Textos sobre Ação

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Textos de ação escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

A Influência das Ilusões nas Nossas Vidas

Traçar o papel das ilusões na génese das opiniões e das crenças seria refazer a história da humanidade. Da infância à morte, a ilusão envolve-nos. Só vivemos por ela e só ela desejamos. Ilusões do amor, do ódio, da ambição, da glória, todas essas várias formas de uma felicidade incessantemente esperada, mantêm a nossa actividade. Elas iludem-nos sobre os nossos sentimentos e sobre os sentimentos alheios, velando-nos a dureza do destino.
As ilusões intelectuais são relativamente raras; as ilusões afectivas são quotidianas. Crescem sempre porque persistimos em querer interpretar racionalmente sentimentos muitas vezes ainda envoltos nas trevas do inconsciente. A ilusão afectiva persuade, por vezes, que entes e coisas nos aprazem, quando, na realidade, nos são indiferentes. Faz também acreditar na perpetuidade de sentimentos que a evolução da nossa personalidade condena a desaparecer com a maior brevidade.
Todas essas ilusões fazem viver e aformoseiam a estrada que conduz ao eterno abismo. Não lamentemos que tão raramente sejam submetidas à análise. A razão só consegue dissolvê-las paralisando, ao mesmo tempo, importantes móbeis de acção. Para agir, cumpre não saber demasiado. A vida é repleta de ilusões necessárias.
Os motivos para não querer multiplicam-se com as discussões das coisas do querer.

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As Restrições dos Guardiões Morais

Parece-me a mim que o pressuposto em que se baseiam as acções restritivas dos nossos guardiões morais é simplesmente o de que o acesso à literatura proibida nos pode levar a comportar-se como animais. Mas pensar assim é insultar o reino animal. E, ao mesmo tempo, transformar paixão, o maior atributo do homem, numa caricatura. A gama da paixão humana é quase ilimitada, atingindo alturas e profundidades impensáveis. Precisamente por abarcar tais extremos é a paixão a autêntica pedra de toque da nossa humanidade, e talvez também da nossa divindade. De todas as criaturas da terra, o homem é a única de comportamento imprevisível. Há em nós alguma coisa de toda a criação. Quando nos é negada a menor parcela de liberdade, ficamos espiritualmente limitados e mutilados. É a plena consciência da nossa natureza múltipla e a integração da miríade de elementos de que somos compostos que nos faz completos, que nos faz humanos. A religião faz de nós santos, ou apenas bons cidadãos, mas o que faz de nós homens, o que nos faz humanos até ao âmago, é a liberdade. É uma palavra terrível, a liberdade, para aqueles que viveram toda a vida mentalmente algemados.

A Subjectividade dos Comportamentos

Podemos ter para com as coisas que nos acontecem ou que fazemos uma atitude mais geral ou mais pessoal. Podemos sentir uma pancada não apenas como dor, mas também como ofensa, e neste caso ela torna-se cada vez mais insuportável; mas também aceitá-la desportivamente, como um obstáculo que não nos intimidará nem nos arrastará para uma ira cega, e então não é raro nem sequer darmos por ela. Neste segundo caso, porém, o que aconteceu foi apenas que integrámos essa pancada num contexto mais geral, o do combate, e em função disso a natureza do golpe revelou-se dependente da tarefa que tem de desempenhar. E precisamente este fenómeno, que leva a que um acontecimento receba o seu significado, e mesmo o seu conteúdo, mediante a sua inserção numa cadeia de acções consequentes, produz-se em todos os indivíduos que não o encaram apenas como acontecimento pessoal, mas como desafio à sua capacidade intelectual.
Também ele será mais superficialmente afectado nas suas emoções pelo que faz. Mas, estranhamente, aquilo que se vê como sinal de inteligência superior num pugilista é visto como frieza e insensibilidade em pessoas que não sabem de boxe e nas quais isso se deve à sua inclinação para uma determinada forma de vida intelectual.

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O Maior Triunfo do Homem

O maior triunfo do homem é quando se convence de que o ridículo é uma coisa sua que existe só para os outros, e, mesmo, sempre que outros queiram. Ele então deixa de importar-se com o ridículo, que, como não está em si, ele não pode matar.

Três coisas tem o homem superior que ensinar-se a esquecer para que possa gozar no perfeito silêncio a sua superioridade – o ridículo, o trabalho e a dedicação.
Como não se dedica a ninguém, também nada exige da dedicação alheia. Sóbrio, casto, frugal, tocando o menos possível na vida, tanto para não se incomodar como para não aproximar as coisas de mais, a ponto de destruir nelas a capacidade de serem sonhadas, ele isola-se por conveniência do orgulho e da desilusão. Aprende a sentir tudo sem o sentir directamente; porque sentir directamente é submeter-se – submeter-se à acção da coisa sentida.

Vive nas dores e nas alegrias alheias, Whitman olímpico, Proteu da compreensão, sem partilhar de vivê-las realmente. Pode, a seu talante, embarcar ou ficar nas partidas de navios e pode ficar e embarcar ao mesmo tempo, porque não embarca nem fica. Esteve com todos em todas as sensações de todas as horas da sua vida.

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A Cultura não se Enquadra na Totalidade Política

A cultura nunca poderá ser um factor estratégico de mudança. Se é estratégia, não é cultura. Faz-se apelo à cultura como estratégia de mudança, tentando resolver a condição perturbadora do homem culto, munido de culpabilidade inconsciente, ou simplesmente isento da culpabilidade pelo sofrimento. Isso não é possível. A cultura não se enquadra na totalidade política. Há um grave mal-entendido quanto a isso. A cultura não significa o conforto da neutralidade, a irónica graduação da expectativa, a ginástica do não-compomisso. Significa um enraizamento em si mesmo, que conserva no homem a faculdade de julgar. Não é contrária à acção, mas é condição necessária para que a acção seja serena e útil, e não impaciente e desordenada. Não se trata de racismo espiritual; não se trata da pretensão de existir à parte da história política do mundo. É a intenção absolutamente necessária de ser livre, face aos acontecimentos, qualquer que seja a lógica que os liga. A cultura é o que identifica um povo com a sua finalidade.

As Opiniões

Quando me manifestei com tanto ardor contra a opinião, estava ainda sob o seu jugo, sem me aperceber. Queremos ser estimados pelas pessoas que estimamos e, enquanto pude julgar favoravelmente os homens, ou pelo menos certos homens, os juízos que eles faziam a meu respeito não me podiam ser indiferentes. Via que os juízos do público são muitas vezes justos; mas não via que essa justiça resultava do acaso, que as regras sobre as quais os homens fundamentam as suas opiniões são extraídas apenas das suas paixões ou dos seus preconceitos, que provêm deles, e que, mesmo quando ajuizam bem, é frequente que esses bons juízos nasçam de um mau princípio, como acontece quando fingem honrar, a propósito de algum sucesso, o mérito de um homem, não por espírito de justiça, mas para se dar ares de imparcialidade, ao mesmo tempo que caluniam à vontade esse homem relativamente a outros pontos.
Quando, porém, após longas e vãs pesquisas, vi que todos eles, sem excepção, se mantinham dentro do sistema mais iníquio e absurdo que um espírito infernal pode inventar; quando vi que, a meu respeito, a razão fora banida de todas as cabeças e a justiça de todos os corações;

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A Corrosão da Exposição Pública

A vida de todas as nascentes profundas decorre com vagar; têm de esperar muito tempo antes de saber o que caiu nas suas profundezas. Tudo o que é grande foge da praça pública e da fama: é longe da praça e da fama que sempre viveram os inventores de novos valores.
Foge, meu amigo, refugia-te na tua solidão! Vejo-te aguilhoado pelas moscas venenosas. Refugia-te onde sopre um vento rijo e forte!
Refugia-te na tua solidão! Viveste muito perto dos pequenos e dos miseráveis. Foge da sua vingança invisível! A teu respeito só têm um sentimento, o rancor.
Não levantes mais a mão contra eles! São inumeráveis; o teu destino não é ser enxota-moscas!
São inumeráveis, esses pequenos, esses miseráveis; e já se viram altivos edifícios reduzidos a escombros pela acção das gotas da chuva e das ervas daninhas.

Conquista e Governação

Quando os estados que se conquistam têm a tradição de viver segundo as suas leis e em liberdade, para a sua conservação existem três opções: a primeira é a sua destruição; a segunda é ir para lá viver o príncipe conquistador; e a terceira consiste em deixá-los viver de acordo com as suas leis, mas exigindo-lhes um tributo e criando no seu seio uma oligarquia que vos garanta a sua fidelidade. Porque, sendo este novo poder uma criação daquele príncipe, sabem os seus mandatários que não podem sobreviver sem a sua amizade e apoio, tudo havendo de fazer para manter o novo regime. E mais facilmente se conserva uma cidade habituada a viver livre através do consenso dos seus cidadãos do que de qualquer outro modo.
(…) Na verdade, o único modo seguro de conservar uma cidade conquistada é a sua destruição. Quem se torna senhor de uma cidade habituada a viver livre e a não desfaça, pode preparar-se para ser por ela desfeito, porque sempre encontrarão grande receptividade no seio da rebelião a recordação da liberdade e das antigas instituições, as quais nem pela acção do tempo nem pela concessão de benesses se apagarão da sua memória. O que quer que se faça ou se disponha,

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A Felicidade na Perseverança

Meu bem-amado Lucílio, conjuro-te a tomar o único partido que pode garantir a felicidade. Dispersa e pisoteia os esplendores de fora, as suas promessas, os seus lucros; volta o olhar para o vero bem; sê feliz mercê do teu próprio cabedal. Qual é esse cabedal? Tu mesmo, e a melhor parte de ti. Este pobre corpo esforça-se por ser nosso colaborador indispensável; considera-o antes um objecto necessário do que importante. Ele procura os prazeres vãos, breves, seguidos de descontentamento e destinados, se uma grande moderação não os tempera, a passarem para o estado oposto. Sim, sim, o prazer está à beira de um declive: inclina-se para o sofrimento quando deixa de observar o justo limite. Ora, observar tal limite é difícil em relação àquilo que se acreditou fosse um bem. O ávido desejo do verdadeiro bem não oferece risco algum.
Em que consiste o verdadeiro bem – quereis saber – e qual é a fonte de onde emana?

Eu to direi: é a boa consciência, as intenções virtuosas, as rectas acções, o desprezo pelos eventos fortuitos, o desenvolvimento tranquilo e regular de uma existência que anda por um só caminho. Quanto a esses homens que vão de desejo em desejo,

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O Instinto Trabalhado

Só pode inspirar a acção, servir de credo, o pensamento que se tenha tornado maquinal, instintivo. Perigo de nos analisarmos demasiadamente: as veias vivas do temperamento ficam, dessa maneira, excessivamente dilucidadas e tornadas maquinais, devido à familiaridade. O que é preciso, pelo contrário, é a arte de dar livre curso aos impulsos espirituais, deixando-os agir, mecanicamente, sob o estímulo. Há o manual do catecismo – por de mais conhecido e postiço – e o maquinal do instinto. É preciso favorecer, explorar, reconhecer e apoiar o instinto, sem lhe roubar o vigor por meio da reflexão. Mas é preciso reflectir nele, para o acompanhar na acção e substituí-lo nos momentos de surdez.

O Acto de Produzir Levado ao Limite

Ao longo da vida, acontece muitas vezes que, em meio das nossas maiores certezas, notamos subitamente que estamos a ser vítimas de um erro e que fomos cativados por pessoas ou por coisas com as quais sonhámos uma relação que não resiste ao olhar atento da vigília. E acontece também que, apesar de tudo, não somos capazes de nos desprender, como se fôssemos retidos por uma força que nos parece inexplicável. Mas por vezes atingimos uma consciência plena destas situações e compreendemos que, tanto quanto uma verdade, um erro pode motivar-nos e conduzir-nos a uma certa actividade.
E, como a acção comporta sempre decisões, um erro posto em acção pode muito bem dar origem a qualquer coisa de bom, se a eficácia desse fazer se estender até ao infinito. O acto de produzir é sem dúvida o que temos de melhor, mas do que fica dito compreende-se que também o acto de destruir não deixa de ter consequências benéficas.

A Ambição de Eternidade

Fazer… A memória dos deuses, agora que se nos desfez como forma de um refúgio, de uma justificação, reinventa em nós o sonho do seu poder: criar é afirmar no homem o sonho de divinização. Criar um império, uma obra de arte, um filho, um arranjo de saber, um novo apara-lápis… E à ambição de impor ao mundo uma nova ordem, ao desejo angustiado de nos furtarmos a um domínio universal, de nos afirmarmos únicos, nós juntamos a pequena ambição de sermos eternos.

Como se a nossa vida não fosse irredutível e o objecto que se desprende das nossas mãos, comparticipando da nossa presença, do calor do nosso sangue, comparticipasse também da nossa consciência… Mas a pessoa que somos e sabemos, a presença de nós é em nós que nos morre.

E depois, meu amigo, enquanto temos um instrumento na mão, não sabemos que temos um instrumento na mão… Todo o gesto, enquanto tal, enquanto se executa, limita-se em si mesmo, esquece a sua origem: toda a acção trai a força que a georu, porque ela é em si própria um princípio e um fim.

Somos Todos Corruptíveis

A faculdade de se deixar corromper no sentido mais amplo do termo é uma particularidade da espécie humana em geral; mais ainda, as relações entre os homens só são possíveis porque somos todos corruptíveis em maior ou menor grau. Cada vez que dependemos do amor, da benevolência, da simpatia ou simplesmente da delicadeza, estamos já no fundo corrompidos, e o nosso juízo nunca é, por isso, verdadeiramente objectivo; e ele é-o tanto menos quanto nos esforçamos por permanecer incorruptíveis.
A corruptibilidade está longe de se limitar à estrita relação de pessoa a pessoa; uma obra, uma acção, um gesto pode lisonjear-nos confirmando o nosso amor próprio, as nossas opiniões ou a nossa impressão sobre o mundo.
É apenas quando utilizamos conscientemente a corruptibilidade dos outros para nossa vantagem pessoal ou em detrimento de um terceiro, que ela é um mal, mas a falta é então mais nossa do que daquele cuja corruptibilidade nos beneficia.

Um Mundo Melhor

Tal como existem muitas formas de vida, também existem inúmeras formas de viver. A minha predileta e aquela onde, por incrível que pareça, assento a minha paz, contém o ingrediente que mais potencia as emoções, o risco. O risco é a graça da vida, é aventura, é o desconhecido, é a busca e a mais valiosa oportunidade para cresceres e te desenvolveres como ser consciente.

Quando foi a última vez que arriscaste?
O que é que sentiste?
Percebeste que, correndo bem ou mal, o risco é a viagem e nunca o resultado?
Continuaste a arriscar nessa ou noutras áreas da tua vida?
O risco está associado à ação, à coragem, ao prazer, à paixão pela vida, à entrega no «Agora» e implica o abandono do sofá, da rotina doentia em que escolheste movimentar-te e dos padrões em que cresceste.

Chamam-me louco, eu respondo-lhes que vivem pouco. Sou um homem feliz, ainda que, como qualquer ser humano, viva com alguns preconceitos espontâneos, medos súbitos e frustrações pontuais. Sou, também, alguém com experiência em ajudar pessoas… humm, ajudar, não! Dirigir soa melhor e é, igualmente, mais real. Promovo-lhes, através da minha experiência em coaching,

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Examinai todas as acções que se fazem debaixo do sol; na verdade

Examinai todas as acções que se fazem debaixo do sol; na verdade, não passam de vaidade e correr atrás do vento.

Não amemos de palavras nem de língua, mas por acções e em verdade

Não amemos de palavras nem de língua, mas por acções e em verdade.

O Juízo Final

Chegou o miserável milionário no céu e, impacientemente, esperou a sua vez de ser julgado. Introduziram-no numa sala, noutra sala, noutra sala, até que se viu frente a uma luz ofuscante, na qual pouco a pouco foi dintinguindo a figura santa do pai dos Homens. Em voz tonitroante este, tendo à direita, Pedro, e, à esquerda, uma figura que ele não conhecia, julgou sumariamente dois outros pecadores que estavam à sua frente. E, afinal, dirigiu-se a ele:
– Que fez você de bom na sua vida ?
– Bem, eu nasci, cresci, amei, casei, tive filhos, vivi.
– Ora – disse o Senhor – isso são actos sociais e biológicos a que você estava destinado. Quero saber que bondade específica e determinada você teve para com o seu semelhante.
– Bem – disse o milionário – eu criei indústrias, comprei fazendas, dei emprego a muita gente, melhorei as condições sociais de muita gente.
– Não, isso não serve – disse o Todo-Poderoso – essas acções estavam implícitas ao acto de você enriquecer. Você as praticou porque precisava viver melhor. Não foram intrinsecamente boas acções, desprendidas, não servem.
O milionário escarafunchou o cérebro e não encontrou nada.

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O Orgulho e a Vaidade

O orgulho é a consciência (certa ou errada) do nosso próprio mérito, a vaidade, a consciência (certa ou errada) da evidência do nosso próprio mérito para os outros. Um homem pode ser orgulhoso sem ser vaidoso, pode ser ambas as coisas, vaidoso e orgulhoso, pode ser — pois tal é a natureza humana — vaidoso sem ser orgulhoso. É difícil à primeira vista compreender como podemos ter consciência da evidência do nosso mérito para os outros, sem a consciência do nosso próprio mérito. Se a natureza humana fosse racional, não haveria explicação alguma. Contudo, o homem vive a princípio uma vida exterior, e mais tarde uma interior; a noção de efeito precede, na evolução da mente, a noção de causa interior desse mesmo efeito. O homem prefere ser exaltado por aquilo que não é, a ser tido em menor conta por aquilo que é. É a vaidade em acção.

Ouvi-los a Todos, no Silêncio

Detesto a acção. A acção mete-me medo. De dia podo as minhas árvores, à noite sonho. Sinto Deus – toco-o. Deus é muito mais simples do que imaginas. Rodeia-me – não o sei explicar. Terra, mortos, uma poeira de mortos que se ergue em tempestades, e esta mão que me prende e sustenta e que tanta força tem…
Como em ti, há em mim várias camadas de mortos não sei até que profundidade. Às vezes convoco-os, outras são eles, com a voz tão sumida que mal a distingo, que desatam a falar. Preciso da noite eterna: só num silêncio mais profundo ainda, conto ouvi-los a todos.