Passagens sobre Circunstâncias

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Frases sobre circunstâncias, poemas sobre circunstâncias e outras passagens sobre circunstâncias para ler e compartilhar. Leia as melhores citações em Poetris.

Quem Vence não Precisa de Dar Satisfações

Atenção para que as coisas lhe saiam bem. Alguns têm mais em mira o rigor da direcção que a felicidade de conseguir o intento, porém sempre prepondera mais o descrédito da infelicidade que o abono da diligência. Quem vence não precisa de dar satisfações. A maioria não percebe a exactidão das circunstâncias, mas apenas os bons ou maus sucessos; e, assim, nunca se perde reputação quando se consegue o intento. O bom fim tudo doura, mesmo que o desmintam os desacertos dos meios. Pois é arte ir contra a arte quando não se pode conseguir de outro modo a felicidade de sair-se bem.

Eu vou sugerir que o barbarismo seja considerado como uma característica humana permanente e universal, a qual se torna mais ou menos pronunciada de acordo com o jogo das circunstâncias.

A Maneira como cada um Pensa Determina a sua Maneira de Viver

A vida não é governada por actos ou circunstâncias extrínsecos, vindos de fora. Cada um de nós cria a sua própria vida pelos pensamentos que tem. Marco Aurélio afirmou: – «A nossa vida é o que os nossos pensamentos fazem dela.» Emerson disse: – «O homem é o que pensa ser.» Jesus Cristo ensinou: – «O que um homem pensa no seu coração é o que ele é.» Um simples pensamento não constrói ou destrói uma vida, mas um hábito de pensar pode fazê-lo. Não podemos pensar em derrota e sair vitoriosos. Um hábito fixo de esperança é a cura para um coração preocupado e perturbado. Podemos fazer mais contra nós ou a nosso fazer que qualquer força estranha.
A maneira como cada um pensa determina a sua maneira de viver. Todo o pensamento bom contribui com a sua quota-parte para o resultado final da nossa vida. Um simples pensamento tido pela manhã pode encher o dia inteiro de alegria e de sol, ou de tristeza e desânimo. Quantos dias não têm sido deprimentes devido a um pensamento inconsiderado ou malévolo. Você nunca poderá ser melhor ou mais elevado que o seu melhor pensamento.

Um homem pode ser um herói se ele é um cientista, ou um soldado, ou um viciado em drogas, ou um locutor, ou um medíocre político mesquinho. Um homem pode ser um herói porque ele sofre e se desespera; ou porque ele pensa logicamente e analiticamente; ou porque ele é “sensível”; ou porque ele é cruel. Riqueza estabelece um homem como um herói, assim como a pobreza. Virtualmente qualquer circunstância na vida de um homem o tornará um herói para algum grupo de pessoas e tem uma versão mítica na cultura — na literatura, arte, teatro, ou nos jornais diários.

Talento não é Sabedoria

Deixa-me dizer-te francamente o juízo que eu formo do homem transcendente em génio, em estro, em fogo, em originalidade, finalmente em tudo isso que se inveja, que se ama, e que se detesta, muitas vezes. O homem de talento é sempre um mau homem. Alguns conheço eu que o mundo proclama virtuosos e sábios. Deixá-los proclamar. O talento não é sabedoria. Sabedoria é o trabalho incessante do espírito sobra a ciência. O talento é a vibração convulsiva de espírito, a originalidade inventiva e rebelde à autoridade, a viagem extática pelas regiões incógnitas da ideia. Agostinho, Fénelon, Madame de Staël e Bentham são sabedorias. Lutero, Ninon de Lenclos, Voltaire e Byron são talentos.
Compara as vicissitudes dessas duas mulheres e os serviços prestados à humanidade por esses homens, e terás encontrado o antagonismo social em que lutam o talento com a sabedoria. Porque é mau o homem de talento ? Essa bela flor porque tem no seio um espinho envenenado ? Essa esplêndida taça de brilhantes e ouro porque é que contém o fel, que abrasa os lábios de quem a toca ? Aqui tens um tema para trabalhos superiores à cabeça de uma mulher, ainda mesmo reforçada por duas dúzias de cabeças académicas !

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A Única Realidade Social (2)

As qualidades puramente sociais que governam os homens são o egoísmo, a socialidade e a vaidade. Por socialidade entendo o instinto gregário; é ela que ameniza e limita, sem nunca o eliminar nem essencialmente o alterar, o egoísmo, qualidade primária, que se deriva da própria circunstância de haver um ego. A vaidade é a consequência do egoísmo na sua limitação pela sociedade; é a qualidade social humana mais evidente. Todo o homem quer ser mais que outro, todo o homem quer brilhar. Variam, com as índoles e as aptidões, as maneiras em que o homem quer destacar-se, mas cada um tem a sua vaidade.
Seria impossível a existência da sociedade se nela se não reproduzissem estes fenómenos da vida do indivíduo. Por isso a sociedade se divide em nações, e não é possível «humanidade» em matéria social. Assim como tem que haver um egoísmo individual, tem que haver um egoísmo colectivo – é o que se chama o instinto patriótico. Assim como há uma vaidade individual – tem que haver uma vaidade colectiva – é o que se chama imperalismo.

Felicidade Interiorizada

«Pergunta-me onde, neste mundo, se pode encontrar a felicidade?» Depois de numerosas experiências, convenci-me que ela reside apenas na satisfação em relação a nós próprios. As paixões não nos conseguem comunicar esse contentamento; desejamos sempre o impossível – o que obtemos nunca nos satisfaz. Penso que as pessoas dotadas de uma sólida virtude devem possuir uma grande porção dessa satisfação, que me parece imprescindível para a felicidade; eu, no entanto, como não me sinto suficientemente seguro para me satisfazer comigo próprio, dessa forma, procuro apoiar-me na verdadeira satisfação que comunica o trabalho.
Este, comunica-nos um bem real e aumenta a nossa indiferença em relação aos prazeres que são só de nome e com os quais as pessoas de sociedade se têm de contentar. Eis, minha querida amiga, a minha modesta filosofia – a qual, sobretudo quando me encontro bem de saúde, é de efeito seguro. Isto, contudo, não nos deve afastar das pequenas distracções que nos podem ocupar de vez em quando: um pequeno caso sentimental, de circunstância, a visita a um belo país ou as viagens, de modo geral, podem deixar na nossa memória encantadores traços. Recordamo-nos mais tarde de todas estas emoções, quando nos encontramos longe ou não conseguimos encontrar outras,

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A Realidade e o Modo

Não basta a substância, requer-se também a circunstância. Um mau modo tudo estraga, até a justiça e a razão. O bom tudo supre; doura o não, adoça a verdade e enfeita até a velhice. É grande o papel do como nas coisas, e o bom jeito é o essencial das coisas. O bel portar-se é a gala do viver, desempeço singular de todo o bom termo.

A Distorção do Entendimento

Que difícil é propor um problema ao entendimento alheio sem corromper esse entendimento pela maneira de propor! Se dizemos: acho isto belo, acho obscuro, ou outra coisa semelhante, arrastamos a imaginação para este juízo, ou irritamo-la, levando-a ao juízo contrário. Mais vale nada dizer, e então o outro julga segundo o que é, ou segundo o que é naquele momento, e de acordo com o que as outras circunstâncias, de que não somos responsáveis, lá tiverem posto. Mas pelo menos nós não pusemos nada; a não ser que o nosso silêncio tenha também o seu efeito, segundo o sentido e a interpretação que ele estiver disposto a atribuir-lhe, ou segundo o que depreende dos movimentos e da expressão do rosto, ou do tom de voz, conforme for melhor ou pior fisionomista: tão difícil é não deslocar um entendimento da sua base natural, ou antes, tão pouco um entendimento tem de firme e estável!

Os Convencidos da Vida

Todos os dias os encontro. Evito-os. Às vezes sou obrigado a escutá-los, a dialogar com eles. Já não me confrangem. Contam-me vitórias. Querem vencer, querem, convencidos, convencer. Vençam lá, à vontade. Sobretudo, vençam sem me chatear.
Mas também os aturo por escrito. No livro, no jornal. Romancistas, poetas, ensaístas, críticos (de cinema, meu Deus, de cinema!). Será que voltaram os polígrafos? Voltaram, pois, e em força.
Convencidos da vida há-os, afinal, por toda a parte, em todos (e por todos) os meios. Eles estão convictos da sua excelência, da excelência das suas obras e manobras (as obras justificam as manobras), de que podem ser, se ainda não são, os melhores, os mais em vista.
Praticam, uns com os outros, nada de genuinamente indecente: apenas um espelhismo lisonjeador. Além de espectadores, o convencido precisa de irmãos-em-convencimento. Isolado, através de quem poderia continuar a convencer-se, a propagar-se?
(…) No corre-que-corre, o convencido da vida não é um vaidoso à toa. Ele é o vaidoso que quer extrair da sua vaidade, que nunca é gratuita, todo o rendimento possível. Nos negócios, na política, no jornalismo, nas letras, nas artes. É tão capaz de aceitar uma condecoração como de rejeitá-la.

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Um carácter bom, moderado e brando pode sentir-se satisfeito em circunstâncias adversas; enquanto que um carácter cobiçoso, invejoso e mau não se contenta nem mesmo no meio de todas as riquezas.

Quanto Mais Objectos de Interesse um Homem Tem, Mais Ocasiões Tem Também de Ser Feliz

Toda a desilusão é para mim uma doença que certas circunstâncias podem tornar inevitável, é verdade, mas que, quando se produz, nem por isso deve deixar de ser tratada o mais rápidamente possível, em vez de ser olhada como uma forma superior de sabedoria. Um homem, suponhamos, gosta de morangos e um outro não gosta; em que é que o último é superior ao primeiro? Não há nenhuma prova impessoal e abstracta de que os morangos sejam bons ou maus. Para quem gosta são bons, para quem não gosta são maus. Mas o homem que gosta tem um prazer que o outro não conhece; sobre este ponto, a sua vida é mais agradável e está melhor adaptado ao mundo onde ambos têm de viver.

O que é verdadeiro neste exemplo trivial é igualmente verdade nas questões mais importantes. O homem que gosta de assistir a desafios de futebol é sob esse aspecto supeior ao homem que não gosta. O que aprecia a leitura é ainda mais superior do que aquele que não a aprecia, pois as oportunidade de ler são mais frequentes do que as de ver desafios de futebol. Quanto mais objectos de interesse um homem tem,

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A Democracia Política Conduz à Ineficiência e Fraqueza de Direcção

Os defeitos da democracia política como sistema de governo são tão óbvios, e têm sido tantas vezes catalogados, que não preciso mais do que resumi-los aqui. A democracia política foi criticada porque conduz à ineficiência e fraqueza de direcção, porque permite aos homens menos desejáveis obter o poder, porque fomenta a corrupção. A ineficiência e fraqueza da democracia política tornam-se mais aparentes nos momentos de crise, quando é preciso tomar e cumprir decisões rapidamente. Averiguar e registar os desejos de muitos milhões de eleitores em poucas horas é uma impossibilidade física. Segue-se, portanto, que, numa crise, uma de duas coisas tem de acontecer: ou os governantes decidem apresentar o facto consumado da sua decisão aos eleitores – em cujo caso todo o princípio da democracia política terá sido tratado com o desprezo que em circunstâncias críticas ela merece; ou então o povo é consultado e perde-se tempo, frequentemente, com consequências fatais. Durante a guerra todos os beligerantes adoptaram o primeiro caminho. A democracia política foi em toda a parte temporariamente abolida. Um sistema de governo que necessita de ser abolido todas as vezes que surge um perigo, dificilmente se pode descrever como um sistema perfeito.

Se não compreendeis o vosso amigo em todas as circunstância, nunca sereis capaz de o compreender.

Se voltasse a ser jovem e tivesse de escolher uma profissão, não tentaria tornar-me cientista, académico ou professor. Preferiria ser canalizador ou vendedor ambulante na esperança de obter aquele modesto grau de independência ainda possível nas circunstâncias actuais.

O Terror como Base da Religião

É verdade que tanto o medo como a esperança entram na religião, porque estas duas paixões, em alturas diferentes, agitam a mente humana e cada uma delas forma uma espécie de divindade que lhe é adequada. Mas, quando um homem se sente bem, ele está inclinado para os negócios, para o convívio ou para qualquer espécie de divertimento, e dedica-se naturalmente a essas actividades e não pensa em religião. Quando está melancólico e abatido, tudo o que para fazer é meditar sobre os terrores do mundo invisível, e mergulhar mais profundamente ainda na aflição. Pode realmente acontecer que, após ter assim gravado profundamente as opiniões religiosas no seu pensamento e imaginação, ocorra uma alteração da saúde ou das circunstâncias que restaure o seu bom humor e, ocasionando boas perspectivas de futuro, o faça cair no extremo oposto da alegria e triunfo. Mas, ainda assim deve reconhecer-se que, como o terror é o princípio primordial da religião, é essa a paixão que predomina nela e que só admite pequenos intervalos de prazer.

O homem de bem, no meio de malvados, resvala sempre; e nós estamos acostumados a associar-nos ao mais forte, a pisar em quem está no chão e a julgar segundo as circunstâncias.