A Imaginação é a Base do Homem
De tal modo a imaginação Ć© a base do homem ā Joana de novo ā que todo o mundo que ele tem construĆdo encontra sua justificativa na beleza da criação e nĆ£o na sua utilidade, nĆ£o em ser o resultado de um plano de fins adequados Ć s necessidades. Por isso Ć© que vemos multiplicarem-se os remĆ©dios destinados a unir o homem Ć s ideias e instituiƧƵes existentes ā a educação, por exemplo, tĆ£o difĆcil ā e vemo-lo continuar sempre fora do mundo que ele construiu. O homem levanta casas para olhar e nĆ£o para nelas morar. Porque tudo segue o caminho da inspiração. O determinismo nĆ£o Ć© um determinismo de fins, mas um estreito determinismo de causas. Brincar, inventar, seguir a formiga atĆ© seu formigueiro, misturar Ć”gua com cal para ver o resultado, eis o que se faz quando se Ć© pequeno e quando se Ć© grande. Ć erro considerar que chegamos a um alto grau de pragmatismo e materialismo. Na verdade o pragmatismo ā o plano orientado para um dado fim real ā seria a compreensĆ£o, a estabilidade, a felicidade, a maior vitória de adaptação que o homem conseguisse. No entanto fazer as coisas Ā«para quĆŖĀ» parece-me, perante a realidade, uma perfeição impossĆvel de exigir do homem. O inĆcio de toda sua construção Ć© “porquĆŖ”. A curiosidade, o devaneio, a imaginação ā eis o que formou o mundo moderno. Seguindo a inspiração, misturou ingredientes, criou combinaƧƵes. Sua tragĆ©dia: ter que se alimentar com elas. Confiou em que pudesse imaginar numa vida e encontrar-se noutra, aparte. De facto essa outra continua, mas sua purificação sobre o imaginado age lentamente e um homem sozinho nĆ£o encontra o pensamento tonto de um lado e a paz da vida verdadeira noutro. NĆ£o se pode pensar impunemente.