De todos os sentidos, a vista é o mais superficial, o ouvido o mais orgulhoso, o olfacto o mais voluptuoso, o gosto o mais supersticioso e inconstante, o tacto o mais profundo.
Passagens sobre Gosto
589 resultadosNão é só a moda e o capital que nos forçam o gosto e inventam necessidades. É também o homem de ideias. Por isso umas e outros todos passam.
O que obviamente não presta sempre me interessou muito. Gosto de um modo carinhoso do inacabado, do malfeito, daquilo que desajeitadamente tenta um pequeno vôo e cai sem graça no chão.
O Homem, O Escritor
– Gostei de estar consigo, mas gosto mais de o ler.
– Mas foi comigo que esteve quando me leu.
Não agora que esteve.
Hábitos Breves
Gosto dos hábitos que não duram; são de um valor inapreciável se quisermos aprender a conhecer muitas coisas, muitos estados, sondar toda a suavidade, aprofundar a amargura. Tenho uma natureza que é feita de breves hábitos, mesmo nas necessidades de saúde física, e, de uma maneira geral, tão longe quanto posso ver nela, de alto a baixo dos seus apetites. Imagino sempre comigo que esta ou aquela coisa se vai satisfazer duradouramente – porque o próprio hábito breve acredita na eternidade, nesta fé da paixão; imagino que sou invejável por ter descoberto tal objecto: devoro-o de manhã à noite, e ele espalha em mim uma satisfação, cujas delícias me penetram até à medula dos ossos, não posso desejar mais nada sem comparar, desprezar ou odiar.
E depois um belo dia, aí está: o hábito acabou o seu tempo; o objecto querido deixa-me então, não sob o efeito do meu fastio, mas em paz, saciado de mim e eu dele, como se ambos nos devêssemos gratidão e estendemo-nos a mão para nos despedirmos. E já um novo me aguarda, mas aguarda no limiar da minha porta com a minha fé – a indestrutível louca… e sábia! – em que este novo objecto será o bom,
Gosto tanto da convalescença! É a parte que faz a doença valer a pena!
Meteu-me Amor em seu Trato
Meteu-me Amor em seu trato,
Pôs-me os seus gostos na praça,
Quanto quis me deu de graça.
Mas é caro o seu barato.Amor, que quis que tivesse
Os males por seu querer,
Deu menos bem, que escolhesse,
Para que quando os perdesse
Tivesse mais que perder.
Depois que em minha esperança
Me viu contra o tempo ingrato
Viver livre da mudança
Por tão grande confiança
Meteu-me Amor em seu trato.Vi eu logo que convinha
Dar melhor conta do seu
Do que dei da vida minha:
Deixei perder quanto tinha
Por guardar o que me deu.
O desejo e o temor,
A fé, a vontade, a graça,
Tudo pus na mão de Amor.
Ele que é mais mercador
Pôs-me seus gostos na praça.Entendeu que não sabia
A valia do interesse
Que eu dele então pretendia:
Perguntou-me o que queria
Antes que nada me desse.
Eu, que não soube o que fiz,
Quis um desprezo e negaça,
Quis uns desdéns senhoris,
E por ser graça o que quis.
A felicidade não é um cavalo que a gente arreie a gosto.
Assim como gosto do jovem que tem dentro de si algo do velho, gosto do velho que tem dentro de si algo do jovem: quem segue essa norma poderá ser velho no corpo, mas na alma não o será jamais.
Todas as coisas que eu realmente gosto de fazer são ilegais, imorais, ou engordam.
Até que um Dia…
Meus versos eram rosas, lírios, heras,
borboletas, regatos, cotovias
cantando suas doces melodias,
anjos, sereias, ninfas e quimeras.Meus versos eram pombas entre as feras
e, na festa das horas e dos dias,
ia dançando penas e alegrias
e o ano tinha quatro primaveras.E a festa continua… é também festa
o cardo e a urze, o tojo, a murta, a giesta,
a chuva no beiral, o vento Norte,o gosto a mar, a lágrimas, a sal,
até que um dia a vida, a bem ou mal,
exausta de cantar me empreste à morte.
Bem Mostrou o Pintor Estilo Agudo
Bem mostrou o pintor estilo agudo
No retrato, senhora, que vos mando,
Pois não só o parecer foi retratando,
Mas os efeitos com mais alto estudo.Se vai mudo ante vós, eu fico mudo;
Se surdo, e cego, bem cego, e surdo ando;
Se morto, a vida vai-se-me acabando;
Em fim que vai conforme a mim em tudo.Mas na ventura fica avantajado,
Que vai (com gosto vosso) à vossa mão,
Onde será melhor visto, e tratado:Mercês, que se deviam por razão
Ao próprio original, porque o traslado
Não vê, nem sente de que preço são.
Quantas vezes, Amor, me tens ferido?
Quantas vezes, Amor, me tens ferido?
Quantas vezes, Razão, me tens curado?
Quão fácil de um estado a outro estado
O mortal sem querer é conduzido!Tal, que em grau venerando, alto e luzido,
Como que até regia a mão do fado,
Onde o Sol, bem de todos, lhe é vedado,
Depois com ferros vis se vê cingido:Para que o nosso orgulho as asas corte,
Que variedade inclui esta medida,
Este intervalo da existência à morte!Travam-se gosto, e dor; sossego e lida;
É lei da natureza, é lei da sorte,
Que seja o mal e o bem matiz da vida.
O Bom Senso
O bom senso não exige um juízo muito profundo; parece antes consistir em só perceber os objectos na proporção exacta que eles têm com a nossa natrueza ou com a nossa condição. O bom senso não consiste então em pensar sobre as coisas com excesso de sagacidade, mas em concebê-las de maneira útil, em tomá-las no bom sentido.
Aquele que vê com um microscópio percebe, certamente, mais qualidade nas coisas; mas não as percebe na sua proporção natural com a natureza do homem, como quem usa apenas os olhos. Imagem dos espíritos subtis, eles às vezes penetram fundo demais; quem olha naturalmente as coisas tem bom senso.
O bom senso forma-se a partir de um gosto natural pela justeza e pelo mediano; é uma qualidade do carácter, mais do que do espírito. Para ter muito bom senso, é preciso ser feito de maneira que a razão predomine sobre o sentimento, a experiência sobre o raciocínio.
O que não tem mais vontade nem mais gosto do que a vontade e o gosto alheios, pode ser tido como verdadeiro escravo.
Acordar na manhã seguinte com gosto de corrimão de escada na boca: mais frustração que ressaca, desgosto generalizado que aspirina alguma cura.
Mal chegado já te escrevo para te dizer quanto penso em ti. Quando se está longe é que se vê como se ama. Como é triste não te ver e não ouvir a tua boa vozinha a dizer-me querido marotinho. Maria eu amo-te tanto e tu és tão boa. Quando eu te não tenho junto de mim não encontro prazer em nada. Eu olhava neste momento o teu retrato que me dava tanto gosto antes de te conhecer e que agora só me diz que estou longe de ti. Adeus querido amor. Pensa em mim como eu penso em ti.
O gosto é o bom senso do génio.
Ao Pecado Original
Se sendo, meu Senhor, por vós formado
Adão, antes de ser o mal nascido,
Pecou, que fará quem foi concebido
Nas entranhas, que já tinham pecado?Comer de um fruito só lhe foi vedado,
Tudo o mais a seu gosto concedido,
E por uma só vez haver caido,
Por muitas ser não posso levantado.Tão fraca ficou minha natureza,
Que levantar não deixa o pensamento
Da terra, a que está atada e presa,Tão imiga do meu merecimento,
Que se morder não pode na pureza,
Não deixa de ladrar um só momento.
Não consigo encontrar um denominador comum entre as pessoas que eu gosto e admiro, mas entre as pessoas que eu amo é fácil: todas elas me fazem rir.