Textos sobre Segundos

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Textos de segundos escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Conselhos para o Ensino

Vou falar de questões que, independentemente do espaço e do tempo, sempre estiveram e sempre estarão relacionadas com a educação. Nesta tentativa não posso dizer que sou uma autoridade, particularmente tão inteligente e bem-intencionado como os homens que ao longo do tempo trataram dos problemas da educação e que certamente exprimiram repetidas vezes os seus pontos de vista acerca destas matérias. Com que base posso eu, um leigo no âmbito da pedagogia, arranjar coragem para exprimir opiniões sem qualquer fundamento, excepto a minha experiência pessoal e a minha convicção pessoal? Quando se trata de uma matéria científica, é fácil uma pessoa sentir-se tentada a ficar calada com base nestas considerações.
Contudo, tratando-se de assuntos respeitantes ao ser humano, é diferente. Neste caso, o conhecimento apenas da verdade não é suficiente; pelo contrário, este conhecimento deve ser continuamente renovado à custa de um esforço contínuo, sob pena de se perder. Lembra uma estátua de mármore no deserto que está continuamente em perigo de ser enterrada pela areia em movimento. As mãos de serviço têm de estar continuamente a trabalhar para que o mármore continue indefinidamente a brilhar ao sol. A este grupo de mãos também pertencem as minhas.
A escola sempre foi o mais importante meio de transferência da riqueza da tradição de uma geração para a seguinte.

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A Audácia é Má no Conselho e boa na Execução

A audácia é filha da ignorância e da rudeza, e muito inferior a todos os outros dons. Ela fascina, porém, atando-lhes os pés e as mãos, aos que são débeis de entendimento e falhos de coragem que formam a maioria; e prevalece até sobre os homens sábios nas horas da fraqueza. Por isso vemos que ela fez maravilhas nos Estados populares, menos do que nos governados por Senados ou por Príncipes; e muito mais ao primeiro arranco das pessoas audaciosas, do que depois, porque a audácia é má cumpridora de promessas.
(…) Certamente aos homens de grande entendimento, os audacciosos dão um espectáculo de muito gozo; e até mesmo para o vulgo, a audácia não deixa de ser ridícula. Porque se o absurdo é o fundamento do riso não duvideis de que uma grande audácia raramente existe sem absurdo.
(…) Deve ser bem considerado que a audácia é sempre cega, para não ver os perigos e as inconveniências. Por isso ela é má no conselho e boa na execução; para bem aproveitar e utilizar as pessoas audacciosas é preciso que elas nunca estejam na chefia do comando, mas em segundo lugar, sob a direcção de outros. Porque no conselho é bom ver os perigos,

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O Absoluto do Ser

– Deus não é bom?
– Não, para falar com propriedade, Deus não é bom: é. Bom, mau, são pobres palavras que se aplicam a um conjunto de regras respeitantes a alguns pormenores da nossa vida material. Porque é que Deus seria limitado pelas nossas pobres palavras e valores? Não, Deus não é bom. É mais do que isso. É a forma mais rica, mais completa, mais poderosa do ser, de qualquer maneira. Torna concreta a abstracção mesmo da forma do ser. E penso que o «envisagement» do ser não podia ser possível se Deus não lhe tivesse dado anteriormente o seu estado. Deus é a criação. É pois um princípio inextinguível, não orientado, a própria vida. Lembrem-se das palavras: «Eu sou Aquele que sou». Nenhuma outra palavra humana compreendeu e relatou melhor a forma divina. Intemporal, não, nem sequer intemporal e infinita. O princípio. O facto de que há qualquer coisa no lugar onde não havia nada.
– Mas então, Deus não tem necessidade…
– E até mesmo para lá de toda a expressão. Se quiser, eu sou Deus. Não há dúvida a sustentar, pergunta a fazer. Você existe. Portanto é Deus. Você não pode existir de outro modo.

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A Adulação na Amizade

Pois que é próprio da verdadeira amizade dar e receber conselhos, dá-los com franqueza e sem azedume, recebê-los com paciência e sem repugnância, persuadamo-nos bem de que não ha defeito maior na amizade que a lisonja, a adulação, as baixas complacências. Com efeito, não se poderia dar bastantes nomes ao vício desses homens frívolos e enganadores, que falam sempre para agradar, e jamais para dizer a verdade.
A dissimulação é funesta em todas as coisas (pois corrompe e altera em nós o sentimento da verdade) mas é, sobretudo, contrária à amizade. Destrói a sinceridade, sem a qual não subsiste mesmo o próprio nome da amizade. Se a força da amizade consiste em fazer de várias almas uma só, como seria assim, se em cada homem a alma não é a mesma, não é constante, mas variável, mutável, tomando mil formas? De facto, que há de mais mutável, de mais versátil que a alma daquele que se transforma não apenas segundo o sentimento e a vontade dum outro, mas a um pequeno sinal deste, a um mínimo gesto seu? «Ele diz não? Eu digo não; ele diz sim? eu digo sim: numa palavra, eu me impus a obrigação de tudo aplaudir»,

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A (Des)Vantagem do Casamento

A verdadeira desvantagem do casamento é que nos despoja do egoísmo. E as pessoas que não são egoístas são absolutamente desinteressantes. Falta-lhes individualidade. Contudo, há certos temperamentos que se tornam mais complexos com o casamento. Mantêm o egotismo e acrescentam-lhe muitos outros egos. São obrigados a ter mais que uma vida. Tornam-se mais eficientes na sua disciplina, e uma organização eficiente é, segundo creio, o objectivo da existência do homem. Além disso, toda a experiência é válida e, por mais que se fale contra o casamento, não deixa de ser uma experiência.

O Sexo Como Factor de Génio

O facto de o sexo desempenhar um maior ou menor papel na vida de alguém parece relativamente irrelevante. Algumas das maiores realizações de que temos notícia foram empreendidas por indivíduos cuja vida sexual foi reduzida ou nula. Em contrapartida, sabemos pela biografia de certos artistas – figuras de primeira grandeza – que as suas obras imponentes nunca teriam sido realizadas se eles não tivessem vivido mergulhados em sexo. No caso de alguns poucos, os períodos de criatividade excepcional coincidiram com períodos de extrema licença sexual. Nem a abstinência nem a licença explicam seja o que for.
No campo do sexo como noutros campos, costumamos referir-nos a uma norma – mas a norma indica apenas o que é estatisticamente verdade para a grande massa dos homens e das mulheres. Aquilo que pode ser normal, razoável, salutar, para a grande maioria, não nos fornece um critério de comportamento no caso do indivíduo excepcional. O homem de génio, quer pela sua obra, quer pelo seu exemplo pessoal, parece estar sempre a proclamar a verdade segundo a qual cada um é a sua própria lei, e o caminho para a realização passa pelo reconhecimento e pela compreensão do facto de que todos somos únicos.

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A Distorção do Entendimento

Que difícil é propor um problema ao entendimento alheio sem corromper esse entendimento pela maneira de propor! Se dizemos: acho isto belo, acho obscuro, ou outra coisa semelhante, arrastamos a imaginação para este juízo, ou irritamo-la, levando-a ao juízo contrário. Mais vale nada dizer, e então o outro julga segundo o que é, ou segundo o que é naquele momento, e de acordo com o que as outras circunstâncias, de que não somos responsáveis, lá tiverem posto. Mas pelo menos nós não pusemos nada; a não ser que o nosso silêncio tenha também o seu efeito, segundo o sentido e a interpretação que ele estiver disposto a atribuir-lhe, ou segundo o que depreende dos movimentos e da expressão do rosto, ou do tom de voz, conforme for melhor ou pior fisionomista: tão difícil é não deslocar um entendimento da sua base natural, ou antes, tão pouco um entendimento tem de firme e estável!

Os Ses Importantes da Vida

Hoje escrevo-te sobre os ses importantes da vida. Agarra-te bem a eles, e depois, quando te sentires assustada em algum momento, volta a agarrar-te a eles. Vais ver que nunca te vai faltar nada. Prometo.

Se amares com toda a segurança, desiste de amar, porque, ficas agora a saber, quando se ama com toda a segurança não se ama coisa nenhuma.
Se não tiveres medo de dizer que amas, como se sentisses que estavas a expor o mais imenso lado de ti, desiste de amar, porque, ficas agora a saber, é só o que nos faz ter medo que vale a pena ter medo perder.

Se não adormeceres todos os dias com uma inexplicável vontade de voltar a acordar só para estares nos braços da pessoa com quem adormeceste, desiste de amar, porque, ficas agora a saber, só o que nos faz adormecer felizes sem deixar de nos fazer ter vontade de acordar felizes é que é mesmo amor.

Se não acordares todos os dias com uma vontade inexplicável de voltar a adormecer só para poderes adormecer em paz ao lado de quem amas, desiste de amar, porque, ficas agora a saber, só o que nos faz acordar felizes sem deixar de nos fazer ter vontade de adormecermos felizes é que é mesmo amor.

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O Amor pelo Outro

Os filósofos e os próprios teólogos distinguem duas espécies de amor, a saber, o amor que chamam de concupiscência, que não passa do desejo ou do sentimento que se tem por aquilo que nos dá prazer, sem que nos interessemos se ele está a receber amor; e o amor de benevolência, que é o sentimento que se tem por aquele que, pelo seu prazer e sua felicidade, nos dá amor. O primeiro faz-nos visar o nosso prazer, e o segundo, o prazer do outro, mas como se fizesse, ou melhor, constituindo o nosso; pois, se não tornasse a cair sobre nós de alguma maneira, não poderíamos por ele nos interessar, porque é impossível, seja o que for que digam, nos desapegarmos do nosso próprio bem.

As Três Espécies de Portugueses

Há três espécies de Portugal, dentro do mesmo Portugal; ou, se se preferir, há três espécies de português. Um começou com a nacionalidade: é o português típico, que forma o fundo da nação e o da sua expansão numérica, trabalhando obscura e modestamente em Portugal e por toda a parte de todas as partes do Mundo. Este português encontra-se, desde 1578, divorciado de todos os governos e abandonado por todos. Existe porque existe, e é por isso que a nação existe também.

Outro é o português que o não é. Começou com a invasão mental estrangeira, que data, com verdade possível, do tempo do Marquês de Pombal. Esta invasão agravou-se com o Constitucionalismo, e tornou-se completa com a República. Este português (que é o que forma grande parte das classes médias superiores, certa parte do povo, e quase toda a gente das classes dirigentes) é o que governa o país. Está completamente divorciado do país que governa. É, por sua vontade, parisiense e moderno. Contra sua vontade, é estúpido.

Há um terceiro português, que começou a existir quando Portugal, por alturas de El-Rei D. Dinis, começou, de Nação, a esboçar-se Império. Esse português fez as Descobertas,

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Conhecidos de Vista

Conhecem-se há meses de vista, do bairro onde vivem, de se verem na rua, no supermercado, no café, de passearem os cães no jardim. Ela mora dois prédios ao lado do dele, não sabe o seu nome, nem o que faz, mas conhece-lhe algumas rotinas, já ouviu a sua voz, aprecia a forma de ele se vestir. Acha-o atraente e fica atenta quando o vê.
Ele gosta de levar um livro consigo quando vai com o cão ao jardim. Senta-se num banco a ler, mas, se ela chega, não consegue concentrar-se. Finge que lê, espreita-a por cima do livro, maravilhado com o seu jeito distraído de caminhar num vaivém constante enquanto fala ao telemóvel, rodando o vestido numa volta graciosa ao fim de alguns passos casuais. Adora o seu sorriso encantador, o modo como inclina a cabeça para trás e lança um risinho espontâneo para o ar a meio da conversa.
É sábado, estão sentados numa esplanada do jardim, ambos sozinhos, em mesas próximas, frente a frente. Ela pede um café, deita o açúcar, mexe-o demoradamente com a colher, distraída a observá-lo a ler o jornal. Fantasia que ele vai erguer os olhos a qualquer instante e surpreendê-la a olhar,

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Riqueza Ilimitada mas Mortal

Eu não posso, pensando bem, descobrir como é possível a nós, que demos tanta importância à riqueza ilimitada e que, para falar a verdade, a divinizamos, não admitir nas nossas almas os males que crescem com ela. Acompanha, com efeito, a riqueza sem medida e sem coração, ligada a ela, e como se diz marchando no mesmo passo, a prodigalidade, e à medida que a riqueza abre o acesso às cidades e às casas ela entra junto e coabita. Depois, com o tempo, segundo os sábios, esses seres fazem os seus ninhos nas vidas humanas e rapidamente engendram outros seres, no momento da procriação, como a cupidez, o orgulho e a luxúria, que não são seus bastardos mas filhos legítimos.
Mas se permitir que esses filhos da riqueza avancem na idade, logo para as almas eles engendrarão tiranos inexoráveis, a violência, a ilegalidade e a imprudência. Pois é assim necessariamente; os homens não olham mais para o alto e não dão importância ao renome na posteridade, mas a destruição das vidas (dos homens) completa-se pouco a pouco num tal ciclo e a grandeza das almas fenece, enfraquece e não é mais assunto de emulação, quando se reserva a sua admiração às partes mortais de si mesmo,

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A Racionalização das Emoções

O ponto de vista feminino tem sido muito mais difícil de expressar que o masculino. Se assim me posso exprimir, o ponto de vista feminino não passa pela racionalização por que o intelecto do homem faz passar os seus sentimentos. A mulher pensa emocionalmente; a sua visão baseia-se na intuição. Por exemplo, ela pode ter um sentimento em relação a qualquer coisa que nem sequer é capaz de articular.
A princípio, achei extremamente difícil descrever como me sentia. Porém, se fazemos psicanálise, a questão é sempre: «Como é que se sentiu em relação a isso?» e não «O que é que pensou?» E como muito frequentemente a mulher não deu o segundo passo, que é explicar a sua intuição – por que passos lá chegou, o a-b-c daquilo – ela não consegue ser tão articulada.
Ora eu tentei fazer isso (quer tenha conseguido quer não), e, porque estava a escrever um diário que pensava que ninguém leria, consegui anotar o que sentia acerca das pessoas ou o que sentia acerca do que via sem o segundo processo. O segundo processo veio através da psicanálise, que era igualmente um método de comunicar com o homem em termos de uma racionalização das nossas emoções de modo que pareçam fazer sentido ao intelecto masculino.

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Títulos e Diplomas

Parece que a humanidade só se esforça enquanto tem a esperar diplomas idiotas, que pode exibir em público para obter proveitos, mas, quando já tem na mão tais diplomas idiotas em número suficiente, deixa-se levar. Ela vive em grande parte só para obter diplomas e títulos, não por qualquer outra razão, e, depois de ter obtido o número de diplomas e títulos que, na sua opinião, é suficiente, deixa-se cair na cama macia desses diplomas e títulos. Ela não parece ter qualquer outro objectivo para a vida. Não tem, segundo parece, qualquer interesse numa vida própria, independente, numa existência própria, independente, mas apenas nesses diplomas e títulos, sob os quais a humanidade há já séculos ameaça sufocar.
As pessoas não procuram independência e autonomia, não procuram a sua própria evolução natural, mas apenas esses diplomas e títulos e estariam, a todo o momento, prontas a morrer por esses diplomas e títulos, se lhos entregassem e dessem sem qualquer condição, esta é que é a verdade desmascaradora e deprimente. Tão pouco estimam elas a vida em si que só vêem os diplomas e títulos e nada mais. Elas penduram nas paredes das suas casas os diplomas e títulos, nas casas dos mestres talhantes e dos filósofos,

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O Alargamento do Saber

No processo de alargamento do saber é de vez em quando necessário proceder a uma reordenação. Na maior parte dos casos a reordenação tem lugar mediante novas máximas, mas permanece sempre provisória.
É por isso que são bem-vindos os livros que nos apresentam, não apenas o que de novo se vai descobrindo no plano empírico, mas também os métodos que passaram a estar em voga.
Quando acontece vermos aquilo que sabemos exposto segundo um outro método, ou mesmo numa língua estrangeira, o assunto ganha um especial encanto: surge como novidade e debaixo de um aspecto rejuvenescido.

Um Segredo de um Casamento Feliz

Desde que a Maria João e eu fizemos dez anos de casados que estou para escrever sobre o casamento. Depois caí na asneira de ler uns livros profissionais sobre o casamento e percebi que eu não percebo nada sobre o casamento.

Confesso que a minha ambição era a mais louca de todas: revelar os segredos de um casamento feliz. Tendo descoberto que são desaconselháveis os conselhos que ia dar, sou forçado a avisar que, quase de certeza, só funcionam no nosso casamento.

Mas vou dá-los à mesma, porque nunca se sabe e porque todos nós somos muito mais parecidos do que gostamos de pensar.

O casamento feliz não é nem um contrato nem uma relação. Relações temos nós com toda a gente. É uma criação. É criado por duas pessoas que se amam.

O nosso casamento é um filho. É um filho inteiramente dependente de nós. Se nós nos separarmos, ele morre. Mas não deixa de ser uma terceira entidade.

Quando esse filho é amado por ambos os casados – que cuidam dele como se cuida de um filho que vai crescendo -, o casamento é feliz. Não basta que os casados se amem um ao outro.

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És como o Ar que Respiro

Qual é a força extraordinária que possuis? — pergunto muitas vezes a mim mesmo. Dois ou três princípios cristãos inabaláveis — e por trás milhares de seres que desapareceram ignorados, cumprindo a vida ignorada. Nem sequer se debateram. Entregaram-se. Confiaram. A mulher portuguesa comunica ao lar a ternura com que os pássaros aquecem o ninho. Sua vida dá luz, para alumiar os outros. Foi assim com tão pequenos meios, que me ensinaste. Com uma palavra e mais nada, com um simples olhar, com silêncio e mais nada. Uma atitude fazia-me pensar. E mal sabes tu quando Os teus dedos ágeis trabalhavam a meu lado, teciam ao mesmo tempo o pano grosso de casa e a nossa vida espiritual.

E como tu milhares de seres têem cumprido a vida em silêncio, aceitando-a sem exageros. Nas mãos das mulheres até as coisas vulgares que se fazem na aldeia, cozer o pão, lançar a teia — assumem um carácter sagrado. Elas passam desconhecidas e dispõem dum poder extraordinário. Mantêem a vida ordenada com um sorriso tímido. A mulher está mais perto que nós da natureza e de Deus.

Cada vez me aproximo mais de ti. O que há de puro em mim a ti o devo.

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Felicidade não é Ociosidade

Robinson na sua ilha, privado de tudo e forçado aos trabalhos mais penosos para garantir a sua subsistência diária, suporta a vida e até usufrui, segundo confessa, de vários momentos de felicidade. Suponha que ele esteja numa ilha encantada, provida de tudo o que é agradável à vida, e talvez a ociosidade tivesse tornado a sua existência insuportável.

A Linguagem Disfarça o Pensamento

A linguagem disfarça o pensamento. E principalmente de tal forma que, segundo a forma exterior da roupagem, não é possível concluir sobre a forma do pensamento disfarçado; porque a forma exterior da roupagem visa a algo bem diferente do que permite reconhecer a forma do corpo. Os arranjos tácitos para a compreensão da linguagem quotidiana são de uma enorme complicação.

Confessor ou Psiquiatra ?

Há pessoas que procuram mais o psiquiatra que o confessor. Já foi ao contrário, e não é só questão de moda. O psiquiatra procura desfazer as confusões, o confessor oferece a energia para as ultrapassar. O primeiro ajuda a olhar para a culpa, o segundo garante a graça de que é possível começar de novo, mesmo com culpa. O assumir da culpa e o perdoar deviam andar juntos.

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