Passagens sobre Perfeição

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Frases sobre perfeição, poemas sobre perfeição e outras passagens sobre perfeição para ler e compartilhar. Leia as melhores citações em Poetris.

A Eterna Criação da Literatura

A literatura é um acontecimento completamente à parte. É um acontecimento que, de cada vez, recomeça de alto a baixo. É um acontecimento sem hábitos. No caso de um bom marceneiro, ou mesmo de um bom buscador de ouro, trata-se de refazer o que se fazia antes dele e – se for possível – contribuir com o seu pequeno aperfeiçoamento para a forma da mesa ou para o oco da bateia. Mas um jovem escritor não deve absolutamente ameliorar Proust, ou aperfeiçoar Claudel, completar Gide ou fazer um pequeno retoque a Valéry. Não, de modo algum. Cabe-lhe escrever como se nem Gide, nem Proust tivessem existido nunca.

Não há tóxico no mundo que mate tão eficientemente como as ganâncias que destroem a

Não há tóxico no mundo que mate tão eficientemente como as ganâncias que destroem a perfeição.

O Demónio do Artifício

Não são muitas as pessoas dotadas para a apreensão da Natureza e para a sua utilização imediata. A maior parte gosta de descobrir entre o conhecimento e a utilização uma espécie de castelo nas nuvens, que se entretêm a aperfeiçoar, esquecendo assim ao mesmo tempo o objecto e a respectiva utilização.
Do mesmo modo, não é fácil compreender-se que o que acontece nos grandes domínios da Natureza é o mesmo que sucede nos mais pequenos. Mas se a experiência o indica com premência, os indivíduos acabam por aceitar tal ideia de bom grado. Há um parentesco entre a atracção de fragmentos de palha por uma vareta de âmbar depois de friccionada e a mais terrível das tempestades. Em certo sentido são o mesmo fenómeno. E há outros casos em que não temos dificuldade em aceitar essa micromegalogia. Mas rapidamente somos abandonados pelo puro espírito da Natureza e apodera-se de nós o demónio do artifício, que sabe sempre insinuar-se em todos os campos.

O Sofrimento do Hipócrita

Ter mentido é ter sofrido. O hipócrita é um paciente na dupla acepção da palavra; calcula um triunfo e sofre um suplício. A premeditação indefinida de uma ação ruim, acompanhada por doses de austeridade, a infâmia interior temperada de excelente reputação, enganar continuadamente, não ser jamais quem é, fazer ilusão, é uma fadiga. Compor a candura com todos os elementos negros que trabalham no cérebro, querer devorar os que o veneram, acariciar, reter-se, reprimir-se, estar sempre alerta, espiar constantemente, compor o rosto do crime latente, fazer da disformidade uma beleza, fabricar uma perfeição com a perversidade, fazer cócegas com o punhal, por açúcar no veneno, velar na franqueza do gesto e na música da voz, não ter o próprio olhar, nada mais difícil, nada mais doloroso. O odioso da hipocrisia começa obscuramente no hipócrita. Causa náuseas beber perpétuamente a impostura. A meiguice com que a astúcia disfarça a malvadez repugna ao malvado, continuamente obrigado a trazer essa mistura na boca, e há momentos de enjôo em que o hipócrita vomita quase o seu pensamento. Engolir essa saliva é coisa horrível. Ajuntai a isto o profundo orgulho. Existem horas estranhas em que o hipócrita se estima. Há um eu desmedido no impostor.

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A Realidade é Mais Poderosa que Qualquer Literatura

Eu costumava pensar que podia compreender tudo e exprimir tudo. Ou quase tudo. Eu lembro-me que quando estava a escrever o meu livro sobre a guerra no Afeganistão, Zinky Boys, que fui ao Afeganistão e eles mostraram-me algumas das armas estrangeiras que tinham sido capturadas aos combatentes afegãos. Fiquei espantada com a perfeição das suas formas, e quanto perfeitamente um pensamento humano poderia ser expresso. Havia um oficial ao meu lado que disse: “Se alguém pisar esta mina italiana que você diz que é tão bonita que parece uma decoração de Natal, não restaria mais nada deles além de um balde de carne. Você teria que raspá-los do chão com uma colher. ” Quando me sentei para escrever isto, foi a primeira vez que eu pensei, “Isto é algo que devo dizer?” Eu tinha sido educada na grande literatura russa, pensei que poderia ir muito muito longe, e então escrevi sobre aquela carne. Mas a Zona – é um mundo à parte, um mundo dentro do resto do mundo – e é mais poderoso do que qualquer coisa que a literatura tenha a dizer.

Quem trilha o caminho da perfeição não acumula tesouros. Riqueza é para o sábio o que ele faz para os outros.

A Busca da Verdade

O que constitui o valor do homem não é a verdade, que qualquer pessoa pode possuir ou supõe possuir, mas o empenho sincero que o homem empregou para descobrir a verdade. Pois é por meio da busca pela verdade, e não com a posse desta, que as suas forças se ampliam, e somente nisto consiste a sua perfeição sempre crescente.

O Amor Busca para que o Entendimento Encontre

Não basta a agudeza intelectual para descobrir uma coisa nova. Faz falta entusiasmo, amor prévio por essa coisa. O entendimento é uma lanterna que necessita de ir dirigida por uma mão, e a mão necessita de ir mobilizada por um anseio pré-existente para este ou outro tipo de possíveis coisas. Em definitivo, somente se encontra o que se busca e o entendimento encontra porque o amor busca. Por isso todas as ciências começaram por ser entusiasmos de amadores. A pedanteria contemporânea desprestigiou esta palavra; mas amador é o mais que se pode ser com respeito a alguma coisa, pelo menos é o germe todo. E o mesmo diríamos do dilettante – que significa o amante. O amor busca para que o entendimento encontre. Grande tema para uma longa e fértil conversa, este que consistiria em demonstrar como o ser que busca é a própria essência do amor! Pensaram vocês na surpreendente contextura do buscar? O que busca não tem, não conhece ainda aquilo que busca e, por outra parte, buscar é já ter de antemão e conjecturar o que se busca.
Buscar é antecipar uma realidade ainda inexistente, preparar o seu aparecimento, a sua apresentação. Não compreende o que é o amor quem,

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O Saber Ajuda em Todas as Actividades

O mero filósofo é geralmente uma personalidade pouco admis­sível no mundo, pois supõe-se que ele em nada contribui para o be­nefício ou para o prazer da sociedade, porquanto vive distante de toda comunicação com os homens e envolto em princípios e noções igualmente distantes de sua compreensão. Por outro lado, o mero ig­norante é ainda mais desprezado, pois não há sinal mais seguro de um espírito grosseiro, numa época e uma nação em que as ciências florescem, do que permanecer inteiramente destituído de toda espécie de gosto por estes nobres entretenimentos. Supõe-se que o carácter mais perfeito se encontra entre estes dois extremos: conserva igual capacidade e gosto para os livros, para a sociedade e para os negócios; mantém na conversação discernimento e delicadeza que nascem da cultura literária; nos negócios, a probidade e a exatidão que resultam naturalmente de uma filosofia conveniente. Para difundir e cultivar um carácter tão aperfeiçoado, nada pode ser mais útil do que as com­posições de estilo e modalidade fáceis, que não se afastam em demasia da vida, que não requerem, para ser compreendidas, profunda apli­cação ou retraimento e que devolvem o estudante para o meio de homens plenos de nobres sentimentos e de sábios preceitos,

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As Nossas Limitações (I)

Satisfazer-se com as limitações próprias é miserável. Sentir a nossa limitação perante o que nos ultrapassa será certamente angustiante, mas uma tal angústia eleva-nos.

Aquele que com propriedade se reconhece limitado é o que mais perto está de chegar à perfeição.

Quem não acha demasiado de si próprio, é sempre bastante mais do que pensa ser.

Grandes erros: imaginar que se é mais do que se é, e julgar que se está aquém daquilo que se vale.

soneto do amor e da morte

quando eu morrer murmura esta canção
que escrevo para ti. quando eu morrer
fica junto de mim, não queiras ver
as aves pardas do anoitecer
a revoar na minha solidão.

quando eu morrer segura a minha mão,
põe os olhos nos meus se puder ser,
se inda neles a luz esmorecer,
e diz do nosso amor como se não

tivesse de acabar, sempre a doer,
sempre a doer de tanta perfeição
que ao deixar de bater-me o coração
fique por nós o teu inda a bater,
quando eu morrer segura a minha mão.

Sou, em absoluto, contra a pena de morte. Decide-se que um homem falhou definitivamente. Mas quem tem o direito de dizer que um homem falhou assim? Ninguém! A mais bela definição de Homem – a de Rousseau – é que ele é um ser perfectível, capaz, pela sua própria natureza, de se aperfeiçoar sempre, por mais nefasto que tenha sido o seu passado. Além disso, o homem tem direitos naturais que ninguém pode retirar. E o direito básico, primeiro, é o direito à vida. Digo mesmo que não há uma democracia real onde há pena de morte, onde o Estado assassina, legalmente, cidadãos.

Há, mesmo, inveja da boa. Inveja que faz andar, que faz mexer, que faz fazer. Inveja de quem faz o bom – e é só a inveja de quem faz o bom que cria o excelente. E é só a inveja de quem cria o excelente que cria a perfeição. Sem inveja, o mundo era metade do que é.

O Meu Desejo

Vejo-te só a ti no azul dos céus,
Olhando a nuvem de oiro que flutua…
Ó minha perfeição que criou Deus
E que num dia lindo me fez sua!

Nos vultos que diviso pela rua,
Que cruzam os seus passos com os meus…
Minha boca tem fome só da tua!
Meus olhos têm sede só dos teus!

Sombra da tua sombra, doce e calma,
Sou a grande quimera da tua alma
E, sem viver, ando a viver contigo…

Deixa-me andar assim no teu caminho
Por toda a vida, amor, devagarinho,
Até a Morte me levar consigo…

Náufragos que Navegam Tempestades

As tempestades são sempre períodos longos. Poucas pessoas gostam de falar destes momentos em que a vida se faz fria e anoitece, preferem histórias de praias divertidas às das profundas tragédias de tantos naufrágios que são, afinal, os verdadeiros pilares da nossa existência.

Gente vazia tende a pensar em quem sofre como fraco… quando fracos são os que evitam a qualquer custo mares revoltos, tempestades em que qualquer um se sente minúsculo, mas só os que não prestam o são verdadeiramente. Para a gente de coração pequeno, qualquer dor é grande. Os homens e mulheres que assumem o seu destino sabem que, mais cedo ou mais tarde, morrerão, mas há ainda uma decisão que lhes cabe: desviver a fugir ou morrer sofrendo para diante.
Da morte saímos, para a morte caminhamos. O que por aqui sofremos pode bem ser a forma que temos de nos aproximarmos do coração da verdade.

Haverá sempre quem seja mestre de conversas e valente piloto de naus alheias, os que sabem sempre tudo, principalmente o que é (d)a vida do outro, e mais especificamente se estiver a passar um mau bocado. Logo se apressam a dizer que depois da tempestade vem a bonança,

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A Felicidade é Modesta e não Ambiciosa

Aqui tens o que posso dizer-te constantemente, a matéria que poderei estar sempre a debater, pois ambos vemos à nossa roda inúmeros milhares de pessoas inquietas que, a fim de obterem algo de altamente nocivo, andam com perseverança a praticar o mal, sempre à procura de coisas que logo a seguir deixam de lhes interessar, ou mesmo as enchem de repulsa! Já viste alguém contentar-se com uma coisa que, antes de a obter, lhe parecia mais que suficiente? A felicidade, ao contrário da opinião corrente, não é ambiciosa, mas sim modesta, e por isso mesmo nunca sacia ninguém. Tu pensas que aquilo que satisfaz o vulgo é elevado porque ainda estás longe da perfeição estóica; para quem a alcançou, tudo isso é absolutamente rasteiro! Minto: para quem começou a subir até esse nível, pois o ponto que tu pensas ser já o mais alto não passa de um degrau. Toda a gente é infelizmente confundida pela ignorância da verdade. Enganada pela opinião vulgar, procura como se fossem bens certas coisas que, depois de muito penar para as conseguir, verifica serem nocivas, inúteis ou inferiores ao que esperava. A maior parte das pessoas sente admiração por coisas que só ao fim de algum tempo se revelam ilusórias;

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