Passagens sobre Obras

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Frases sobre obras, poemas sobre obras e outras passagens sobre obras para ler e compartilhar. Leia as melhores citações em Poetris.

A moral é a teoria da hierarquia entre os homens e, por consequência, também do valor dos seus actos e das suas obras, em referência a essa hierarquia. Ela é pois a teoria dos juízos humanos de valor relativos a tudo o que é humano.

Experiência de Vida é Essencial ao Bom Escritor

A maior desgraça que pode acontecer a um artista é começar pela literatura, em vez de começar pela vida. Cora-se de vergonha, depois, diante das ingenuidades impressas, que são cueiros sujos e pretendem ser livros. Só a experiência, a dor e o trabalho trazem a dignidade que uma obra literária exige. Mesmo que não se tenha génio, pode-se, então, ter compostura. E seja qual for a duração do que se escreve, uma coisa ao menos os vindouros poderão respeitar: a nobreza do que vão ler. Mas poucos sabem esperar pela hora da maturação. E antes desse livro curado pelo fumo da vida, vêem-se quase sempre meia dúzia de outros, infantis, imbecis, esquemáticos como o bê-á-bá. «Penitet me» — creio que é a fórmula do arrependimento.

Felicidade Independente

Das coisas que há no mundo, umas estão na nossa mão e outras não. Na nossa mão estão a opinião, a suspeita, o apetite, o aborrecimento, o desejo e, numa palavra, todas as obras que são nossas. Não estão na nossa mão o corpo, a fazenda, nem a honra (reputação), nem o senhorio, nem com efeito nenhuma das que não são obra nossa. As coisas que estão na nossa mão, de sua natureza são livres e senhoras sem impedimento nem embaraço. E as que não estão na nossa mão, de si são fracas, servis, embaraçadas e sujeitas.
Pois olha que, se tiveres por livre o que se sua natureza não o for, e por teu o que em efeito não o é, haverás de embaraçar-te, e lamentar-te, e queixar-te dos deuses e dos homens. Mas se só o que é teu tiveres por tal, e por alheio, como o é, o que não é teu, não haverá nunca quem te faça força; a ninguém acusarás; de ninguém te queixarás; nenhuma coisa farás contra tua vontade; não terás nenhum inimigo; ninguém te fará mal; nem receberás nenhum dano nem perda.
Se vires algum homem muito honrado, ou poderoso, ou por qualquer outra via engrandecido,

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Toda a obra corruptível perece e aquele que a fez irá com ela

Toda a obra corruptível perece e aquele que a fez irá com ela.

Vede, pois, esse supérfluos! Roubam as obras dos inventores e os tesouros dos sábios. Cultura, eis o nome que dão a essa rapina e para eles tudo se transforma em doença e incômodo.

O que numa obra lê a sua época, nem sempre é o que lêem as épocas que se seguem. Daí que uma obra célebre á nascença não se saiba o que virá a ser depois.

A ciência, que devia ter por fim o bem da humanidade, infelizmente concorre na obra de destruição e inventa constantemente novos meios de matar o maior número de homens no tempo mais curto.

Baudelaire disse que a surpresa, o espanto são as características básicas de uma obra de arte. É o que penso. Camus diz em O Estrangeiro que a razão é inimiga da imaginação. Às vezes, você tem de botar a razão de lado e fazer uma coisa bonita.

Aprende-se a escrever, lendo. E também é necessária uma grande humildade face ao material da escrita. É a mão que escreve. A nossa mão é mais inteligente do que nós. Não é o autor que tem de ser inteligente, é a obra. O autor não escreve tão bem quanto os livros.

A Arte e a Filosofia

Nunca será de mais insistir no carácter arbitrário da antiga oposição entre arte e a filosofia. Se quisermos interpretá-la num sentido muito preciso, é certamente falsa. Se quisermos simplesmente significar que essas duas disciplinas têm, cada uma delas, o seu clima particular, isso é verdade sem dúvida, mas muito vago. A única argumentação aceitável residia na contradição levantada entre o filósofo fechado no meio do seu sistema e o artista colocado diante da sua obra. Mas isto era válido para uma certa forma de arte e de filosofia, que aqui consideramos secundária. A ideia de uma arte separada do seu criador não está somente fora de moda. É falsa. Por oposição ao artista, dizem-nos que nunca nenhum filósofo fez vários sistemas.
Mas isto é verdade, na própria medida em que nunca nenhum artista exprimiu mais de uma só coisa sob rostos diferentes. A perfeição instantânea da arte, a necessidade da sua renovação, só é verdade por preconceito. Porque a obra de arte também é uma construção, e todos sabem como os grandes criadores podem ser monótonos. O artista, tal como o pensador, empenha-se e faz-se na sua obra. Essa osmose levanta o mais importante dos problemas estéticos. Além disso,

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Se te ocorrer, de manhã, de acordares com preguiça e indolência, lembra-te deste pensamento: «Levanto-me para retomar a minha obra de homem».

Não Peças o que na Realidade não Pretendes Obter

“Não te ponhas a pedir o que não pretendes obter!” É que sucede muitas vezes nós pedirmos com empenho coisas que recusaríamos se alguém no-las oferecesse. Por ligeireza? Por excesso de gentileza? Seja qual for a razão, apliquemos-lhe um castigo: acedamos largamente ao pedido. Muitas coisas nós desejamos parecer querer quando de facto as não queremos. Numa leitura pública, um autor levou uma vez uma obra histórica enorme, escrita em letra miudinha, num volume densíssimo, e, depois de ler a maior parte, disse: “Se querem, fico por aqui.” Ora os auditores, embora o seu único desejo fosse que o homem se calasse imediatamente, gritaram em coro: “Continua a leitura, continua!” Muitas vezes, também, queremos uma coisa mas escolhemos outra, e nem sequer aos deuses confessamos a verdade; o que vale é que os deuses ou não nos atendem ou têm pena de nós!

As Nossas Dependências

Coisas há que dependem de nós – e outras há que de nós não dependem. O que depende de nós são os nossos juízos, as nossas tendências, os nossos desejos, as nossas aversões: numa palavra, todos os actos e obras do nosso foro íntimo. O que de nós não depende é o nosso corpo, a riqueza, a celebridade, o poder; enfim, todas as obras e actos que de maneira nenhuma nos constituem.
As coisas que dependem de nós são por natureza livres, sem impedimento, isentas de obstáculos; e as que de nós não dependem são inconsistentes, servis, susceptíveis de impedimento, estranhas.
Tem em mente, portanto, o seguinte: se avalias livre o que por natureza é servil, e julgas decente para ti o que te é estranho, sentir-te-ás embaraçado, aflito, inquieto – e em breve culparás os Deuses e os homens. Mas se crês teu o que unicamente é teu, e por estranho o que efectivamente estranho te é, então niguém te poderá constranger, nem tão pouco causar embaraços; não atacarás ninguém, a ninguém acusarás, nada farás contra a tua vontade; prejudicar-te, ninguém te prejudicará; e não terás um só inimigo – e prova disso é sobre ti a ausência de qualquer dano.

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Que Glória tão Completa

Que glória tão completa não estar nunca
onde ela sobe da multidão. Que glória
é ordem alastrando da estrutura
pela massa de vir a ser a obra
até que ser em si tanto a institua
que ser em si seja uma luz à volta.
E, que glória, perder-nos pela funda
atenção à tarefa, quando a nossa
corporeidade apenumbra
estarmos destruindo alguma sombra.
Então o afinco da paciência a blusa
quase ilumina. E as horas,
na oficina do tempo, ampliam sua
ondeação de se ir perdendo a história.

Porque Escreves Descuidadamente?

Quem escreve descuidadamente faz, antes de mais, a confissão de que não dá grande valor aos seus pensamentos. Porque o entusiasmo que inspira a persistente resistência necessária para descobrir a forma mais clara, mais eficaz e mais atraente de expressar os nossos pensamentos é gerada simplesmente pela convicção do seu peso e da sua verdade – tal como só utilizamos escrínios de prata ou de ouro para as coisas sagradas ou obras de arte de valor incalculável.
Poucos escrevem da mesma forma que um arquitecto constrói, traçando antecipadamente um plano e pensando-o até aos mais ínfimos pormenores. A maioria escreve como joga dominó: as frases ligam-se entre si como as peças de dominó, uma a uma, em parte deliberadamente, em parte por acaso.

O Ideal Português como Ideal para o Mundo

Três pontos, segundo Camões, sobre os quais temos que meditar, e ver como é. Ponto número 1: é preciso que os corpos se apaziguem para que a cabeça possa estar livre para entender o mundo à volta. Enquanto nós estamos perturbados com existir um corpo que temos que alimentar, temos que fartar, que temos de tratar o melhor possível, cometendo para isso muitas coisas extremamente difíceis, nessa altura, quando a nossa cabeça estiver inteiramente livre e límpida, nós podemos ouvir aquilo que Camões chama «a voz da deusa». E que faz a voz da deusa? Arranca àqueles marinheiros as limitações do tempo e as limitações do espaço. Arranca-os às limitações do tempo o que faz que eles saibam qual vai ser o futuro de Portugal. E arranca-os às limitações do espaço porque eles vêem todo o mundo ao longe, o universo que está ao longe, a deusa lho mostra, embora com o sistema errado, digamos assim, ou imperfeito, de Ptolomeu, e eles estão portanto inteiramente fora do espaço. Aquilo que foi o ideal dos gregos, e que os gregos nunca conseguiram realizar. Então o que é que aconteceu? Aconteceu que um dia houve outro português que tinha ido para o Brasil,

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A Génese de um Poema

A maior parte dos escritores, sobretudo os poetas, preferem deixar supor que compõem numa espécie de esplêndido frenesim, de extática intuição; literalmente, gelar-se-iam de terror à ideia de permitir ao público que desse uma espreitadela por detrás da cena para ver os laboriosos e incertos partos do pensamento, os verdadeiros planos compreendidos só no último minuto, os inúmeros balbucios de ideias que não alcançaram a maturidade da plena luz, as imaginações plenamente amadurecidas e, no entanto, rejeitadas pelo desespero de as levar a cabo, as opções e as rejeições longamente ponderadas, as tão difíceis emendas e acrescentas, numa palavra, as rodas e as empenas, as máquinas para mudança de cenário, as escadas e os alçapões, o vermelhão e os postiços que em 99% dos casos constituem os acessórios do histrião literário.
(…) No que a mim diz respeito, não compartilho da repugnância de que falei e nunca senti a mínima dificuldade em rememorar a marcha progressiva de todas as minhas obras. Escolho O Corvo por ser a mais conhecida. Proponho-me demonstrar claramente que nenhum pormenor da sua composição se pode explicar pelo acaso ou pela intuição, que a obra se desenvolveu, a par e passo, até à sua conclusão com a precisão e o rigor lógico de um problema matemático.

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