Passagens sobre Dia

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Frases sobre dia, poemas sobre dia e outras passagens sobre dia para ler e compartilhar. Leia as melhores citações em Poetris.

Reformar é não Ter Emenda Possível

Todo o dia, em toda a sua desolação de nuvens leves e mornas, foi ocupado pelas informações de que havia revolução. Estas notícias, falsas ou certas, enchem-me sempre de um desconforto especial, misto de desdém e de náusea física. Dói-me na inteligência que alguém julgue que altera alguma coisa agitando-se. A violência, seja qual for, foi sempre para mim uma forma esbugalhada de estupidez humana. Depois, todos os revolucionários são estúpidos, como, em grau menor, porque menos incómodo, o são todos os reformadores.
Revolucionário ou reformador – o erro é o mesmo. Impotente para dominar e reformar a sua própria atitude para com a vida, que é tudo, ou o seu próprio ser, que é quase tudo, o homem foge para querer modificar os outros e o mundo externo. Todo o revolucionário, todo o reformador, é um evadido. Combater é não ser capaz de combater-se. Reformar é não ter emenda possível.
O homem de sensibilidade justa e recta razão, se se acha preocupado com o mal e a injustiça do mundo, busca naturalmente emendá-la, primeiro, naquilo em que ela mais perto se manifesta; e encontrará isso em seu próprio ser. Levar-lhe-á essa obra toda a vida.
Tudo para nós está em nosso conceito do mundo;

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Oh, se os livros falassem, quantas ignorâncias haviam de dizer que consultam com eles de noite, os que de dia se publicam grandes letrados.

Serradura

A minha vida sentou-se
E não há quem a levante,
Que desde o Poente ao Levante
A minha vida fartou-se.

E ei-la, a mona, lá está,
Estendida, a perna traçada,
No infindável sofá
Da minha Alma estofada.

Pois é assim: a minha Alma
Outrora a sonhar de Rússias,
Espapaçou-se de calma,
E hoje sonha só pelúcias.

Vai aos Cafés, pede um bock,
Lê o “Matin” de castigo,
E não há nenhum remoque
Que a regresse ao Oiro antigo:

Dentro de mim é um fardo
Que não pesa, mas que maça:
O zumbido dum moscardo,
Ou comichão que não passa.

Folhetim da “Capital”
Pelo nosso Júlio Dantas –
Ou qualquer coisa entre tantas
Duma antipatia igual…

O raio já bebe vinho,
Coisa que nunca fazia,
E fuma o seu cigarrinho
Em plena burocracia!…

Qualquer dia, pela certa,
Quando eu mal me precate,
É capaz dum disparate,
Se encontra a porta aberta…

Isto assim não pode ser…
Mas como achar um remédio?

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Como Escrever

Minhas intuições se tornam mais claras ao esforço de transpô-las em palavras. É neste sentido, pois, que escrever me é uma necessidade. De um lado, porque escrever é um modo de não mentir o sentimento (a transfiguração involuntária da imaginação é apenas um modo de chegar); de outro lado, escrevo pela incapacidade de entender, sem ser através do processo de escrever. Se tomo um ar hermético, é que não só o principal é não mentir o sentimento como porque tenho incapacidade de transpô-lo de um modo claro sem que o minta — mentir o pensamento seria tirar a única alegria de escrever. Assim, tantas vezes tomo um ar involuntariamente hermético, o que acho bem chato nos outros. Depois da coisa escrita, eu poderia friamente torná-la mais clara? Mas é que sou obstinada. E por outro lado, respeito uma certa clareza peculiar ao mistério natural, não substituível por clareza outra nenhuma. E também porque acredito que a coisa se esclarece sozinha com o tempo: assim como num copo de água, uma vez depositado no fundo o que quer que seja, a água fica clara. Se jamais a água ficar limpa, pior para mim. Aceito o risco. Aceitei risco bem maior, como todo o mundo que vive.

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Ao trabalhar fielmente oito horas por dia, você pode eventualmente chegar a ser chefe e trabalhar doze horas por dia.

Espontaneidade Pública Inexistente

O público não é crítico, não pensa espontaneamente. Na escolha do que lê, na própria disposição do seu bom gosto, é guiado por influências externas. Este fenómeno vê-se com particular clareza no caso das modas, mormente nas do vestuário, em que determinadas casas de criações do género determinam o que há de ser de bom gosto, e efectivamente todo o público segue o critério que lhe é assim imposto. É frequente, anos mais tarde, o homem ou a mulher que se teve por vestindo com o melhor gosto em tal época, pasmar, ante um seu retrato e vendo-o à luz de novas modas e novos tipos de gosto, de como algum dia considerou de bom gosto ou de qualquer espécie de elegância o desastrado fato ou vestido que relembra.
Temos, pois, que para o público apreciar um pintor, um poeta, um músico, que não seja banal, tem que haver quem chame a atenção do público para ele. O espírito humano espontaneamente aceita só o que já conhece; e como o valor, em qualquer secção da actividade humana superior, reside essencialmente na originalidade, resulta que não há aceitação espontânea, nem a pode haver, de um autor ou artista, que seja espontaneamente aceite pelo público.

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A um Mosquito

Invencível mosquito,
Émulo do mais livre pensamento,
Sem corpo, e de todo espírito,
Que deste fim a um tão alto intento,
Quando precipitado
O céu de Délia acometeste ousado.

As portas de diamante
Cerradas ao clamor de tanta gente
Abriste triunfante,
Zombando da esperança impertinente,
Que entre temor, e espanto
Nunca acabou comigo esperar tanto.

Cupido, que inquieta
Délia sentiu ferida,
Espera, que o sinta,
A lança, que tiraste em sangue tinta,
Que o peito endurecido
É prova das setas de Cupido.

Porém de nada disto
Te mostres tão soberbo, e presumido,
Que podes sem ser visto
Passar a mais ferir, sem ser sentido,
E para castigar-te,
Não ocupas lugar nalguma parte.

Foras de amor ferido,
Se tivera o teu erro algum desconto,
Ou se achara Cupido
Aonde a ponta da seta pôr o ponto.
Condolação bastante;
Pois não picaste a Délia como amante.

Buscaste a noite escura
Por cometer a Délia mais oculto;
Quem medo te afigura,
Se não faz o teu corpo nenhum vulto,

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Soneto Ao Nosso Encontro

Desenrolam-se as curvas do caminho
à proporção que aos poucos avançamos…
Um dia, – e eu vinha então triste e sozinho,
– um dia, – vinhas só… nos encontramos…

Desde esse dia, juntos, simulamos
duas asas de um mesmo passarinho,
– nesse destino que entrançou dois ramos
que dão a mesma flor… e o mesmo espinho…

Depois de tantas curvas já vencidas
que sejamos ao fim de nossas vidas
na perfeição do amor que nos conduz,

– como a folhagem que um só ninho esconde,
ou dois galhos que vêm da mesma fronde
para juntos morrer na mesma cruz!

Este Livro Podia Acabar Aqui

Este livro podia acabar aqui. Sempre gostei de enredos circulares. E a forma que os escritores, pessoas do tamanho das outras, têm para sugerir eternidade. Se acaba conforme começa é porque não acaba nunca. Mas tu, eu, os Flauberts, os Joyces, os Dostoievskis sabemos que, para nós, acaba. Com um ligeiro desvio, os círculos transfor-mam-se em espirais e, depois, basta um ponto como este: . O bico de uma caneta espetada no papel. Um gesto a acertar na tecla entre , e -. Um movimento sobre um quadradinho de plástico. Isto: . Repara como é pequeno, insuficiente para espreitarmos através dele, floco de cinza a planar, resto de formiga esmagada. Se o pudéssemos segurar entre os dedos, não seríamos capazes de senti-lo, grão de areia. Mas tu ainda estás aí, olá, eu ainda estou aqui e não poderia ir-me embora sem te agradecer. Aí e aqui ainda é o mesmo lugar. Sinto-me grato por essa certeza simples. A paisagem, mundo de objectos, apenas ganhará realidade quando deixarmos estas palavras. Até lá, temos a cabeça submersa neste tempo sem relógios, sem dias de calendário, sem estações, sem idade, sem agosto, este tempo encadernado. As tuas mãos seguram este livro e, no entanto,

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Sátira

Besta e mais besta! O positivo é nada…
(Perdoa, se em gramática te falo,
Arte que ignoras, como ignoras tudo.)
Besta e mais besta! Na palavra embirro;
Que a besta anexa ao mais teu ser define.

Dás-me louvor servil na voz do prelo,
Grande me crês, proclamas-me famoso,
Excelso, transcendente, incomparável,
Confessas que d’Elmano a fúria temes…
E, débil estorninho, águias provocas,
Aves de Jove, que o corisco empunham!

És de rábula vil corrupta imagem;
Tu vendes o louvor, como ele as partes,
Mas ele na enxovia infâmias paga,
E tu, com tústios, que aos caloiros pilhas,
Compras gravatas, em que a tromba enorme
Sumas ao dia, que de a ver se embrusca,
Qual em tenra mãozinha esconde a face
Mimoso infante de papões vexado.
Útil descuido aos cárceres te furta,
À digna habitação de ti saudosa
(Digo, o Castelo), estância equivalente
Aos méritos morais, que em ti reluzem.

De saloios vinténs larápio sujo,
A glória do teu ódio restitui
A quem no teu louvor desacreditas.
Se honrada pelos sábios d’Ulisseia
(D’Ulisseia não só,

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Os dois dias mais importantes da sua vida são: O dia em que você nasceu, e o dia em que você descobre o porquê.

Ajudar um bilhão de pessoas a se conectarem é incrível, modéstia parte é, de longe, a coisa que eu mais me orgulho na minha vida. Eu estou empenhado em trabalhar todos os dias para fazer do Facebook melhor para você, e espero que juntos um dia nós seremos capazes de conectar o resto do mundo também.

Viver no Escuro ou na Sombra

O objecto que amamos parece-nos mais belo do que é, por isso vemos com frequência mulheres feias e mal-feitas serem adoradas e desfrutarem de grandes honras (Lucrécio), e mais feio aquele pelo qual temos aversão. Para um homem contrariado e aflito a claridade do dia parece escurecida e tenebrosa. Os nossos sentidos são não apenas alterados mas amiúde totalmente embrutecidos pelas paixões da alma. Quantas coisas vemos, que não perceberemos se tivermos o nosso espírito ocupado alhures? Mesmo com coisas bem visíveis, reconhecerás que, se não lhes aplicares o espírito, é como se desde sempre elas estivessem ausentes ou muito distantes (Lucrécio). Parece que a alma traz para o interior e transvia os poderes dos sentidos. Dessa maneira, tanto o interior como o exterior do homem são cheios de fraqueza e de mentira.
Os que compararam a nossa vida com um sonho tiveram razão, talvez, mais do que pensavam. Quando sonhamos, a nossa alma vive, age, exerce todas as suas faculdades, nem mais nem menos do que quando está em vigília; porém de modo mais frouxo e obscuro, decerto não tanto que a diferença seja como da noite para uma viva claridade, mas sim como da noite para a sombra: lá ela dorme,

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A Maria Ifigênia

Em 1786, quando completava sete anos.

Amada filha, é já chegado o dia,
em que a luz da razão, qual tocha acesa
vem conduzir a simples natureza,
é hoje que o teu mundo principia.

A mão que te gerou teus passos guia,
despreza ofertas de uma vã beleza,
e sacrifica as honras e a riqueza
às santas leis do filho de Maria.

Estampa na tua alma a caridade,
que amar a Deus, amar aos semelhantes,
são eternos preceitos da verdade.

Tudo o mais são idéias delirantes;
procura ser feliz na eternidade,
que o mundo são brevíssimos instantes.

Envelheces um dia por dia, cada dia a mais é um dia a menos. Eu sei que há isto e aquilo, há as outras pessoas e a grande quantidade de coisas que pensas que elas pensam, mas queres uma novidade? As outras pessoas estão-se lixando. Se fizeres aquilo que é imperativo que faças, a respiração das outras pessoas não se perturbará mais do que um nada invisível. Estás à espera de quê?

Façamos juntos um momento de silêncio ao menos, no arco do nosso dia. Olhemos para o Senhor: Ele pode compreender-nos, porque passou por todas as coisas da vida e da carne.