Sinfonia de Cor
Sempre defronte
de mim
o mar azul, o mar imenso, o mar sem fim,
todo igual e azul até ao horizonte.Neste dia delirante
de luz crua a jorrar, intensa, lá do alto,
uma vela distante
mancha de branco o seu azul-cobalto.Um traço de espuma branca
junto à penedia
marca a linha da costa em enseada franca.E a nota branca
das gaivotas em bando,
esvoaçando
à revelia,
e um ritmo novo de alegria,
de ruído e de graça.Perto uma vela passa,
lenço branco a acenar…Não ter asas também para poder voar
aonde me levasse a minha fantasia!
E ser gaivota e mergulhar
na água e bater asas,
alegre, todo o dia!Poisar nos calhaus negros, que são brasas,
brasas negras a arder,
e ver aos pés a referver
aos borbotões de espuma.Dar um grito e subir,
subir alto e distante,
já quando a terra se esfuma
e o mar aumenta, quanto mais avante.Partir!
Partir para o delírio das alturas,
só, entre o céu e o mar,
longe do mundo e mais das criaturas.Ah! Não ter asas e poder voar
de alma desvairada,
entontecer-me de espaço…– Nota branca riscada
entre o azul do céu e o azul do mar.Depois voltar
para ver
o sol morrer
num clarão de fogueira,
incendiando o céu, metalizando o mar…E ver a noite abrir
o regaço
para deixar cair
uma a uma as estrelas.Adormecer a vê-las…
Depois sonhar,
num delírio de cor, a noite inteira.