill conta-nos na sua autobiografia que, ao perguntar um dia a si mesmo se seria feliz, uma vez realizadas nas instituições e nas ideias todas as reformas que ele projectava criar, a sua consciência lhe respondera: não. «Senti-me então desfalecer, – diz ele; todas as fundações sobre que se tinha arquitectado a minha vida se desmoronaram de repente.» Mais tarde ele sentiu a dor, sentiu depois o amor, o amor apaixonado, absorvente, enorme, dominando todo o seu ser, submetendo a força dissolvente da análise; e foi só então que ele se sentiu homem, revivendo para a natureza, forte da grande força que a natureza lhe comunicava, equilibrado para sempre no seu destino, cingido ao coração palpitante de uma mulher que ele amou – ele o sábio, o filósofo, o reformador frio e implacável – com o amor illimitado, entusiástico, cavalheiresco, que as velhas lendas líricas atribuem aos grandes amantes célebres.

Desigualdade Natural e Desigualdade Institucional

É fácil de ver que, entre as diferenças que distinguem os homens, muitas passam por naturais, quando são unicamente a obra do hábito e dos diversos géneros de vida adoptados pelos homens na sociedade. Assim, num temperamento robusto ou delicado, a força ou a fraqueza que disso dependem, vêm muitas vezes mais da maneira dura ou efeminada pela qual foi educado do que da constituição primitiva dos corpos. Acontece o mesmo com as forças do espírito, e a educação não só estabelece a diferença entre os espíritos cultivados e os que não o são, como aumenta a que se acha entre os primeiros à proporção da cultura; com efeito, quando um gigante e um anão marcham na mesma estrada, cada passo representa uma nova vantagem para o gigante. Ora, se se comparar a diversidade prodigiosa do estado civil com a simplicidade e a uniformidade da vida animal e selvagem, em que todos se nutrem dos mesmos alimentos, vivem da mesma maneira e fazem exactamente as mesmas coisas, compreender-se-á quanto a diferença de homem para homem deve ser menor no estado de natureza do que no de sociedade; e quanto a desigualdade natural deve aumentar na espécie humana pela desigualdade de instituição.

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O Poder da Indústria Cultural

O poder magnético que sobre os homens exercem as ideologias, embora já se lhes tenham tornado decrépitas, explica-se, para lá da psicologia, pelo derrube objectivamente determinado da evidência lógica como tal. Chegou-se ao ponto em que a mentira soa como verdade, e a verdade como mentira. Cada expressão, cada notícia e cada pensamento estão preformados pelos centros da indústria cultural. O que não traz o vestígio familiar de tal preformação é, de antemão, indigno de crédito, e tanto mais quanto as instituições da opinião pública acompanham o que delas sai com mil dados factuais e com todas as provas de que a manipulação total pode dispor. A verdade que intenta opor-se não tem apenas o carácter de inverosímil, mas é, além disso, demasiado pobre para entrar em concorrência com o altamente concentrado aparelho da difusão.

O Homem Deveria ser a Medida de Tudo

O homem deveria ser a medida de tudo. De facto, ele é um estranho no mundo que criou. Não soube organizar este mundo para ele, porque não possuía um conhecimento positivo da sua própria natureza. O enorme avanço das ciências das coisas inanimadas em relação às dos seres vivos é, portanto, um dos acontecimentos mais trágicos da história da humanidade. O meio construído pela nossa inteligência e pelas nossas intenções não se ajusta às nossas dimensões nem à nossa forma. Não nos serve. Sentimo-nos infelizes. Degeneramos moralmente e mentalmente.
São precisamente os grupos e as nações em que a civilização industrial atingiu o apogeu que mais enfraquecem. Neles, o retorno à barbárie é mais rápido. Permanecem sem defesa perante o meio adverso que a ciência lhes forneceu. Na verdade, a nossa civilização, tal como as que a antecederam, criou condições em que, por razões que não conhecemos exactamente, a própria vida se torna impossível. A inquietação e a infelicidade dos habitantes da nova cidade têm origem nas instituições políticas, económicas e sociais, mas sobretudo na sua própria degradação. São vítimas do atraso das ciências da vida em relação às da matéria.

Quem Quiser Acabar com a Guerra

Quem quiser, de facto, acabar com a guerra tem que intervir resolutamente para que o Estado a que pertence renuncie a uma parte da sua soberania a favor de instituições internacionais; deve estar pronto a submeter o próprio Estado, em caso de qualquer conflito, à arbitragem dum Tribunal internacional; tem de intervir com toda a decisão para que todos os Estados procedam ao desarmamento, conforme está previsto até mesmo no desgraçado tratado de Versalhes; nenhum progresso poderá esperar-se se não for suprimida a educação militar e patriótica — no sentido agressivo — do povo.
Nenhum outro acontecimento dos últimos anos foi mais vergonhoso para os Estados actualmente mais considerados, que o malogro das anteriores conferências de desarmamento; pois esse malogro não assenta apenas nas intrigas de estadistas ambiciosos e sem escrúpulos, mas também na indiferença e falta de energia dos homens de todos os países. Se isto não se modificar, destruiremos o que os nossos antepassados criaram de verdadeiramente valioso.

Caridade Hipócrita

Nos últimos tempos, preocupava-o sobretudo as misérias das classes – por sentir que nestas democracias industriais e materialistas, furiosamente empenhadas na luta pelo pão egoísta, as almas cada dia se tornavam mais secas e menos capazes de piedade.
«A Fraternidade (dizia ele numa carta de 1886, que conservo) vai-se sumindo, principalmente nestas vastas colmeias de cal e pedra onde os homens teimam em se amontoar e lutar; e, através do constante deperecimento dos costumes e das simplicidades rurais, o Mundo vai rolando a um egoísmo feroz. A primeira evidência deste egoísmo é o desenvolvimento ruidoso da filantropia. Desde que a caridade se organiza e se consolida em instituição, com regulamentos, relatórios, comités, sessões, um presidente e uma campainha, e do sentimento natural passa a função oficial – é porque o homem, não contando já com os impulsos do seu coração, necessita obrigar-se publicamente ao bem pelas prescrições dum estatuto.Com os corações assim duros e os Invernos tão longos, que vai ser dos pobres?…»