O Dinheiro é o Coroamento de uma Existência Moral e Racional
A riqueza moral tem estreitas afinidades com a material; (…) não é difícil perceber por que razão isso acontece. É que a moral substitui a alma pela lógica; quando uma alma tem moral, deixam de existir para ela problemas morais, todos são problemas lógicos; pergunta-se se aquilo que quer fazer obedece a este ou àquele mandamento, se a sua intenção deve ser interpretada de uma maneira ou de outra, e coisas semelhantes. Seria como se uma horda caótica de gente se transformassse numa classe de ginástica disciplinada que, a um sinal do monitor, obedecesse às ordens de torção à direita, esticar os braços ou flectir os joelhos. Mas a lógica pressupõe experiências passíveis de repetição; é óbvio que, no momento em que os acontecimentos mudassem num torvelinho em que nada se repete, nunca chegaríamos a poder expressar a profunda intuição de que A é igual a A, ou de que o que é maior não pode ser menor, mas limitar-nos-íamos a sonhar – um estado que qualquer pensador detesta. E o mesmo se pode dizer da moral, pois se não existisse nada que se pudesse repetir, nada nos poderia ser prescrito, e sem poder prescrever nada às pessoas a moral não teria graça nenhuma.
Passagens sobre Classe
126 resultadosO que as pessoas não conseguiram, e alguma razão têm, foi vencer o medo de perder o emprego. E o resultado é a neutralização do espírito de militância que durante gerações caracterizou a classe operária.
Madrugada
Do fundo de meu quarto, do fundo
de meu corpo
clandestino
ouço (não vejo) ouço
crescer no osso e no músculo da noite
a noitea noite ocidental obscenamente acesa
sobre meu país dividido em classes
Os Herdeiros da Humanidade
As gerações passadas puderam acreditar que o progresso intelectual e o da civilização não eram senão frutos do trabalho dos seus antepassados, frutos esses que herdavam e lhes permitiam uma vida mais fácil e mais bela. Mas as experiências mais duras dos nossos tempos mostram que isso era uma ilusão nefasta.
Vemos que é preciso fazer os maiores esforços para que essa herança não se transforme em maldição, mas sim em bênção para a Humanidade. Se outrora um homem já tinha valor, do ponto de vista social, quando se libertava, em certa medida, do egoísmo pessoal, exige-se-lhe hoje que vença também o egoísmo nacional e de classe. Pois só então, quando se tiver elevado a esse ponto, poderá contribuir para a melhoria do destino da comunidade humana.
No que respeita a essa exigência primordial do nosso tempo, os habitantes dos Estados mais pequenos estão numa situação relativamente mais favorável do que os cidadãos dos grandes Estados, por se encontrarem estes últimos política e economicamente expostos às tentações de prepotência bruta. O acordo entre a Holanda e a Bélgica, único ponto luminoso na evolução europeia nos últimos tempos, faz esperar que caberá às nações pequenas um papel preponderante na libertação do jugo degradante do militarismo,
É arrogante a classe dos cientistas-naturalistas que querem liquidar Deus completamente, como supérfluo, substituindo-o pelas leis naturais. Substituem uma idéia ininteligível por outra equivalente. Sob a presunção de controle e compreensibilidade bem humanas sobre a natureza.
Coragem… pequeno soldado do imenso exército. Os teus livros são as tuas armas, a tua classe é a tua esquadra, o campo de batalha é a terra inteira, e a vitória é a civilização humana.
Mas porque é que estas ideias não as tem defendido a classe médica? É simples a resposta. É que não há pílulas de sol, nem injeções de exercício, nem tão pouco vacinas de ar… e é preciso viver dos doentes.
Há uma coisa que gostei de ouvir do Fellini: tinha uma grande admiração pelas pessoas que falham e persistem. Persistem com a mesma vontade, ou mais forte, com a ideia de alcançarem a finalidade última. Considero-me um pouco dentro dessa classe.
O Grande Educador
É além de tudo essencial que a escola se não separe do mundo; não há escolas e oficinas; há um certo género de oficinas em que trabalham crianças nas tarefas que lhes são adequadas e lhes vão facilitando o desenvolvimento do corpo e do espírito; vão colaborando no que podem e no que sabem para que a vida melhore. Ninguém fugirá da escola e a olhará como um horror no dia em que a deixemos de conceber como o lugar a que se vai para receber uma lição, para a considerarmos como o ponto de condições óptimas para que uma criança efectivamente dê a sua ajuda a todos os que estão procurando libertar a condição humana do que nela há de primitivo; não se veja no aluno o ser inferior e não preparado a que se põe tutor e forte adubo; isso é o diálogo entre o jardineiro e o feijão; outra ideia havemos de fazer das possibilidades do homem e do arranjo da vida; que a criança se não deixe nunca de ver como elemento activo na máquina do mundo e de reconhecer que a comunidade está aproveitando o seu trabalho; de número na classe e de fixador de noções temos de a passar a cidadão.
O destino quis que a gente se achasse, na mesma estrofe e na mesma classe, no mesmo verso e na mesma frase.
O Significado dos Sonhos
Os meu sonhos eram de muitas espécies mas representavam manifestações de um único estado de alma. Ora sonhava ser um Cristo, a sacrificar-me para redimir a humanidade, ora um Lutero, a quebrar com todas as convenções estabelecidas, ora um Nero, mergulhado em sangue e na luxúria da carne. Ora me via numa alucinação o amado das multidões, aplaudido, desfilando ao longo (…), ora o amado das mulheres, atraindo-as arrebatadoramente para fora das suas casas, dos seus lares, ora o desprezado por todos embora o eleito do bem, por todos a sacrificar-me. Tudo o que lia, tudo o que ouvia, tudo o que via — cada ideia vinda de fora, cada (…), cada acontecimento era o ponto de partida de um sonho. Vinha de um circo e ficava em casa ousando imaginar-me um palhaço, com luzes em arco à minha volta. Via soldados passarem na minha mente a falarem com uma visão de mim próprio, tratando-me por capitão, chefiando, ordenando, vitorioso. Quando lia algo acerca de aventureiros imediatamente me convertia neles, por completo. Quando lia algo acerca de criminosos, morria por cometer crimes até me apavorar com o meu desarranjo mental. Conforme as coisas que via, ou ouvia, ou lia, vivia em todas as classes sociais,
Os Homens não Sabem o que é o Amor
De forma geral, os homens não sabem o que é amor, é um sentimento que lhes é totalmente estranho. Conhecem o desejo, o desejo sexual em estado bruto e a competição entre machos; e depois, muito mais tarde, já casados, chegam, chegavam antigamente, a sentir um certo reconhecimento pela companheira quando ela lhes tinha dado filhos, tinha mantido bem a casa e era boa cozinheira e boa amante – então chegavam a ter prazer por dormirem na mesma cama. Não era talvez o que as mulheres desejavam, talvez houvesse aí um mal-entendido, mas era um sentimento que podia ser muito forte – e mesmo quando eles sentiam uma excitação, aliás cada vez mais fraca, por esta ou aquela mulher, já não conseguiam literalmente viver sem a mulher e, se acontecia ela morrer, eles desatavam a beber e acabavam rapidamente, em geral uns meses bastavam. Os filhos, esses, representavam a transmissão de uma condição, de regras e de um património. Era evidentemente o que acontecia nas classes feudais, mas igualmente com os comerciantes, camponeses, artesãos, de forma geral com todos os grupos da sociedade. Hoje, nada disso existe.
As pessoas são assalariadas, locatárias, não têm nada para deixar aos filhos.
Conheci um tipo muito débil, mas essa era a sua defesa. Conheci um tipo muito forte e essa era a sua defesa. Conheci um tipo da classe média física e esse fartava-se de levar porrada.
A gente sofre muito: o que é preciso é sofrer bem, com discernimento, com classe, som serenidade de quem já é iniciado no sofrimento. Não para tirar dele uma compensação, mas um reflexo.
Quem lê é a classe média.
O que é terrível é pretender que aquilo que é de segunda classe é de primeira classe. Pretender que não precisas de amor quando precisas; ou que gostas do teu trabalho quando sabes muito bem que serias capaz de melhor.
A sociedade compõe-se de duas classes: os que têm mais jantares que apetite, e os que têm mais apetite que jantares.
Todos os homens são influenciados pelo preconceito de classe, e só uns poucos são inteligentes
Todos os homens são influenciados pelo preconceito de classe, e só uns poucos são inteligentes.
Um homem passa por tudo: coisas boas e coisas más, casamentos e divórcios, nascimentos e mortes – e não consegue, no fim, construir um olhar suficientemente irónico que o livre do azedume? Ou é estúpido ou a vida foi-lhe especialmente ingrata – e, como três quartos dos velhos maus que conheço são pelo menos de classe média, portanto fundamentalmente ricos, eu começava a confiar mais na primeira hipótese.
O mundo terá acabado de se foder, disse então, no dia em que os homens viajarem de primeira classe e a literatura no vagão de carga.