Citação de

O Dinheiro é o Coroamento de uma Existência Moral e Racional

A riqueza moral tem estreitas afinidades com a material; (…) não é difícil perceber por que razão isso acontece. É que a moral substitui a alma pela lógica; quando uma alma tem moral, deixam de existir para ela problemas morais, todos são problemas lógicos; pergunta-se se aquilo que quer fazer obedece a este ou àquele mandamento, se a sua intenção deve ser interpretada de uma maneira ou de outra, e coisas semelhantes. Seria como se uma horda caótica de gente se transformassse numa classe de ginástica disciplinada que, a um sinal do monitor, obedecesse às ordens de torção à direita, esticar os braços ou flectir os joelhos. Mas a lógica pressupõe experiências passíveis de repetição; é óbvio que, no momento em que os acontecimentos mudassem num torvelinho em que nada se repete, nunca chegaríamos a poder expressar a profunda intuição de que A é igual a A, ou de que o que é maior não pode ser menor, mas limitar-nos-íamos a sonhar – um estado que qualquer pensador detesta. E o mesmo se pode dizer da moral, pois se não existisse nada que se pudesse repetir, nada nos poderia ser prescrito, e sem poder prescrever nada às pessoas a moral não teria graça nenhuma. Este atributo da repetitividade, próprio da moral e da razão, é ainda mais indissociável do dinheiro; este consiste precisamente nisso e, desde que não sofra desvalorização, divide e classifica todos os prazeres do mundo em pequenos blocos de poder de compra com os quais construímos o que quisermos. É por isso que o dinheiro é moral e racional; e como todos sabemos que o inverso não é verdadeiro, isto é, que todo o homem moral e racional tem dinheiro, daí se deduz que esses atributos residem originalmente no dinheiro, ou pelo menos que o dinheiro é o coroamento de uma existência moral e racional.