Passagens sobre Velhice

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O Planeta da Inexperiência

Primeiro título pensado para A Insustentável Leveza do Ser: «O Planeta da Inexperiência». A inexperiência como uma qualidade da condição humana. Nascemos uma vez por todas, nunca poderemos recomeçar uma outra vida com as experiências da vida anterior. Saímos da infância sem sabermos o que é a juventude, casamo-nos sem sabermos o que é ser casado, e mesmo quando entramos na velhice, não sabemos para onde vamos: os velhos são crianças inocentes da sua velhice. Neste sentido, a terra do homem é o planeta da inexperiência.

O Futuro da Espécie Humana

Não sei se as populações estão a aumentar ou a diminuir. É claro que, com o aborto, com a pílula, com as “camisas de Vénus”, com a soma dessas coisas todas, a procriação diminui, a velhice aumenta; a receita dos impostos diminui, porque há menos jovens no trabalho e há mais velhos a ser remunerados. É preciso que a população aumente sempre e que não se faça a desertificação da província, como está a acontecer. Tiram escolas, hospitais e as pessoas desertificam essas cidades. Porque é da província, da cultura da terra, que nós vivemos, e ela está desertificada.

[Mas eu referia-me mesmo à sobrevivência do planeta Terra. Acha que ele está em perigo?]

Está em perigo, claro. De tal modo que a gente pergunta: onde está a inteligência do homem? Há um progresso, é certo, mas esse progresso encaminha-se para a morte.

Na hora, pensei que um dos encantos da velhice são as provocações que as amigas jovens se permitem, achando que a gente está fora do jogo.

Uma adolescência libidinosa e desregrada entrega à velhice um corpo cansado.

Aristocracia e Democracia

Fala-se sempre muito em aristocracia e democracia. Pois o caso é apenas este: Na mocidade, quando nada possuímos ou não sabemos apreciar a posse tranquila, somos democratas. Mas se, no decurso de uma longa vida, conseguimos possuir alguma coisa, desejamos não somente garanti-la, mas queremos também que os nossos filhos e netos possam gozá-la tranquilamente. É por isso que na velhice somos sempre aristocratas, mesmo que na nossa mocidade tivéssemos tido pendor para uma mentalidade diferente.

A Vida Que Nos Escapa Entre os Dedos

Volta-se o rico para os prazeres da carne e a maior parte do mundo faz o mesmo. E não sem acerto, porque todas as coisas agradáveis devem ser tidas como inocentes, e até que se provem culpadas todas as presunções pendem a seu favor. A vida já é bastante penosa para que ainda a agravemos com proibições e obstáculos aos seus deleites; tão arisca se mostra a felicidade que todas as portas por onde ela queira entrar devem permanecer escancaradas. A carne enfraquece muito precocemente – e os olhos olham com melancolia para os prazeres de outrora. Muito rápidamente todas as alegrias perdem a vivacidade – e admiramo-nos de como pudessem ter-nos interessado tanto. O próprio amor torna-se grotesco logo que atinge os seus fins. Guardemos o ascetismo para a estação própria – a velhice.
É este o grande drama do prazer; todas as coisas agradáveis acabam por amargar; todas as flores murcham quando as colhemos, e o amor morre tanto mais depressa quanto é mais retribuído. Por isso o passado parece-nos sempre melhor que o presente; esquecemos os espinhos das rosas colhidas; saltamos por cima dos insultos e injúrias e demoramo-nos sobre as vitórias. O presente parece muito mesquinho diante de um passado do qual só retemos na memória o bom,

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Quem me Dera que a Minha Vida Fosse um Carro de Bois

Quem me dera que a minha vida fosse um carro de bois
Que vem a chiar, manhãzinha cedo, pela estrada,
E que para de onde veio volta depois
Quase à noitinha pela mesma estrada.
Eu não tinha que ter esperanças — tinha só que ter rodas

A minha velhice não tinha rugas nem cabelo branco…
Quando eu já não servia, tiravam-me as rodas
E eu ficava virado e partido no fundo de um barranco.

Acontece com a velhice o mesmo que com a morte. Alguns enfrentam-nas com indiferença, não porque tenham mais coragem do que os outros, mas porque têm menos imaginação.

Quarenta Anos

a Carlos Nejar

Sinto a velhice em mim oculta e rude
em meio ao sol e ao riso da manhã,
nesse engano das horas, nessa vã
esperança de eterna juventude
que se desfaz de mim, e sou maça
mordida, podre, e rio e não me ilude
esse carinho, essa algazarra. O alude
dentro de mim começa. Mesmo sã,
a estrutura se abala em sombra e ruga
e os caminhos só descem, pesa o fardo,
e entre cinzas de mim, alheio, ardo,
de um fogo já morrente em sua fuga.

Mesquinho embora, curvo e pungitivo,
meu corpo vibra e se deseja vivo.

Na infância, a vida apresenta-se como uma decoração teatral vista de longe; na velhice, como a mesma decoração, porém vista bem de perto.

A Realidade e o Modo

Não basta a substância, requer-se também a circunstância. Um mau modo tudo estraga, até a justiça e a razão. O bom tudo supre; doura o não, adoça a verdade e enfeita até a velhice. É grande o papel do como nas coisas, e o bom jeito é o essencial das coisas. O bel portar-se é a gala do viver, desempeço singular de todo o bom termo.