Na Paz Não Há Verdadeiro Progresso, o Egoísmo Impera
A ciência e a arte progridem sempre num primeiro período imediato a uma guerra. A guerra renova-as, rejuvenesce-as, fomenta, fortalece, as ideias e imprime-lhes certo impulso. Numa larga paz, pelo contrário, sucumbe também a ciência. Indiscutivelmente o culto da ciência requer valor e até espírito de sacrifício. Mas quantos sábios resistem à praga da paz? A falsa honra, o egoísmo e a ânsia de prazeres superficiais, bestiais, fazem também mossa no seu espírito. Procure o senhor acabar com uma paixão como a inveja, por exemplo; é ordinário e vulgar, mas com tudo isso penetra até nas nobílissimas almas dos sábios. Também o sábio acaba por querer ter a sua parte no brilho e esplendores gerais. Que significa, ante o triunfo da riqueza, o triunfo de uma descoberta científica, a menos que seja tão estrondosa como a descoberta de um novo planeta? Parece-lhe que em tais circunstâncias haverá ainda muitos escravos do trabalho para o bem geral?
Longe disso, procura-se a glória e cai-se no charlatanismo, na procura do efeito, e antes de mais nada no utilitarismo… visto que também se quer, ao mesmo tempo, ser rico. Na arte acontece o mesmo que na ciência: idêntica ânsia do efeito,
Passagens sobre Guerra
633 resultadosAmor não Tem Número
Se você não tomar cuidado vira número até para si mesmo. Porque a partir do instante em que você nasce classificam-no com um número. Sua identidade no Félix Pacheco é um número. O registro civil é um número. Seu título de eleitor é um número. Profissionalmente falando você também é. Para ser motorista, tem carteira com número, e chapa de carro. No Imposto de Renda, o contribuinte é identificado com um número. Seu prédio, seu telefone, seu número de apartamento — tudo é número.
Se é dos que abrem crediário, para eles você é um número. Se tem propriedade, também. Se é sócio de um clube tem um número. Se é imortal da Academia Brasileira de Letras tem o número da cadeira.
É por isso que vou tomar aulas particulares de Matemática. Preciso saber das coisas. Ou aulas de Física. Não estou brincando: vou mesmo tomar aulas de Matemática, preciso saber alguma coisa sobre cálculo integral.
Se você é comerciante, seu alvará de localização o classifica também.
Se é contribuinte de qualquer obra de beneficência também é solicitado por um número. Se faz viagem de passeio ou de turismo ou de negócio recebe um número. Para tomar um avião,
Eu não sou apenas um pacifista, mas um pacifista militante. Estou disposto a lutar pela paz. Nada vai acabar com a guerra a menos que a pessoas se recusem a ir para a guerra.
Só a necessidade há-de obrigar à guerra, mas a vontade sempre há-de desejar a paz.
Regras de Conduta para Viver sem Sobressaltos
Vou indicar-te quais as regras de conduta a seguir para viveres sem sobressaltos. (…) Passa em revista quais as maneiras que podem incitar um homem a fazer o mal a outro homem: encontrarás a esperança, a inveja, o ódio, o medo, o desprezo. De todas elas a mais inofensiva é o desprezo, tanto que muitas pessoas se têm sujeitado a ele como forma de passarem despercebidas. Quem despreza o outro calca-o aos pés, é evidente, mas passa adiante; ninguém se afadiga teimosamente a fazer mal a alguém que despreza. É como na guerra: ninguém liga ao soldado caído, combate-se, sim, quem se ergue a fazer frente.
Quanto às esperanças dos desonestos, bastar-te-á, para evitá-las, nada possuíres que possa suscitar a pérfida cobiça dos outros, nada teres, em suma, que atraia as atenções, porquanto qualquer objecto, ainda que pouco valioso, suscita desejos se for pouco usual, se for uma raridade. Para escapares à inveja deverás não dar nas vistas, não gabares as tuas propriedades, saberes gozar discretamente aquilo que tens. Quanto ao ódio, ou derivará de alguma ofensa que tenhas feito (e, neste caso, bastar-te-á não lesares ninguém para o evitares), ou será puramente gratuito, e então será o senso comum quem te poderá proteger.
Façam por não Verem Mais
MOTE
Vós, ó mães idolatradas,
Façam por não verem mais
Crianças abandonadas,
Tísicas — nos hospitais.GLOSAS
Sim, vós, ó mães carinhosas,
Criai as vossas filhinhas,
Educai-as de criancinhas,
Mas não em leis religiosas,
Que essas leis são perigosas,
E p’los homens inventadas.
Não sigam, pois, enganadas
Pelos padres sem consciência,
E amem o deus-Providência,
Vós, ó mães idolatradas!…Se quereis ver a religião,
Já noutro tempo atrasado,
Leiam um livro chamado
«Mistérios da Inquisição»…
Lendo aí, compreenderão
Como as pessoas reais
Mandaram fuzilar pais
E mães sem fazerem mal.
Padres e gente real,
Façam por não verem mais.E quando se saiba amar
Como irmãos, em toda a terra,
Bombas, revoluções e guerra
Para sempre hão-de acabar;
Nem mais se hão-de encontrar
Mulheres «matriculadas» —
Infelizes que, desonradas,
Ali procuram a morte,
Deixando, aos vaivéns da sorte,
Crianças abandonadas.Hão-de acabar os ladrões,
Os patifes, os mariolas —
Quando se fizerem escolas
Das igrejas e prisões.
As conquistas mais importantes, depois da Segunda Guerra Mundial, são as trágicas, as que destroem a natureza. Essa porcaria dos transgénicos, por exemplo, que estão sobrecarregados de químicos para que os bichos não lhes peguem. E quando os bichos não pegam, isso é um péssimo sinal.
Eu gostaria de viver num mundo constituído exclusivamente por mulheres. Queria que as mulheres governassem, dessem ordens aos homens, mandassem, impusessem a sensibilidade delas aos problemas do mundo. Não haveria tantos desmandos nem tantas guerras. As artes floresceriam. As mulheres têm mais juízo. Os homens são sonhadores e malucos. As mulheres são Benazhir Bhutto. Os homens são Saddam Hussein.
A guerra encontra sempre um caminho.
Escutem – não existe nenhuma guerra que acabe com todas as guerras.
Dar o que Temos é Pouco
Quem apenas dá o que tem dá sempre pouco. Cada um de nós é muito mais do que aquilo que possui. Assim, mais do que dar o que temos, devemos dar o que somos.
Quem dá o que é irradia o bem da sua existência, semeia-se enquanto bondade… faz-se mais e melhor.
Há quem tenha tudo e não seja nada. Julgando que o seu valor está no que possui, exibe os seus bens como se fossem condecorações… desprezando não só o que é, mas, e ainda mais importante, o que poderia ser.
Quanto às coisas materiais, será melhor merecer o que não se tem do que ter o que não se merece… tal como é preferível ser credor do que devedor.
Nunca é bom depender do que não depende de nós.
Hoje confundem-se desejos com necessidades. Na verdade, não são sequer comparáveis, na medida em que os desejos buscam uma satisfação inalcançável. Pois assim que se sacia um desejo, logo outro, maior, toma o seu lugar. São vontades estranhas à nossa paz e capazes de alimentar contra nós uma guerra sem fim. É importante que atendamos às nossas verdadeiras carências, mas com o cuidado de afastar daí todos os desejos que querem passar por elas.
É um desejo utópico, é um desejo profundo no homem: um bem-estar, e não esta inquietude permanente de guerras.
Faz greve à guerra, pois sem ti não poderão existir batalhas!
Novo Ano
Eu desejaria que o Novo Ano trouxesse no ventre morte, peste e guerra. Morte à senilidade idealista e à retórica embalsamada; peste para um certo código cultural que age sobre os grupos e os transforma em colectividades emocionais; guerra à recuperação da personalidade duma cultura extinta que nada tem a ver com a cultura em si mesma.
Eu desejaria que o Novo Ano trouxesse nos braços a vida, a energia e a paz. Vida o suficientemente despersonalizada no caudal urbano para que os desvios individuais não sejam convite ao eterno controlo e expressão das pessoas; energia para desmascarar o sectarismo da sociedade secularizada em que o estado afectivo é mais forte do que a acção; paz para os homens de boa e de má vontade.
(31 de
Se a guerra tem de fazer-se, que se faça unicamente com a mira de obter a paz.
Ruinas
Pandeiros rôtos e côxas táças de crystal aos pés da muralha.
Heras como Romeus, Julietas as ameias. E o vento toca, em bandolins distantes, surdinas finas de princezas mortas.
Poeiras adormecidas, netas fidalgas de minuetes de mãos esguias e de cabelleiras embranquecidas.
Aquellas ameias cingiram uma noite peccados sem fim; e ainda guardam os segredos dos mudos beijos de muitas noites. E a lua velhinha todas as noites réza a chorar: Era uma vez em tempo antigo um castello de nobres naquelle lugar… E a lua, a contar, pára um instante – tem mêdo do frio dos subterraneos.
Ouvem-se na sala que já nem existe, compassos de danças e rizinhos de sêdas.
Aquellas ruinas são o tumulo sagrado de um beijo adormecido – cartas lacradas com ligas azues de fechos de oiro e armas reais e lizes.
Pobres velhinhas da côr do luar, sem terço nem nada, e sempre a rezar…
Noites de insonia com as galés no mar e a alma nas galés.
Archeiros amordaçados na noite em que o côche era de volta ao palacio pela tapada d’El-rei. Grande caçada na floresta–galgos brancos e Amazonas negras.
Da escola de guerra da vida – o que não me mata, fortalece-me.
O Amor Português não é um Fenómeno Ternurento
Do carinho e do mimo, toda a gente sabe tudo o que há a saber — e mais um bocado. Do amor, ninguém sabe nada. Ou pensa-se que se sabe, o que é um bocado menos do que nada. O mais que se pode fazer é procurar saber quem se ama, sem querer saber que coisa é o amor que se tem, ou de que sítio vem o amor que se faz.
Do amor é bom falar, pelo menos naqueles intervalos em que não é tão bom amar. Todos os países hão-de ter a sua própria cultura amorosa. A portuguesa é excepcional. Nas culturas mais parecidas com a nossa, é muito maior a diferença que se faz entre o amor e a paixão. Faz-se de conta que o amor é uma coisa — mais tranquila e pura e duradoura — e a paixão é outra — mais doída e complicada e efémera. Em Portugal, porém, não gostamos de dizer que nos «enamoramos», e o «enamoramento» e outras palavras que contenham a palavra «amor» são-nos sempre um pouco estranhas. Quando nós nos perdemos de amores por alguém, dizemos (e nitidamente sentimos) que nos apaixonamos. Aqui, sabe-se lá por que atavismos atlânticos,
A Necessidade do Desarmamento
A realização do plano de desarmamento tem sido prejudicada principalmente por ninguém se dar verdadeiramente conta da enorme dificuldade do problema em geral. A maior parte dos objectivos só são atingidos a passos lentos. Basta pensar na substituição da Monarquia absoluta pela Democracia! É um objectivo que convém atingir depressa.
Com efeito, enquanto não for excluída a possibilidade de guerra, as nações não prescindirão de se prepararem militarmente o melhor possível, para poderem enfrentar vitoriosamente a próxima guerra. Nem tão-pouco se prescindirá de educar a juventude nas tradições guerreiras, de alimentar a comezinha vaidade nacional aliada à glorificação do espírito guerreiro, enquanto for preciso contar com a possibilidade de vir a fazer uso desse espírito dos cidadãos na resolução dos conflitos pelas armas. Armar-se significa precisamente afirmar e preparar a guerra e não a paz! Portanto, não interessa proceder ao desarmamento gradual mas radicalmente, de uma só vez, ou nunca.
A realização de tão profunda modificação na vida dos povos tem como condição um enorme esforço moral e o abandono de tradições profundamente enraizadas. Quem não estiver preparado para, em caso de conflito, fazer depender o destino da sua pátria incondicionalmente das decisões dum tribunal internacional de arbitragem,
Os resultados das guerras são duvidosos.