Passagens sobre InĂșteis

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A dor: um silĂȘncio de sentido sobre todos os gestos, um abismo a calar o significado de todas as palavras, um vĂ©u a tornar o tempo inĂștil.

Brincando agora de esconder, se te escondesses no meu coração, nĂŁo seria difĂ­cil encontrar-te. Mas se te escondesses dentro de tua prĂłpria casca, entĂŁo seria inĂștil procurar por ti.

Interrogação

A Guido Batelli

Neste tormento inĂștil, neste empenho
De tornar em silĂȘncio o que em mim canta,
Sobem-me roucos brados Ă  garganta
Num clamor de loucura que contenho.

Ó alma de charneca sacrossanta,
IrmĂŁ da alma rĂștila que eu tenho,
Dize pra onde vou, donde Ă© que venho
Nesta dor que me exalta e me alevanta!

VisÔes de mundos novos, de infinitos,
CadĂȘncias de soluços e de gritos,
Fogueira a esbrasear que me consome!

Dize que mĂŁo Ă© esta que me arrasta?
NĂłdoa de sangue que palpita e alastra…
Dize de que Ă© que eu tenho sede e fome?!

Os Homens sem PĂ© no seu Tempo

Das coisas tristes que o mundo tem, sĂŁo os homens sem pĂ© no seu tempo. Os desgraçados que aparecem assim, cedo de mais ou tarde de mais, lembram-me na vida terras de ninguĂ©m, onde nĂŁo hĂĄ paz possĂ­vel. Imagine-se a dramĂĄtica situação dum cavernĂ­cola transportado aos dias de hoje, ou vice-versa. A cada Ă©poca corresponde um certo tipo humano. Um tipo humano intransponĂ­vel, feito da unidade possĂ­vel em tal ocasiĂŁo, moldado psicolĂČgicamente, e fisiolĂČgicamente atĂ©, pelas forças que o rodeiam. A Idade MĂ©dia tinha como valores AristĂłteles e os doutores da Igreja. E qualquer espĂ­rito coevo, por mais alto que fosse, estava irremediĂ velmente emparedado entre a GrĂ©cia sem PlatĂŁo e as colunas do Templo. De nada lhe valia sonhar outro espaço de movimento. Cada inquietação realizava-se ali. O que seria, pois, um Vinci do Renascimento, multĂ­modo, aberto a todos os conhecimentos, a bracejar dentro de tĂŁo acanhados muros?

Neste trĂĄgico sĂ©culo vinte, sem qualquer sĂ©rio conteĂșdo ideolĂłgico, sem nenhuma espĂ©cie de grandeza fora do visceral e do somĂĄtico, todo feito de records orgĂąnicos e de conquistas dimensionais, que serenidade interior poderĂĄ ter alguĂ©m alicerçado em valores religiosos, estĂ©ticos, morais, ou outros? Nenhuma. Entre o abismo da sua impossibilidade natural de deixar de ser o que Ă©,

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NĂŁo Ă© o trabalho, mas o saber trabalhar, que Ă© o segredo do ĂȘxito no trabalho. Saber trabalhar quer dizer: nĂŁo fazer um esforço inĂștil, persistir no esforço atĂ© ao fim, e saber reconstruir uma orientação quando se verificou que ela era, ou se tornou, errada.

Elegia para a AdolescĂȘncia

E enfim descansaremos sob a verde
resistĂȘncia dos campos escondidos.
Nem pensaremos mais no que hĂĄ-de ser de
nĂłs que entĂŁo seremos definidos.

No mar que nos chamou, no mar ausente,
simples e prolongado que supomos
seremos atirados de repente,
puros e inĂșteis como sempre fomos.

Veremos que as vogais e as consoantes
nĂŁo sĂŁo mais que ornamentos coloridos,
fruto de nossas bocas inconstantes.

E em silĂȘncio seremos transformados,
quando formos, serenos e perdidos,
além das coisas vãs precipitados.

Uma AusĂȘncia de Mim

Uma ausĂȘncia de mim por mim se afirma.
E, partindo de mim, na sombra sobre
o chĂŁo que nĂŁo foi meu, na relva simples
o outro ser que sonhei se deita e cisma.

Sonhei-o ou me sonhei? Sonhou-me o outro
— e o mundo a circundar-me, o ar, as flores,
os bichos sob o sol, a chuva e tudo —
ou foi o sonho dos demais que sonho?

A epiderme da vida me vestiu,
ou breve imaginar de um Ăłcio inĂștil
ergueu da sombra a minha carne, ou sou

um casulo de tempo, o centro e o sopro
da cisma do outro ser que de mim fala
e que, sonhando o mundo, em mim se acaba.

Elegia dos Amantes LĂșcidos

Na girĂąndola das ĂĄrvores (e nĂŁo hĂĄ quem as detenha)
Deixa de fora a tarde o vermelho que a tinge.
Se ao menos tu ficasses na pausa que desenha
O contorno lunar da noite que te finge!

Se ao menos eu gelasse uma corda do vento
para encontrar a forma exacta dum violino
Que fosse a sensibilidade deste pensamento
Com que a minha sombra vai pensando o meu destino

E nĂŁo houvesse o sono dum telhado
Entre ter de haver eu e haver o tecto;
E a eternidade nĂŁo estivesse ao lado
A colocar-nos nas costas as asas dum insecto

Meu amor, meu amor, teu gesto nasce
Para partir de ti e ser ao longe
A cor duma cidade que nos pasce
Como a ausĂȘncia de deus pastando um monge

Ah, se uma sĂșbita mĂŁo na hora a pique
Tangendo harpas geladas por segredos
Desprendesse uma aragem de repiques
Destes sinos parados pelo medo!

Mas sĂł porque vieste fez-se tarde,
Ou Ă© a vida que nasce jĂĄ tardia
Como uma estrela que se acende e arde
Porque nĂŁo cabe na rapidez do dia?

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Mas sĂł hĂĄ um mundo. A felicidade e o absurdo sĂŁo dois filhos da mesma terra. SĂŁo inseparĂĄveis. O erro seria dizer que a felicidade nasce forçosamente da descoberta absurda. Acontece tambĂ©m que o sentimento do absurdo nasça da felicidade. “Acho que tudo estĂĄ bem”, diz Édipo e essa frase Ă© sagrada. Ressoa no universo altivo e limitado do homem. Ensina que nem tudo estĂĄ perdido, que nem tudo foi esgotado. Expulsa deste mundo um deus que nele entrara com a insatisfação e o gosto das dores InĂșteis. Faz do destino uma questĂŁo do homem, que deve ser tratado entre homens. Toda a alegria silenciosa de SĂ­sifo aqui reside. O seu destino pertence-lhe.

É InĂștil Tudo

Chega através do dia de névoa alguma coisa do esquecimento,
Vem brandamente com a tarde a oportunidade da perda.
Adormeço sem dormir, ao relento da vida.

É inĂștil dizer-me que as açÔes tĂȘm conseqĂŒĂȘncias.
É inĂștil eu saber que as açÔes usam conseqĂŒĂȘncias.
É inĂștil tudo, Ă© inĂștil tudo, Ă© inĂștil tudo.

Através do dia de névoa não chega coisa nenhuma.

Tinha agora vontade
De ir esperar ao comboio da Europa o viajante anunciado,
De ir ao cais ver entrar o navio e ter pena de tudo.

NĂŁo vem com a tarde oportunidade nenhuma.

2000 Anos de Moral

Talvez um olhar retrospectivo nos mais de dois mil anos passados na inĂștil tentativa de encontrar um fundamento sĂłlido para a moral nos leve a pensar que nĂŁo existe nenhuma moral natural, independente dos preceitos humanos, mas que ela Ă© simplesmente um artefacto, um meio inventado para melhor dominar o egoĂ­sta e malvado gĂ©nero humano.

Pedra Tumular

A minha geração fugiu à guerra,
Por isso a paz que traz nĂŁo tem sentido:
É feita de ignorñncia e de castigo,
TĂŁo rĂ­gida e tĂŁo fria como a pedra.

Desfazem-se-lhe as mĂŁos em gestos frĂĄgeis,
Duma verdade inĂștil por vazia,
E a lĂ­ngua imĂłvel nega o som Ă  vida,
Por hĂĄbito ou por falta de coragem.

Se hĂĄ rumores lĂĄ de fora, Ă s vezes, lembra:
Porque é que pulsa o coração do mundo,
Precipitado, angustioso, ardente?

Mas depressa submerge na indiferença
– Que lhe deram um tĂșmulo seguro;
E o relĂłgio dĂĄ-lhe horas certas, sempre.

Consumismo Cego

A nossa vida Ă© influenciada em grande medida pelos jornais. A publicidade Ă© feita unicamente no interesse dos produtores e nunca dos consumidores. Por exemplo, convenceu-se o pĂșblico de que o pĂŁo branco Ă© superior ao pĂŁo escuro. A farinha, cada vez mais finamente peneirada, foi privada dos seus princĂ­pios mais Ășteis. Mas conserva-se melhor e o pĂŁo faz-se mais facilmente. Os moleiros e os padeiros ganham mais dinheiro. Os consumidores comem, sem o saber, um produto inferior. E em todos os paĂ­ses em que o pĂŁo Ă© a parte principal da alimentação, as populaçÔes degeneram. Gastam-se enormes quantias na publicidade comercial. Assim, imensos produtos alimentares e farmacĂȘuticos inĂșteis, e muitas vezes prejudiciais, tornaram-se uma necessidade para os homens civilizados. Deste modo, a avidez dos indivĂ­duos suficientemente hĂĄbeis para orientar o gosto das massas populares para os produtos Ă  venda desempenha um papel capital na nossa civilização.

Ouça um bom conselho que eu lhe dou de graça: inĂștil dormir que a dor nĂŁo passa. Espere sentado ou vocĂȘ se cansa. EstĂĄ provado, quem espera nunca alcança.

Mostrar cĂłlera e Ăłdio nas palavras ou no semblante Ă© inĂștil, perigoso, imprudente, ridĂ­culo e comum. NĂŁo devemos mostrar a nossa cĂłlera ou o nosso Ăłdio senĂŁo por meio de actos; e estes podem ser praticados tanto mais perfeitamente quanto mais perfeitamente tivermos evitado os primeiros. Os animais de sangue frio sĂŁo os Ășnicos que tĂȘm veneno.

Viver com o Coração ou com a Razão

Viver segundo a razĂŁo, alvitre que os filĂłsofos pregoam, Ă© bom de dizer-se e desejar-se, mas enquanto os filĂłsofos nĂŁo derem uma razĂŁo a cada homem, e essa razĂŁo igual Ă  de todos os homens, o apostolado Ă© de todo inĂștil. Melhor avisados andam os moralistas religiosos, subordinando a humanidade aos ditames de uma mesma fĂ©; todavia, e sem menoscabo dos preceitos evangĂ©licos que altamente venero, parece-me que o homem, sincero crente, e devotado cristĂŁo, no meio destes mouros, que vivem Ă  luz do sĂ©culo, e meneiam os negĂłcios temporais a seu sabor, tal homem, se pedir a seu bom juĂ­zo religioso a norma dos deveres a respeitar, e dos direitos a reclamar, ganha crĂ©ditos de parvo, e morre sequestrado dos prazeres da vida, se quiser poupar-se ao desgosto de ser apupado, procurando-os.

Como sabem, eu nunca andei em boas-avenças com a religiĂŁo de meus pais; e por isso me abstenho de lhe imputar a responsabilidade das minhas quedas, seja dos pinĂĄculos aĂ©reos onde o coração me alçou, seja do raso da razĂŁo, onde as quedas, bem que baixas, sĂŁo mais igminiosas. Eu comparo o cair das alturas do coração Ă  queda que se dĂĄ dum garboso cavalo: quem nos vĂȘ cair pode ser que nos deplore;

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