A Importância da Autoridade
É inútil alongar-me demoradamente sobre a importância da autoridade. São muito poucas as pessoas civilizadas capazes de uma existência perfeitamente autónoma ou tão-só de juízo independente. Não nos é possível representar em toda a sua amplitude a necessidade de autoridade e a fraqueza interior dos seres humanos.
Passagens sobre Pessoas
3265 resultadosQuando se é amigo de uma pessoa que está na política, é para a ajudar, não para ser oposição. Porque a mania da política hoje é ser da oposição. Para mim, a verdadeira política não é essa, a verdadeira política é a da composição: ver o que é aproveitável no outro e o que parece ser aproveitável em nós e tentarmos então que essas duas coisas vão para a frente juntas, não é assim?
A morte de uma pessoa é uma tragédia. A de milhões, uma estatística.
Quando tratas as pessoas como elas são, elas continuarão a ser o que são. Quando tratas as pessoas como se elas fossem como deveriam ser, elas irão tornar-se naquilo que deveriam ser.
Inspiração e Perseverança no Homem que Pensa
Não há nada de mais difícil em literatura do que descrever um homem a pensar. Um grande inventor respondeu um dia a quem lhe perguntava como fazia para ter tantas ideias novas: «pensando ininterruptamente nelas». E de facto bem pode dizer-se que as ideias inesperadas nos vêm porque estávamos à espera delas. São, em grande parte, o resultado conseguido de um carácter, de certas inclinações constantes, de uma ambição tenaz, de uma incessante ocupação com elas. Que tédio, uma perseverança assim! Mas, vista de outro ângulo, a solução de um problema intelectual não acontece de modo muito diferente, como um cão que traz um pau na boca e quer passar por uma porta estreita; vira a cabeça para a esquerda e para a direita tantas vezes até que consegue passar com o pau; o mesmo acontece connosco, apenas com a diferença de que não fazemos tantas tentativas ao acaso, mas sabemos já, por experiência, mais ou menos como fazer as coisas. E se uma cabeça inteligente, como é óbvio, revela muito mais habilidade e experiência nas voltas que dá do que uma cabeça estúpida, o momento em que consegue passar não é para ela menos surpreendente; de repente estamos do outro lado,
É uma cidade suja [Paris]. Há pombos e pátios escuros. As pessoas têm a pele branca.
A Regra de Ouro
A regra de ouro consiste em rejeitar resolutamente a posse daquilo que milhões de pessoas não podem ter. Essa capacidade de rejeição não se alcançará repentinamente. A primeira coisa a fazer é cultivar a atitude mental de não ter bens ou propriedades negadas a milhões de pessoas, e depois disso temos de reordenar a nossa vida o mais rapidamente possível de acordo com essa mentalidade.
O melhor efeito das pessoas agradáveis é sentido depois que deixamos a sua presença.
Disciplina
O trabalho começa ao romper do dia. Mas nós começamos,
um pouco antes do romper do dia, a reconhecer-nos
nas pessoas que passam na rua. Ao descobrir os raros
transeuntes, cada um sabe que está sozinho
e que tem sono — perdido no seu próprio sonho,
cada um sabe no entanto que com o dia abrirá os olhos.
Quando a manhã chega, encontra-nos estupefactos
a fixar o trabalho que agora começa.
Mas já não estamos sozinhos e ninguém mais tem sono
e pensamos com calma os pensamentos do dia
até que o sorriso vem. Com o regresso do sol
estamos todos convencidos. Mas às vezes um pensamento
menos claro — um esgar — surpreende-nos inesperadamente
e voltamos a olhar para tudo como antes do amanhecer.
A cidade clara assiste aos trabalhos e aos esgares.
Nada pode turvar a manhã. Tudo pode
acontecer e basta levantar a cabeça
do trabalho e olhar. Rapazes que se escaparam
e que ainda não fazem nada passam na rua
e alguns até correm. As árvores das avenidas
dão muita sombra e só falta a erva
entre as casas que assistem imóveis.
É o modo como as pessoas consideram o roubo da maçã que faz da criança o que ela é.
Diga a uma pessoa que ela é corajosa e você a ajuda a se tornar assim.
O Homem É
O homem. Como o homem é simpático. Ainda bem. O homem é a nossa fonte de inspiração? É. O homem é o nosso desafio? É. O homem é o nosso inimigo? É. O homem é o nosso rival estimulante? É. O homem é o nosso igual ao mesmo tempo inteiramente diferente? É. O homem é bonito? É. O homem é engraçado? É. O homem é um menino? É. O homem também é um pai? É. Nós brigamos com o homem? Brigamos. Nós não podemos passar sem o homem com quem brigamos? Não. Nós somos interessantes porque o homem gosta de mulher interessante? Somos. O homem é a pessoa com quem temos o diálogo mais importante? É. O homem é um chato? Também. Nós gostamos de ser chateadas pelo homem? Gostamos.
Poderia continuar com esta lista interminável até meu diretor mandar parar. Mas acho que ninguém mais me mandaria parar. Pois penso que toquei num ponto nevrálgico. E, sendo um ponto nevrálgico, como o homem nos dói. E como a mulher dói no homem.
Escrever pode tornar a pessoa louca. Ela tem que levar uma vida pacata, bem acomodada, bem burguesa. Senão a loucura vem. É perigoso. É preciso calar a boca e nada contar sobre o que se sabe e o que se sabe é tanto, e é tão glorioso.
A política mudou. O tema mudou. Na década de 60, havia um monte de gente saindo de escolas onde haviam aprendido política com os professores que eram pensadores políticos, e estas pessoas ocuparam as ruas. A política que aprendi, aprendi nas ruas, porque era parte do meio.
Podem morrer as pessoas, mas nunca suas ideias.
Achar-se-à que eu vejo demasiada bondade nas pessoas. É então uma crítica que tive de suportar e a que tentei ajustar-me porque, quer seja verdade ou não, é algo que acho proveitoso.
A única coisa que lamento na vida é não ser outra pessoa qualquer.
É essencial que os partidos, as pessoas, os movimentos, as associações assumam as suas responsabilidades e ponham de parte o clima de ataques demagógicos e irresponsáveis, bem como os clamores de sociabilização imediata, que têm vindo a intensificar-se desde o 25 de Abril.
A Companhia da Literatura é Perigosa
A companhia da literatura é perigosa, tanto que eu, por vezes, a pessoas que aprecio não vejo motivos nenhuns para lhes aplaudir que leiam muito e penetrem tanto nos livros, e o que lhes desejo é o Bem, e qualquer um que tenha lido por exemplo Kafka conhece perfeitamente «quanta angústia excessiva para nada» (como dizia Pessoa) há na literatura.
Como diz Magris: «Kafka sabia perfeitamente que a literatura o afastava do território da morte e permitia-lhe compreender a vida, mas deixando-o de fora. Assim como lhe permitia compreender a grandeza do padre judeu, modelo de homem, mas não lhe permitia precisamente sê-lo.»
Precisamente porque a literatura nos permite compreender a vida, deixa-nos fora dela. É duro, mas às vezes é o melhor que nos pode acontecer. A leitura, a escrita, buscam a vida, mas podem perdê-la precisamente porque estão inteiramente concentradas na vida e na sua própria busca.
Talvez seja a melancolia da tarde em que estou a escrever isto, mas a verdade é que estou a falar de um nó inextricável de bem e de mal, de luzes e sombras inerentes à leitura e à literatura. Tudo isto é duro, para quê nos enganarmos. Trata-se de uma dureza que,
Certa pessoa recebeu de Deus a revelação: ‘Tudo que é perceptível aos cinco sentidos é inexistente’. Assim que ela recebeu de Deus esta mensagem, o mundo perceptível aos cinco sentidos desapareceu de sua frente. Em seguida, recebeu de Deus nova mensagem: ‘Também não existe o ‘eu’ que pensa que este mundo é inexistente’. E simultaneamente desapareceu também o ‘eu’ que compreendera a inexistência deste mundo. É assim que desaparece o falso eu. Quem não passa por tal experiência julga existir algo chamado ‘eu’ que pensa na existência ou na inexistência da ilusão e que ora se ilude, ora se desperta. A ilusão é ‘algo inexistente’ apresentado pelo ‘eu inexistente’.