Passagens sobre Desconhecidos

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Nenhum pessimista descobriu jamais o segredo das estrelas, ou navegou numa terra desconhecida, ou abriu uma nova porta para o espírito humano.

Para sermos felizes, devemos deixar de lado a certeza da nossa breve existência. Precisamos nos considerar como parte de uma corrente contínua que corre desde o primeiro germe até um futuro remoto e desconhecido.

A Inutilidade do Viajar

Que utilidade pode ter, para quem quer que seja, o simples facto de viajar? Não é isso que modera os prazeres, que refreia os desejos, que reprime a ira, que quebra os excessos das paixões eróticas, que, em suma, arranca os males que povoam a alma. Não faculta o discernimento nem dissipa o erro, apenas detém a atenção momentaneamente pelo atractivo da novidade, como a uma criança que pasma perante algo que nunca viu! Além disso, o contínuo movimento de um lado para o outro acentua a instabilidade (já de si considerável!) do espírito, tornando-o ainda mais inconstante e incapaz de se fixar. Os viajantes abandonam ainda com mais vontade os lugares que tanto desejavam visitar; atravessam-nos voando como aves, vão-se ainda mais depressa do que vieram. Viajar dá-nos a conhecer novas gentes, mostra-nos formações montanhosas desconhecidas, planícies habitualmente não visitadas, ou vales irrigados por nascentes inesgotáveis; proporciona-nos a observação de algum rio de características invulgares, como o Nilo extravasando com as cheias de Verão, o Tigre, que desaparece à nossa vista e faz debaixo de terra parte do seu curso, retomando mais longe o seu abundante caudal, ou ainda o Meandro, tema favorito das lucubrações dos poetas, contorcendo-se em incontáveis sinuosidades,

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Os Amantes de Pompeia

Eles conheceram-se neste abraço
em que levam tanto tempo,
embalados na cadência,

de uma canção desconhecida
e no mover das mãos que hesitam
entre o animal e a planta.
O tempo privou-os de vida
mas não um do outro, tangíveis
nos membros onde o desejo

lateja ainda,
gestos como medusas esvaindo-se
no sangue em que se fundiram para sempre.

Geraram esta outra placenta
com a urgência de quem sabe
que bebe em cada trago despedida:

lenta colheita da alma
que palidamente assoma
em cada poro,

subtil, alada, como pluma
que sem ser vista
se solta.
Neste abraço que os reteve até à sufocação,
depois que se abateram o céu e o horizonte,
o mundo foi-lhes langor

e memória acesa;
petrificados, mortos,
estão diante do nosso olhar,

na posição aflita em que os une,
mais que o esterno e a pelve,
o duplo receio da imortalidade.

Mater Originalis

Forma vermicular desconhecida
Que estacionaste, mísera e mofina,
Como quase impalpável gelatina,
Nos estados prodrômicos da vida;

O hierofante que leu a minha sina
Ignorante é de que és, talvez, nascida
Dessa homogeneidade indefinida
Que o insigne Herbert Spencer nos ensina.

Nenhuma ignota união ou nenhum nexo
A contingência orgânica do sexo
A tua estacionária alma prendeu…

Ah! de ti foi que, autônoma e sem normas,
Oh! Mãe original das outras formas,
A minha forma lúgubre nasceu!

Debaixo das Oliveiras

Este foi o mês em que cantei
dentro de minha casa
debaixo
das oliveiras.

O mês em que a brisa me pôs nas mãos
uma harpa de folhas
e a terra me emprestou
sua flauta e sua lua.
Maré viva. Meu sangue atravessado
por um cometa visível a olho nu
tangido por satélites e aves de arribação
navegado por peixes desconhecidos.

Este foi o mês em que cantei
como quem morre e ressuscita
no terceiro dia
de cada sílaba.

O mês em que subi a uma colina
dentro de minha casa
olhei a terra e o mar
depois cantei
como quem faz com duas pedras
o primeiro lume. Palavras
e pedras. Palavras e lume
de uma vida.

Este foi o mês em que fui a um lugar santo
dentro de minha casa.
O mês em que saí dos campos
e me banhei no rio como quem se baptiza
e cantei debaixo das oliveiras
as mãos cheias de terra. Palavras
e terra
de uma vida.

Este foi o mês em que cantei
como quem espelha ao vento suas cinzas
e cresce de seu próprio adubo
carregado de folhas.

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Todas as Noites me Sinto

Todas as noites me sinto
igual aos desconhecidos.
Sou a criança que sou,
só quando o tempo pára.

Fico em mim,
fora dos músculos.

Por que se movem os deuses
quando o sol cresta as formigas?
Lendas da luz da noite
secam todo o movimento.

Seguro a vida
por desespero.

A Estranheza dá Crédito

O verdadeiro campo e assunto da impostura são as coisas desconhecidas. Isso porque em primeiro lugar a própria estranheza dá crédito; e depois, não estando sujeitas às nossas reflexões habituais, elas tiram-nos os meios de as combater. Por causa disso, diz Platão, é muito mais fácil satisfazer ao falar da natureza dos deuses do que da natureza dos homens, porque a ignorância dos ouvintes abre um belo e amplo caminho e toda a liberdade para o manejo de uma matéria secreta.
Advém daí que nada é aceite tão firmemente como aquilo que menos se sabe, nem há pessoas tão seguras como as que nos contam fábulas, como alquimistas, prognotiscadores, astrólogos, quiromantes, médicos, toda a gente dessa espécie (Horácio). A eles eu acrescentaria de bom grado, se ousasse, um bando de pessoas, intérpretes e controladores habituais dos desígnios de Deus, que têm a pretensão de descobrir as causas de cada acontecimento e de ver nos segredos da vontade divina os incompreensíveis motivos das suas obras; e, embora a variedade e a disparidade contínua dos factos os lance de um canto para o outro e do ocidente para o oriente, não deixam entretanto de persistir no que é seu e com o mesmo lápis pintar o preto e o branco.

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O Amor Infinito

Da mulher o que nos comove e enleva é a parte impoluta que ela tem do céu; é a magia que a fada exercita obedecendo a interno impulso, não sabido dela, não sabido de nós. Ali há mensagem de outras regiões; aqui, no peito arquejante, nos olhos amarados de gozozas lágrimas, há um espirar para o alto, um ir-se o coração avoando desde os olhos, desde o sorriso dela para soberanas e imorredouras alegrias. Nós é que não sabemos nem podemos ver senão o pouquinho desse infinito que nos entre-luz nas graças do primeiro amor, do segundo amor, de quantos estremecimentos de súbita embriaguez nos fazem crer que despimos o invólucro de barro e pairamos alados sobre a região das lágrimas.

É Deus que não quer ou somos nós que não podemos prorrogar a duração ao sonho? Se Deus, que mal faria à sua divina grandeza que o pequenino guzano o adorasse sempre? Porque vai tão rápida aquela estação em que o homem é bom porque ama, e é caritativo e dadivoso porque tudo sobeja à sua felicidade? Quando poderam aliar-se um amor puro com a impureza das intenções? Quais olhos de homem afectivo e como santificado por seu amor recusaram chorar sobre desgraças estranhas?

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Ser é ser além do humano. Ser homem não dá certo, ser homem tem sido um constrangimento. O desconhecido nos aguarda, mas sinto que esse desconhecido é uma totalização e será a verdadeira humanização pela qual ansiamos.

O Amor entre o Trigo

Cheguei ao acampamento dos Hernández antes do meio-dia, fresco e alegre. A minha cavalgada solitária pelos caminhos desertos, o repouso do sono, tudo isso refulgia na minha taciturna juventude.
A debulha do trigo, da aveia, da cevada, fazia-se ainda com éguas. Nada no mundo é mais alegre que ver rodopiar as éguas, trotando à volta do calcadouro do cereal, sob o grito espicaçante dos cavaleiros. Brilhava um sol esplêndido e o ar era um diamante silvestre que fazia brilhar as montanhas. A debulha é uma festa de ouro. A palha amarela acumula-se em montanhas douradas. Tudo é actividade e bulício, sacos que correm e se enchem, mulheres que cozinham, cavalos que tomam o freio nos dentes, cães que ladram, crianças que a cada momento é preciso livrar, como se fossem frutos da palha, das patas dos cavalos.

Oe Hernández eram uma tribo singular. Os homens, despenteados e por barbear, em mangas de camisa e com revólver à cinta, andavam quase sempre besuntados de óleo, de poeiras, de lama, ou molhados até aos ossos pela chuva. Pais, filhos, sobrinhos, primos, eram todos da mesma catadura. Estavam horas inteiras ocupados debaixo de um motor, em cima de um tecto,

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Recordo que, uma vez, quando era pároco, durante a missa das crianças, no dia de Pentecostes, fiz esta pergunta: «Quem sabe quem é o Espírito Santo?» E todas as crianças levantaram a mão. Uma delas respondeu: «O paralítico!» Tinha ouvido «Paráclito» e tinha percebido «paralítico»! É assim: o Espírito Santo é sempre um pouco o desconhecido da nossa fé.

No rito de acolhimento, pergunta-se o nome do candidato, porque o nome indica a identidade de uma pessoa. Quando nos apresentamos, dizemos imediatamente o nosso nome: «Chamo-me assim», para sair do anonimato; anónimo é quem não tem um nome. Para sair do anonimato dizemos imediatamente o nosso nome. Sem nome somos desconhecidos, sem direitos nem deveres. Deus trata cada um de nós pelo nome, amando-nos individualmente, na realidade concreta da nossa história.

Tudo o que é novo incomoda. A vida nos pega desprevenidos e nos obriga a caminhar para o desconhecido mesmo quando não queremos ou quando não precisamos.

Nunca nos Assemelhamos a nós Próprios

O homem não é conhecível a si próprio, porque a sua vida consiste em esforços alternados para ser o que não é, e essa transposição e substituição contínuas de almas irreais e estranhas fazem com que aquilo que na verdade e, ao contrário de Deus, pareça o que nunca é. Mesmo no mais pobre de nós existem pelo menos sete homens.
Há aquele que parece aos outros e o julgado, justamente, sabe quase sempre que não é.
Há aquele que diz ser e ele próprio sabe não ser, porque a vaidade ou medo tornam sempre mentiroso.
Há aquele que julga ser e é o mais distante da verdade, que cada um se inclina para se julgar aquilo que não é, por uma retorsão do orgulho que afasta tudo o pior, que é a maioria.
Há aquele que quereria ser, o mito pessoal de todo o homem, o sonho reservado ao futuro, aquele que depois deforma todas as autobiografias.
Aquele que finge ser para comodidade e necessidade da vida comum, onde o insensível deve mostrar-se caloroso, o avarento liberal e o vil corajoso.
Há aquele que se poderia chamar o nosso duplo desconhecido: a personalidade subconsciente,

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O Amor Inspira-se no Clandestino

O amor inspira-se no clandestino, estávamos escondidos do mundo e abertos para nós, olhei-te nos olhos e encontrei-te os meses que passámos separados, a grande dor de não te ter, a casa era desconhecida, desabitada, disseste-me tu, não quero saber como tinhas a chave, ainda hoje não quero, o mistério é um amor por descobrir, e quando se descobre pode não ser amor nenhum –

aguentar nesta vida é preservar mistérios, segredos que nunca podem deixar de o ser, espaços por preencher, lacunas que passamos o tempo a tentar ocupar, descodificar, tentar que não falte nada é a melhor receita para nunca faltar nada,
desde que continue sempre a faltar qualquer coisa.

Segurar a pequena mão dele, sentir os seus dedos pequenos a agarrarem a minha mão é uma justificação óbvia para tudo, para a vida. Vale a pena nascer, crescer, vale a pena a adolescência inteira, todos os sacrifícios, vale a pena a responsabilidade, vale a pena sair pelo desconhecido e estar preparado para o impossível, vale a pena ler obras completas, passar dias fechado apenas a ler, vale a pena comer sopa, aprender a fazer sopa, vale a pena lavar loiça para ter a oportunidade de segurar-lhe a mão.