Os Doentes São o Maior Perigo da Humanidade
Se tão normal é o homem em estado morboso, tanto mais de devem estimar os raros exemplos de potência física e corpural, os acidentes felizes da espécie humana, e tanto mais devem ser preservados do ar infecto os seres robustos. Faz-se assim ?…
Os doentes são o maior perigo para os sãos; daqueles vêm todos os males. Já se reparou suficientemente nisto?… Decerto se não deve desejar que diminua a violência entre os homens; porque esta violência obriga os homens a serem fortes, e mantém na sua integridade o tipo do homem robusto. O temível e desastroso é o grande tédio do homem e a sua grande compaixão. Se algum dia estes elementos se unirem, darão á luz irremissivelmente a monstruosa «última» vontade, a sua vontade do nada, o niilismo.
E efectivamente tudo está já preparado para este fim. Os que têm olhos, ouvidos, nariz, percebem por todos os lados a atmosfera de um manicómio e de um hospital, em todas as partes do mundo civilizado, europeizado. Os doentes são o maior perigo da humanidade; não os maus, não as «feras de rapina». Os desgraçados, os vencidos, os impotentes, os fracos são os que minam a vida e envenenam e destroem a nossa confiança. Como escapar a este olhar triste e concentrado dos homens incompletos? Este olhar é um suspiro que diz: «Ah! Se eu pudesse ser outro! Mas não há esperança: sou o que sou; como poderia libertar-me de mim próprio? Estou cansado de mim próprio!…»Neste terreno panatanoso de dezprezo de si mesmo cresce esta ruim erva, esta planta venenosa, pequena, oculta e adocicada. Aqui formigam os vermes do ódio e do rancor: o ar está impregnado de miasmas desconhecidos: aqui se atam sem cessar os fins de uma conjuração indigna: a conjuração dos doentes contra os robustos e os triunfantes; aqui se aborrece até o próprio aspecto do triunfador.