Coração Inconstante
Coração inconstante, a quem a charneca edifica a cidade
no meio das velas e das horas,
tu sobes
com os choupos até aos lagos:
aí talha a flauta, de noite,
o amigo do seu silêncio
e mostra-o às águas.
Na margem
vagueia embuçado o pensamento e escuta:
pois nada
surge com a sua própria forma,
e a palavra, que brilha sobre ti,
crê no escaravelho dentro do feto.Tradução de João Barrento e Y. K. Centeno
Passagens sobre Forma
1366 resultadosEste Livro Podia Acabar Aqui
Este livro podia acabar aqui. Sempre gostei de enredos circulares. E a forma que os escritores, pessoas do tamanho das outras, têm para sugerir eternidade. Se acaba conforme começa é porque não acaba nunca. Mas tu, eu, os Flauberts, os Joyces, os Dostoievskis sabemos que, para nós, acaba. Com um ligeiro desvio, os círculos transfor-mam-se em espirais e, depois, basta um ponto como este: . O bico de uma caneta espetada no papel. Um gesto a acertar na tecla entre , e -. Um movimento sobre um quadradinho de plástico. Isto: . Repara como é pequeno, insuficiente para espreitarmos através dele, floco de cinza a planar, resto de formiga esmagada. Se o pudéssemos segurar entre os dedos, não seríamos capazes de senti-lo, grão de areia. Mas tu ainda estás aí, olá, eu ainda estou aqui e não poderia ir-me embora sem te agradecer. Aí e aqui ainda é o mesmo lugar. Sinto-me grato por essa certeza simples. A paisagem, mundo de objectos, apenas ganhará realidade quando deixarmos estas palavras. Até lá, temos a cabeça submersa neste tempo sem relógios, sem dias de calendário, sem estações, sem idade, sem agosto, este tempo encadernado. As tuas mãos seguram este livro e, no entanto,
Sátira
Besta e mais besta! O positivo é nada…
(Perdoa, se em gramática te falo,
Arte que ignoras, como ignoras tudo.)
Besta e mais besta! Na palavra embirro;
Que a besta anexa ao mais teu ser define.Dás-me louvor servil na voz do prelo,
Grande me crês, proclamas-me famoso,
Excelso, transcendente, incomparável,
Confessas que d’Elmano a fúria temes…
E, débil estorninho, águias provocas,
Aves de Jove, que o corisco empunham!És de rábula vil corrupta imagem;
Tu vendes o louvor, como ele as partes,
Mas ele na enxovia infâmias paga,
E tu, com tústios, que aos caloiros pilhas,
Compras gravatas, em que a tromba enorme
Sumas ao dia, que de a ver se embrusca,
Qual em tenra mãozinha esconde a face
Mimoso infante de papões vexado.
Útil descuido aos cárceres te furta,
À digna habitação de ti saudosa
(Digo, o Castelo), estância equivalente
Aos méritos morais, que em ti reluzem.De saloios vinténs larápio sujo,
A glória do teu ódio restitui
A quem no teu louvor desacreditas.
Se honrada pelos sábios d’Ulisseia
(D’Ulisseia não só,
Eu penso que, como artista, o meu interesse não era sempre apenas expressar o meu trabalho; mais do que tudo, queria contribuir de alguma forma para a cultura em que estava a viver. Era para mim como que um desafio tentar mudar um pouco as coisas para a forma que eu achava interessante ir.
Nunca devemos esquecer que arte não é uma forma de propaganda, é uma forma de verdade.
O Jornal é o Fole Incansável que Assopra a Vaidade Humana
Pelo jornal, e pela reportagem que será a sua função e a sua força, tu desenvolverás, no teu tempo e na tua terra, todos os males da Vaidade! (…) Como a reportagem hoje se exerce, menos sobre os que influem nos negócios do Mundo, ou nas direcções do pensamento , do que, como diz a Bíblia, sobre toda a «sorte e condições de gente vã», desde os jóqueis até aos assassinos, a sua indiscriminada publicidade concorre pouco para a documentação da história, e muito, prodigiosamente, escandalosamente, para a propagação das vaidades! O jornal é com efeito o fole incansável que assopra a vaidade humana, lhe irrita e lhe espalha a chama. De todos os tempos é ela, a vaidade do homem! Já sobre ela gemeu o gemebundo Salomão, e por ela se perdeu Alcibíades, talvez o maior dos Gregos. Incontestavelmente, porém, meu Bento, nunca a vaidade foi, como no nosso danado século XIX, o motor ofegante do pensamento e da conduta. Nestes estados de civilização, ruidosos e ocos, tudo deriva da vaidade, tudo tende à vaidade. E a forma nova da vaidade para o civilizado consiste em ter o seu rico nome impresso no jornal, a sua rica pessoa comentada no jornal!
O que os outros recebem de mim reflete-se então de volta para mim, e forma a atmosfera do que se chama: eu.
Um Mundo Melhor
Tal como existem muitas formas de vida, também existem inúmeras formas de viver. A minha predileta e aquela onde, por incrível que pareça, assento a minha paz, contém o ingrediente que mais potencia as emoções, o risco. O risco é a graça da vida, é aventura, é o desconhecido, é a busca e a mais valiosa oportunidade para cresceres e te desenvolveres como ser consciente.
Quando foi a última vez que arriscaste?
O que é que sentiste?
Percebeste que, correndo bem ou mal, o risco é a viagem e nunca o resultado?
Continuaste a arriscar nessa ou noutras áreas da tua vida?
O risco está associado à ação, à coragem, ao prazer, à paixão pela vida, à entrega no «Agora» e implica o abandono do sofá, da rotina doentia em que escolheste movimentar-te e dos padrões em que cresceste.Chamam-me louco, eu respondo-lhes que vivem pouco. Sou um homem feliz, ainda que, como qualquer ser humano, viva com alguns preconceitos espontâneos, medos súbitos e frustrações pontuais. Sou, também, alguém com experiência em ajudar pessoas… humm, ajudar, não! Dirigir soa melhor e é, igualmente, mais real. Promovo-lhes, através da minha experiência em coaching,
Miseria Occulta
Bate nos vidros a aurora,
Vem depois a noute escura;
E o pobre astro que ali móra,
Não abandona a costura!Para uns a vida é d’abrolhos!
Para outros mouta de lyrios!
Bem o revelam seus olhos,
Pisados pelos martyrios!Miseria afugenta tudo!
Miseria tem dons funestos!
Quem é que gaba o velludo
D’aquelles olhos honestos!…Ninguem seus olhos brilhantes
Descobre n’essas alturas…
E aquellas formas tão puras,
E aquellas mãos elegantes!Sempre á costura inclinada!
Morra o sol ou surja a lua
Nunca vi descer á rua
Aquella loura encantada!Aquelle lyrio dobrado
Por que assim vive escondido!
Eu bem sei!–não tem calçado!
E é muito usado o vestido!Por isso não tem porvir
Morrerá virgem e nova,
E aguarda-a bem cedo a cova…
Que eu bem a ouço tossir!Miseria afugenta tudo!
Miseria tem dons funestos!
Quem é que gaba o veludo
D’aquelles olhos honestos!Pobre flor desfalecida
Tão nova e ainda em botão!
Como teve estreita a vida,
Trate as pessoas da forma como elas devem ser e ajude-as a se tornarem o que elas são capazes de ser.
No deserto redescobre-se o valor daquilo que é essencial para viver; assim, são inumeráveis no mundo contemporâneo os sinais, muitas vezes manifestados de forma implícita ou negativa, da sede de Deus, do sentido último da vida.
A verdadeira alegria é um pedaço de vida pura, uma migalha de felicidade que subjaz a este mundo, uma forma simples de amar a vida.
Nossas verdadeiras bênçãos aparecem para nós em forma de dores, perdas e decepções; mas tenhamos paciência, e logo devemos vê-las em suas próprias figuras.
Descobri que a leitura é uma forma servil de sonhar. Se tenho de sonhar, porque não sonhar os meus próprios sonhos?
Se você orientou o trabalho de forma errada reconheça o erro e assuma o prejuízo. Com esse gesto você será enaltecido como alguém íntegro e de palavra.
Abandonar a Zona de Conforto
Ninguém adquire confiança na rotina. É impossível. É mais do mesmo, todos os dias para o resto das suas vidas. É uma espécie de piloto automático programado para embater, a qualquer momento, na montanha mais alta e é uma agoniante e pasmacenta viagem à ingratidão e ao pior dos hábitos da raça humana: a preguiça. Vivê-la é morrer todos os dias. A rotina, essa resignação perante a putrefação, é, portanto, para os desistentes, para os ingratos e fracos de espírito. Na verdade, por que motivo quererão eles confiar em si mesmos se já pereceram? Não faz sentido, certo? Deixai-os estar, apáticos como eles gostam, pois ainda que deambulem de um lado para o outro, a verdade é que não passam de voltas e viravoltas dentro das suas próprias urnas.
Toquei-te? De alguma forma te pareci violento nestas últimas linhas?
Se sim, fantástico; mas não, esta forma de me expressar nada tem a ver com agressividade ou violência. É apenas dizer, letrinha a letrinha, o que penso e sinto a este respeito e a isso chama-se ser assertivo.
A cremação é ainda forma de vaidade: querer destruir a morte.
Gosto de Amar
gosto de amar com os dedos,
encontrar o centímetro em que nasce o orgasmo
em ti, perceber a extensão da forma como te sobressaltas,
e encostar-te o meu ouvido à boca para ouvir a voz de
deus.gosto de amar com os olhos,
gastar a hipótese do sono e ver-te adormecer,
a noite escura e o silêncio de um abraço,
e se queres que te diga
só te escolhi por engano, queria o amor dos livros
e virei escritor, os dias inteiros à espera do teu corpo
para que as metáforas aconteçam.gosto de amar com as lágrimas,
praticar o abismo, a largura estreita dos teus lábios,
a sensação de mar excessivo da tua língua,
até a maneira como me percorres o sexo
com a extremidade da tua respiração parada,
e sobretudo submeter-me ao castigo da emoção
de te amar ainda depois do final do prazer,
a pequena morte acabada
e a vida toda outra vez a começar.gosto de amar com o que me resta,
e tudo o que sei é que me resta amar-te.
Como É Bom Ser Bom
Tu, que vês tudo pelo coração,
Que perdoas e esqueces facilmente,
E és, para todos, sempre complacente,
Bendito sejas, venturoso irmão.Possuis a graça como inspiração
Amas, divides, dás, vives contente,
E a bondade que espalhas, não se sente,
Tão natural é a tua compaixão.Como o pássaro tem maviosidade,
Tua voz, a cantar, no mesmo tom,
Alivia, consola e persuade.E assim, tal qual a flor contém o dom.
De concentrar no aroma a suavidade,
Da mesma forma, tu nasceste bom.
Ser vegetariano é discordar: discordar do curso que as coisas tomaram hoje. Fome, crueldade, desperdício, guerras – precisamos nos posicionar contra essas coisas. O vegetarianismo é a minha forma de me posicionar.