Passagens sobre Fácil

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As Três Realidades Sociais

Há três realidades sociais – o indivíduo, a Nação, a Humanidade. Tudo mais é fictício. São ficções a Família, a Religião, a Classe. É ficção o Estado. É ficção a Civilização.
O indivíduo, a Nação, a Humanidade são realidades porque são perfeitamente definidos. Têm contorno e forma. O indivíduo é a realidade suprema porque tem um contorno material e mental — é um corpo vivo e uma alma viva.
A Nação é também uma realidade, pois a definem o território, ou o idioma, ou a continuidade histórica — um desses elementos, ou todos. O contorno da nação é contudo mais esbatido, mais contingente, quer geograficamente, porque nem sempre as fronteiras são as que deviam ser; quer linguisticamente, porque largas distâncias no espaço separam países de igual idioma e que naturalmente deveriam formar uma só nação; quer historicamente, porque, por uma parte, critérios diferentes do passado nacional quebram, ou tendem para o quebrar, o vasículo nacional, e, por outra, a continuidade histórica opera diferentemente sobre camadas da população, diferentes por índole, costumes ou cultura.
A Humanidade é outra realidade social, tão forte como o indivíduo, mais forte ainda que a Nação, porque mais definida do que ela. O indivíduo é,

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Medida e Moderação

A mocidade é romântica, sempre dominada pelo sentimento; a velhice é clássica nos seus gostos, mais amiga da ordem e da restrição que da paixão e da liberdade; a idade madura paira entre os dois extremos, e com a vontade disciplinada, o espírito claro e os desejos coordenados, pacientemente constrói. A regra do conhecimento, disse Descartes, é pensar com clareza; só o que é claramente compreendido é verdade; só assim os desejos se fundem no carácter e na vontade.
A grande qualidade dos anos maduros está na moderação; e o grande defeito, na mediocridade. Nada mais fácil do que fugir ao esforço para cair na rotina, passando da vida vertical para a horizontal. Este perigo ameaça a maior parte dos homens; a sesta durante a tarde é um símbolo e um começo. Mas moderação de nenhum modo implica mediocridade; pode significar força e profundidade de espírito. A acção resoluta combina-se com a moderação no desejar e no falar. O próprio Nietzsche, tão imoderado, dizia que poucos conhecem a força e a significação de duas coisas muito altas – medida e moderação.

Amor Mais Perfeito

Amor mais perfeito
não é feito do fácil.
Floresce por dentro
embora se pretenda que cesse.
E quando nas águas da pressa
foge o amor mais depressa,
é tempo de saber
quanto dura
o tempo de não saber.

Dizer facilmente até as coisas mais fáceis de serem ditas não é nada fácil, ou melhor, é algo muito difícil entre as coisas mais difíceis.

O Assombro da Incoerência do Nosso Ser

Sou um mero espectador da vida, que não tenta explicá-la. Não afirmo nem nego. Há muito que fujo de julgar os homens, e, a cada hora que passa, a vida me parece ou muito complicada e misteriosa ou muito simples e profunda. Não aprendo até morrer – desaprendo até morrer. Não sei nada, não sei nada, e saio deste mundo com a convicção de que não é a razão nem a verdade que nos guiam: só a paixão e a quimera nos levam a resoluções definitivas.
O papel dos doidos é de primeira importância neste triste planeta, embora depois os outros tentem corrigi-lo e canalizá-lo… Também entendo que é tão difícil asseverar a exactidão dum facto como julgar um homem com justiça.
Todos os dias mudamos de opinião. Todos os dias somos empurrados para léguas de distância por uma coisa frenética, que nos leva não sei para onde. Sucede sempre que, passados meses sobre o que escrevo – eu próprio duvido e hesito. Sinto que não me pertenço…
É por isso que não condeno nem explico nada, e fujo até de descer dentro de mim próprio, para não reconhecer com espanto que sou absurdo – para não ter de discriminar até que ponto creio ou não creio,

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Perdoar não é difícil. É, aliás, bastante fácil quando te amas. É uma consequência normal de quereres sempre o melhor para ti e depois, sem dares conta, torna-se num hábito.

A Inutilidade dos Sindicatos

A sindicação, saída da liberdade como o monopólio espontâneo, é igualmente inimiga dela, e sobretudo das vantagens dela; é-o com menos brutalidade e evidência e, por isso mesmo, com mais segurança. Um sindicato ou associação de classe — comercial, industrial, ou de outra qualquer espécie — nasce aparentemente de uma congregação livre dos indivíduos que compõem essa classe; como, porém, quem não entrar para esse sindicato fica sujeito a desvantagens de diversa ordem, a sindicação é realmente obrigatória. Uma vez constituído o sindicato, passam a dominar nele — parte mínima que se substitui ao todo — não os profissionais (comerciantes, industriais, ou o que quer que sejam), mais hábeis e representativos, mas os indivíduos simplesmente mais aptos e competentes para a vida sindical, isto é, para a política eleitoral dessas agremiações. Todo o sindicato é, social e profissionalmente, um mito.
Mais incisivamente ainda: nenhuma associação de classe é uma associação de classe. No caso especial da sindicação na indústria e no comércio, o resultado é desaparecerem todas as vantagens da concorrência livre, sem se adquirir qualquer espécie de coordenação útil ou benéfica. O caráter natural do regímen livre atenua-se, porque surge em meio dele este elemento estranho e essencialmente oposto à liberdade.

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Bem Supremo e Razão

Quando a experiência me ensinou que os acontecimentos ordinários da vida são fúteis e vãos e me apercebi de que tudo que era para mim causa ou objecto de receio não tem em si mesmo nada de bom ou de mau, a não ser na medida da comoção que excita na alma, resolvi, finalmente, indagar se existia um bem verdadeiro e susceptível de se comunicar, qualquer coisa enfim cuja descoberta e posse me trouxessem para sempre um júbilo continuo e soberano.
(…) O que nos ocupa mais frequentemente na vida e que os homens, como pode concluir-se dos seus actos, consideram ser o bem supremo pode reduzir-se a três coisas: riqueza, fama, prazer dos sentidos.
Ora cada um deles distrai o espírito de tal modo que mal pode pensar noutro bem. (…)
– Pelo prazer sensual se detém a alma como se repousasse num bem verdadeiro, o que a impede em absoluto de pensar noutra coisa; após o prazer vem a extrema tristeza, que, se não suspende o pensamento, perturba e embota. A busca da fama e da riqueza não absorve menos o espírito, sobretudo quando a riqueza é desejada por si mesma, conferindo-lhe, então, a categoria de bem supremo.

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Qualquer um pode zangar-se – isto é fácil. Mas zangar-se com a pessoa certa, na medida certa, na hora certa, pelo motivo certo e da maneira certa – não é fácil.

O Que Se Escuta Numa Velha Caixa De Música

Nunca roubei um beijo. O beijo dá-se,
ou permuta-se, mas naturalmente.
Em seu sabor seria diferente
se, em vez de ser trocado, se furtasse.

Todo beijo de amor, longo ou fugace,
deve ser u prazer que a ambos contente.
Quando, encantado, o coração consente,
beija-se a boca, não se beija a face.

Não toquemos na flor maravilhosa,
seja qual for a sedução do ensejo,
vendo-a ofertar-se, fácil e formosa.

Como os árabes, loucos de desejo,
amemos a roseira, olhando a rosa,
roubemos a mulher e não o beijo.

O discurso de grande parte dos políticos é feito de lugares-comuns, incapazes de entenderem a complexidade da condição dos nossos países e dos nossos povos. A demagogia fácil continua a substituir a procura de soluções.

Os amigos tendem a gostar muito do que nos custa a alcançar e a desvalorizar o que nos é fácil…. Já os inimigos preferem que nada façamos e odeiam o que fazemos de mais difícil e elevado. Uns querem o melhor de nós, outros, o pior.

A Pessoa de quem se Anda à Procura

Normalmente a pessoa de quem se anda à procura vive mesmo ao lado. Isto não é fácil de explicar, temos de simplesmente aceitá-lo como um facto. Tem raízes tão profundas que não se pode fazer nada, mesmo com esforço. A razão é que nós não sabemos nada deste vizinho de quem andamos à procura. Ou seja, não sabemos que andamos à procura dele nem que ele vive na casa ao lado, mas então ele vive mesmo na casa ao lado. É claro que podemos saber isto como um facto geral na nossa experiência; só que sabê-lo não tem qualquer importância, mesmo que guardemos isso em mente.

Vida de Escritor

É fácil reconhecer em mim a concentração de todas as minhas forças sobre a escrita. Quando se tornou claro no meu organismo que escrever era a direcção mais produtiva que podia tomar o meu ser, tudo correu para esse lado e deixou-me vazio de todas as capacidades que se dirigiam para as alegrias do sexo, da comida, da bebida, da reflexão filosófica e, acima de tudo, da música. Eu atrofiava em todas estas direcções. Isto era necessário porque a totalidade das minhas forças é tão leve que só colectivamente é que elas podiam semi-servir a finalidade da minha escrita. É claro que não encontrei esta finalidade independentemente ou conscientemente, ela encontrou-se a si própria e só o escritório interfere com ela, e interfere completamente. De qualquer modo, eu não me devia queixar pelo facto de não conseguir ter uma namorada, de perceber exactamente tanto de amor como de música e de ter de me resignar nos esforços mais superficiais de que posso lançar mão, de na noite de fim de ano ter jantado escorcioneira e espinafres com um quarto de Ceres e de no domingo não ter podido participar na leitura que Max fez dos seus trabalhos filosóficos; a compensação de tudo isto é clara como o dia.

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O Sentido de Possibilidade

Poderia definir-se o sentido de possibilidade como aquela capacidade de pensar tudo aquilo que também poderia ser e de não dar mais importância àquilo que é do que àquilo que não é. Como se vê, as consequências desta disposição criadora podem ser notáveis; infelizmente, não é raro que façam aparecer como falso aquilo que as pessoas admiram e como lícito aquilo que elas proíbem, ou então as duas coisas como sendo indiferentes. Esses homens do possível vivem, como se costuma dizer, numa trama mais subtil, numa teia de névoa, fantasia, sonhos e conjuntivos; se uma criança mostra tendências destas, acaba-se firmemente com elas, e diz-se-lhe que tais pessoas são visionários, sonhadores, fracos, gente que tudo julga saber melhor e em tudo põe defeito.
Quando se quer elogiar estes loucos, chama-se-lhes também idealistas, mas é claro que com isso só se alude à sua natureza débil, incapaz de compreender a realidade, ou que a evita por melancolia, uma natureza na qual a falta do sentido de realidade é um verdadeiro defeito. O possível, porém, não abarca apenas os sonhos dos neurasténicos, mas também os desígnios ainda adormecidos de Deus. Uma experiência possível ou uma verdade possível não são iguais a uma experiência real e uma verdade real menos o valor da sua realidade,

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