Passagens sobre Sacrifício

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Uma Doença Cúmplice

uma doença cúmplice, marcas púrpura
dão ao teu rosto a expressão do exílio
a que te submetes, gemeste
toda a noite, soçobraste

à febre alta do final da tarde, uma prega,
vincada no teu rosto,
mantém-te inanimado
entre a vigília e a injúria

que há no sacrifício
e te põe a carne em chaga.
uma doença altiva, a consistência

do silêncio é como aço e o transe
permanece, é superiormente excessiva
tanta angústia.

Ideais Fatais

Não há ideal a que possamos sacrificar-nos, porque de todos eles conhecemos a mentira, nós os que ignoramos em absoluto o que seja a verdade. A sombra terrestre que se alonga por detrás dos deuses de mármore basta para nos afastar deles. Ah, com que amplexo o homem se estreitou a si próprio! Pátria, justiça, grandeza, piedade, verdade, qual das suas estátuas não traz em si os sinais das mãos humanas para que não desperte a mesma ironia triste que os velhos rostos outrora amados? Compreender não significa necessariamente aceitar todas as loucuras. E, no entanto, quantos sacrifícios, quantos heroísmos injustificados dormem em nós…

Arrependimento

Deste amor torturado e sem ventura
Resta-me o alívio do arrependimento.
O pouco que me deste de ternura
Não vale o que te dei de encantamento.

Abri para o teu sonho o firmamento,
Semeei de estrelas tua noite escura.
Dei-te alma, exaltação e sentimento.
Fiz de um bloco de pedra uma criatura.

Hoje, ambos à mercê de sorte avessa,
Se para te esquecer luto e me esforço,
Manda-me o coração que não te esqueça.

Padecemos idêntico suplício:
Tu – corroída de pena e de remorso,
Eu – com vergonha do meu sacrifício.

O Declínio da Natalidade

A mudança de relações entre pais e filhos é um exemplo típico da expansão geral da democracia. Os pais já não estão muito seguros dos seus direitos sobre os filhos, os filhos já não sentem que devem respeito aos pais. A virtude da obediência, que era outrora exigida sem discussão, passou de moda e com certa razão.
A psicanálise aterrorizou os pais cultos com o medo de causarem, sem querer, mal aos filhos. Se os beijam, podem provocar o complexo de Édipo; se não os beijam, podem provocar crises de ciúmes. Se os repreeendem em qualquer coisa, podem fazer nascer neles o sentimento do pecado; se não o fazem, os filhos adquirem hábitos que os pais consideram indesejáveis. Quando vêem as crianças a chupar no polegar, tiram disso toda a espécie de conclusões terríveis, mas não sabem o que fazer para o evitar. O uso dos direitos dos pais que era antigamente uma manifestação triunfante da autoridade, tornou-se tímido, receoso e cheio de escrúpulos.

Perderam-se as antigas alegrias simples e isto é tanto mais grave quanto é certo que, devido à nova liberdade das mulheres solteiras, a mãe tem de fazer muito mais sacrifícios do que antigamente ao optar pela maternidade.

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Todos os políticos responsáveis sabem que não se pode prometer aos Portugueses senão tempos duros. E que se lhes não pode oferecer nada a curto prazo, excepto sacrifícios e trabalho paciente.

O que Poderá Ver quem já da Vista Cegou?

Ante Sintra, a mui prezada,
e serra de Ribatejo
que Arrábeda é chamada,
perto donde o rio Tejo
se mete n’água salgada,
houve um pastor e pastora,
que com tanto amor se amaram
como males lhe causaram
este bem, que nunca fora,
pois foi o que não cuidarom.

A ela chamavam Maria
e ao pastor Crisfal,
ao qual, de dia em dia,
o bem se tornou em mal,
que ele tão mal merecia.
Sendo de pouca idade,
não se ver tanto sentiam
que o dia que não se viam,
se via na saudade
o que ambos se queriam.

Algumas horas falavam,
andando o gado pascendo;
e então se apascentavam
os olhos, que, em se vendo,
mais famintos lhe ficavam.
E com quanto era Maria
pequena e, tinha cuidado
de guardar melhor o gado
o que lhe Crisfal dizia;
mas, em fim, foi mal guardado;

Que, depois de assim viver
nesta vida e neste amor,
depois de alcançado ter
maior bem pera mor dor,
em fim se houve de saber
por Joana,

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Igualdade não é Identidade

Combaterei pelo primado do Homem sobre o indivíduo – como do universal sobre o particular. Creio que o culto do universal exalta e liga as riquezas particulares – e funda a única ordem verdadeira, que é a da vida. Uma árvore está em ordem, apesar das raízes que diferem dos ramos.

Creio que o culto do particular só leva à morte – porque funda a ordem na semelhança. Confunde a unidade do Ser com a identidade das suas partes. E devasta a catedral para alinhar pedras. Combaterei, pois, todo aquele que pretenda impor um costume particular aos outros costumes, um povo aos outros povos, uma raça às outras raças, um pensamento aos outros pensamentos.

Creio que o primado do Homem fundamenta a única Igualdade e a única Liberdade que têm significado. Creio na Igualdade dos direitos do Homem através de cada indivíduo. E creio que a única liberdade é a da ascensão do homem. Igualdade não é Identidade. A Liberdade não é a exaltação do indivíduo contra o Homem. Combaterei todo aquele que pretenda submeter a um indivíduo – ou a uma massa de indivíduos – a liberdade do Homem.
Creio que a minha civilização denomina «Caridade» o sacrifício consentido ao Homem para que este estabeleça o seu reino.

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Jogava punhados de terra nos bolsos e os comia aos grãozinhos, sem ser vista, com um confuso sentimento de felicidade e raiva, enquanto adestrava suas amigas nos pontos mais difíceis e conversava sobre outros homens que não mereciam o sacrifício de que se comesse por eles a cal das paredes.

O Problema do Pacifismo

Regozijo-me por me haverem dado a oportunidade de proferir algumas palavras sobre o problema do pacifismo. A evolução dos últimos anos mostrou novamente que não é eficaz deixar a luta contra o armamento e contra o espírito bélico nas mãos dos governantes. Mas a formação de grandes organizações com muitos membros também não basta, por si só, para atingirmos essa finalidade. A meu ver o meio mais eficaz é o que já o sarcástico Aristófanes, há quase três mil anos preconizava na sua famosa comédia satírica «Lisistrata».
Poderíamos assim conseguir que o problema do pacifismo se tornasse uma questão vital da Humanidade, um verdadeiro combate a que seriam atraídos todos os homens de boa-vontade e personalidade vigorosa. A luta seria árdua, por ter de se travar no campo da ilegalidade, mas no fundo seria legítima, por se travar em nome do verdadeiro direito dos homens, contra dirigentes que, por interesses muitas vezes odiosos, exigem dos seus concidadãos um sacrifício de vida que redunda também num acto criminal por atentar contra um dos mandamentos da Lei de Deus.
Muitos que se consideram bons pacifistas não estarão dispostos a tomar parte num pacifismo tão radical, invocando motivos patrióticos. Com esses não se poderá contar na hora crítica.

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O Serviço Militar Obrigatório

Deixem-me começar com uma confissão de fé política: o Estado é feito para o homem, não o homem para o Estado. Isto é igualmente verdade em ciência. Estas são convicções antigas pronunciadas por aqueles para quem o homem em si é o valor humano mais alto. Não teria de repeti-las se não fosse o facto de estarem constantemente em perigo de serem esquecidas, especialmente nos dias que correm, de standardização e de estereotipia. Creio que a missão mais importante do Estado é a de proteger o indivíduo e tornar possível o desenvolvimento de uma personalidade criativa.
O Estado deve ser nosso servo; não devemos ser escravos do Estado. O Estado viola este princípio quando nos força ao serviço militar obrigatório, especialmente porque o objectivo e efeito de tal servidão é matar pessoas de outras terras ou restringir-lhes a liberdade. De facto, somente devemos fazer sacrifícios em nome do Estado se servirem o livre desenvolvimento do homem (…)
O nacionalismo, actualmente elevado a alturas excessivas, está, em minha opinião, intimamente associado à instituição do serviço militar obrigatório ou, utilizando um eufemismo, à milícia. Qualquer Estado que exija o serviço militar aos seus cidadãos é compelido a cultivar neles o espírito do nacionalismo,

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Como vemos agonizar o capitalismo, veremos agonizar o socialismo ou o sistema que lhe suceda, afogado pela mediocridade: esta a luta real entre o herói, que sempre se arrisca a ser crucificado, e a maioria que tão facilmente se resigna à colmeia, com a sua comida assegurada, a sua temperatura constante, a sua perfeita disciplina, até com o sacrifício dos que fecundam no azul e morrem.

Leopardos irrompem no templo e bebem até ao fim os jarros de sacrifício; isso repete-se sempre, sem interrupção; finalmente, pode-se contar de antemão com esse acto e ele transforma-se numa parte da cerimónia.

Cantata de Dido

Já no roxo oriente branqueando,
As prenhes velas da troiana frota
Entre as vagas azuis do mar dourado
Sobre as asas dos ventos se escondiam.
A misérrima Dido,
Pelos paços reais vaga ululando,
C’os turvos olhos inda em vão procura
O fugitivo Eneias.
Só ermas ruas, só desertas praças
A recente Cartago lhe apresenta;
Com medonho fragor, na praia nua
Fremem de noite as solitárias ondas;
E nas douradas grimpas
Das cúpulas soberbas
Piam nocturnas, agoureiras aves.
Do marmóreo sepulcro
Atónita imagina
Que mil vezes ouviu as frias cinzas
De defunto Siqueu, com débeis vozes,
Suspirando, chamar: – Elisa! Elisa!
D’Orco aos tremendos numens
Sacrifícios prepara;
Mas viu esmorecida
Em torno dos turícremos altares,
Negra escuma ferver nas ricas taças,
E o derramado vinho
Em pélagos de sangue converter-se.
Frenética, delira,
Pálido o rosto lindo
A madeixa subtil desentrançada;
Já com trémulo pé entra sem tino
No ditoso aposento,
Onde do infido amante
Ouviu, enternecida,
Magoados suspiros, brandas queixas.
Ali as cruéis Parcas lhe mostraram
As ilíacas roupas que,

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As comodidades aniquilam-nos: o medo do sacrifício e do compromisso; a atenção exclusiva a nós mesmos e àqueles da nossa mais restrita cercania, mas não mais além; um estilo de vida em que conta mais o «estar bem» do que «fazer o bem». è tudo isto que adormece o espírito.

O sacrifício é para muitos uma despesa reembolsável, uma colocação sobre o futuro; estão dispostos a fazê-lo valer, não só no momento em que ainda imperam as circunstâncias que os levaram ao acto cometido, mas sobretudo quando a escala se inverter e o crime se transformar em glória.

Segurar a pequena mão dele, sentir os seus dedos pequenos a agarrarem a minha mão é uma justificação óbvia para tudo, para a vida. Vale a pena nascer, crescer, vale a pena a adolescência inteira, todos os sacrifícios, vale a pena a responsabilidade, vale a pena sair pelo desconhecido e estar preparado para o impossível, vale a pena ler obras completas, passar dias fechado apenas a ler, vale a pena comer sopa, aprender a fazer sopa, vale a pena lavar loiça para ter a oportunidade de segurar-lhe a mão.

Um Estado político, onde alguns indivíduos têm milhões de rendimento enquanto outros morrem de fome, poderá subsistir quando a religião deixa de lá estar com as suas esperanças noutro mundo, para explicar o sacrifício ?