Foges em companhia de ti próprio: é de alma que precisas de mudar, não de clima.
Passagens sobre Próprio
3083 resultadosO Sol na Água Pousa
Alado, o sol na água pousa
e dele treme a água amedrontada,
que a ardente imagem lhe devolve em rosa
e em si própria um distante sonho ousa
de céu amargo, que não sonha nada.
Evitar a Sabedoria de Umbigo
Se alguém se inebria com o seu saber ao olhar para baixo de si, que volte o olhar para cima, rumo aos séculos passados, e abaixará os cornos ao encontrar aí tantos milhares de espíritos que o calcam aos pés. Se ele forma alguma ligeira presunção do seu valor, que se recorde das vidas dos dois Cipiões e dos incontáveis exércitos e povos que o deixam muito para trás. Nenhuma particular qualidade dará motivo de orgulho aquele que, ao mesmo tempo, tiver em conta os muitos traços de imperfeição e debilidade que em si há e, enfim, a nulidade da condição humana.
Porque Sócrates foi o único a compreender acertadamente o preceito do seu Deus, o de conhecer-se a si mesmo, e através de tal estudo, ter chegado a desprezar-se, só ele foi julgado digno de sobrenome de «sábio». Quem assim se conhecer, que tenha a audácia de, pela sua própria boca, o dar a conhecer.
Se ficares irado, em toda parte aparecerão lanças e espadas pare te ferir. Na verdade, a ira é um ‘espinho mental’ com que feres a ti próprio.
Como se Morre de Velhice
Como se morre de velhice
ou de acidente ou de doença,
morro, Senhor, de indiferença.Da indiferença deste mundo
onde o que se sente e se pensa
não tem eco, na ausência imensa.Na ausência, areia movediça
onde se escreve igual sentença
para o que é vencido e o que vença.Salva-me, Senhor, do horizonte
sem estímulo ou recompensa
onde o amor equivale à ofensa.De boca amarga e de alma triste
sinto a minha própria presença
num céu de loucura suspensa.(Já não se morre de velhice
nem de acidente nem de doença,
mas, Senhor, só de indiferença.)
Se vivificares o próximo, tu próprio serás vivificado. Se compreenderes o sentimento do próximo, serás até curado de doenças.
Perdoar e Esquecer
Perdoar e esquecer equivale a jogar pela janela experiências adquiridas com muito custo. Se uma pessoa com quem temos ligação ou convívio nos faz algo de desagradável ou irritante, temos apenas de nos perguntar se ela nos é ou não valiosa o suficiente para aceitarmos que repita segunda vez e com frequência semelhante tratamento, e até de maneira mais grave. Em caso afirmativo, não há muito a dizer, porque falar ajuda pouco. Temos, portanto, de deixar passar essa ofensa, com ou sem reprimenda; todavia, devemos saber que agindo assim estaremos a expor-nos à sua repetição. Em caso negativo, temos de romper de modo imediato e definitivo com o valioso amigo ou, se for um servente, dispensá-lo. Pois, quando a situação se repetir, será inevitável que ele faça exactamente a mesma coisa, ou algo inteiramente análogo, apesar de, nesse momento, nos assegurar o contrário de modo profundo e sincero. Pode-se esquecer tudo, tudo, menos a si mesmo, menos o próprio ser, pois o carácter é absolutamente incorrigível e todas as acções humanas brotam de um princípio íntimo, em virtude do qual, o homem, em circunstâncias iguais, tem sempre de fazer o mesmo, e não o que é diferente. (…) Por conseguinte,
Os egoístas não sabem conversar; só falam de si próprios.
Você me odeia, mas seu ódio não pode igualar-se ao que eu próprio dedico a mim.
A Razão
A razão é a suprema união da consciência e da consciência de si, ou seja, do conhecimento de um objecto e do conhecimento de si. É a certeza de que as suas determinações não são menos objectais, não são menos determinações da essência das coisas do que são os nossos próprios pensamentos. É, num único e mesmo pensamento, ao mesmo tempo e ao mesmo título, certeza de si, isto é, subjectividade, e ser, isto é, objectividade.
(…) A razão é tão poderosa quanto ardilosa. O seu ardil consiste em geral nessa actividade mediadora que, deixando os objectos agirem uns sobre os outros conforme à sua própria natureza, sem se imiscuir directamente na sua acção recíproca, consegue, contudo, atingir unicamente o objectivo a que se propõe.
(…) A Razão governa o mundo e, consequentemente, governa e governou a história universal. Em relação a essa razão universal e substancial, todo o resto é subordinado e serve-lhe de instrumento e de meio. Ademais, essa Razão é imanente na realidade histórica, realiza-se nela e por ela. É a união do Universal existente em si e por si e do individual e do subjecitvo que constitui a única verdade.
Há mulheres que parecem ensoberbecer-se com o seu próprio infortúnio. A docilidade, a humilhação sem desdouro, poderá, nos casos de muitas, revirar a pouco e pouco a sorte.
Ninguém jamais se afogou em seu próprio suor.
…assim é que a vida deve ser, quando um desanima, o outro agarra-se às próprias tripas e faz delas coração
Quem se mostra aflito quando devia estar calmo, ou se mostra calmo quando devia estar aflito, destrói a delicada teia da sua própria felicidade.
Uma maneira de preservar sua própria imagem é não deixar que o mundo invada sua casa. Foi um modo que encontrei de preservar ao máximo meus valores.
As grandes revoluções vitoriosas, fazendo desaparecer as causas que as haviam originado, tornam-se desta forma incompreensíveis graças aos seus próprios êxitos.
Só somos verdadeiramente rejeitados quando rejeitamos a nossa própria verdade. Vamos agir? É “Agora” ou nunca.
O medo de sofrer dói muito mais do que o próprio sofrimento.
Vida
Três votos fará aquele
que não ser tolo decida
e venha deles primeiro
o de obediência à vidaserá o segundo a vir
o de não querer ser rico
o muito passe de largo
o pouco lhe apure o biconão violar-se a si próprio
como principal o veja
alto ou baixo gordo ou magro
assim nasceu assim seja.
Para o Jornalista, Tudo o que é Provável é Verdade
«Para o jornalista, tudo o que é provável é verdade». Trata-se dum axioma estupendo, como tudo o que Balzac inventa. Reflectindo nele, nós percebemos quantas falsidades se explicam e quantas arranhadelas na sensibilidade se resumem a fanfarronices e não a conhecimento dos factos. Em geral, o pequeno jornalista é um profeta da Imprensa no que toca a banalidades, e um imprudente no que se refere a coisas sérias. Quando Balzac refere que a crítica só serve para fazer viver o crítico, isto estende-se a muitas outras tendências do jornalista: o folhetinista, que é o que Camilo fazia nas gazetas do Porto (…). Eu própria não estou isenta duma soma de articulismos, de recursos à blague, de graças adaptáveis, de frequentação do lado mau da imaginação, de ridículos, de fastidiosos conselhos, de discursos convencionais, de condenações fáceis, de birras imbecis, de poesia de barbeiro, de elegâncias chatas, de canibalismo vulgar, de panfletismo «bom cidadão». Quando não sou nada disso, sou assunto para jornais, mas não sou jornalista.