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Somos todos irmãos, não porque dividamos, o mesmo teto e a mesma mesa: divisamos a mesma espada, sobre nossa cabeça.

Solidão

Vago aroma de esteva, ao mesmo tempo ardente e virgem,
E este murmúrio doce da folhagem,
São o falar do mato, na estiagem,
Segredando os mistérios da origem.

Calma profunda, doce, resignada…
A vida não é mais do que o viver
Da paisagem nostálgica e pasmada.

A solidão tem dedos de veludo,
De frementes afagos delicados.
— Bendita solidão, que beijas tudo,
Onde andarão meus sonhos desvairados?!…

Nestes montados, Que purificação me invade a alma!
Como entra, em mim, toda a serenidade
Dos ermitões, orando na paisagem!

Nesta paisagem,
Calma, calma, calma,
Como a Eternidade.

A Armadilha do Quotidiano

Enquanto, submetidos que andamos à monstruosidade, quase não conseguimos levantar os olhos e ver à nossa volta para decidir o que havemos de fazer e como havemos de aplicar o que de melhor existe nas nossas forças e na nossa actividade, e enquanto nos fizer falta o mais elevado dos entusiasmos, que só pode existir se não for de natureza empírica, há-de continuar a haver, não digo dragões, mas pelo menos vermes miseráveis a roer o nosso quotidiano.

Raramente nos apaixonamos sem nos sentirmos tão atraídos por aquilo que é objectivamente saudável no ser amado como por aquilo que é interessantemente errado nele.

Assim como se diz que a hipocrisia é o maior elogio da virtude, a arte de mentir é o mais forte reconhecimento da força da verdade.