Citação de

Carta a um «Amor»

Recordo, Margarida, as tardes quando
Cata no MarĂŁo o Sol de Julho!
Meu ranchinho de rolas rorolando,
VĂłs Ă©reis meu orgulho.

O ar como um veludo, os ares tĂŁo macios,
Ó tardes do jardim! à fonte da água, aos fios,
Ă­amos todos nĂłs era tĂŁo alegre bando
Que desde que eu o nĂŁo sinto
Sou como um corpo extinto,
NĂŁo sinto ora nem quando.

E estar de vĂłs tĂŁo longe
Cå neste meu terreno onde pareço um monge,
Sem uma linha, um verso
Desse Corgo sem par, a boa e madre
Terra como outra assim nĂŁo haverĂĄ,
Montanhas que no CĂ©u tĂȘm aquase o berço!
Escreve, Margarida, ao teu compadre,
VĂĄ!

Quero que diga
Florinda como vai, e vai assim Loreto,
Lindo pajem, que linda em seu veludo preto!
E os mais amorzinhos, rapariga,
Os que tua amizade aĂ­ me deu!

Na alma dum poeta, vĂȘ-se nela o cĂ©u:
E assim
A tudo, Margarida, o que o prendeu
Arrecada-o na vida, e para a morte.
Escreve mal, e daĂ­, que nĂŁo te importe,
Mas lembra-te de mim!
Saudades minhas: tudo bem por cĂĄ:
Escreve, Margarida, ao teu compadre, vĂĄ!

Amor destes meus olhos nunca enxuito,
Adeus — saudade:
Adeus:
Amo-te muito, muito.