Febre Vermelha
Rozas de vinho! Abri o calice avinhado!
Para que em vosso seio o labio meu se atole:
Beber até cair, bebedo, para o lado!
Quero beber, beber até o ultimo gole!Rozas de sangue! Abri o vosso peito, abri-o!
Montanhas alagae! deixae-as trasbordar!
As ondas como o oceano, ou antes como um rio
Levando na corrente Ophelias de luar…Camelias! Entreabri os labios de Eleonora!
Desabrochae, á lua, a ancia dos vossos calis!
Dá-me o teu genio, dá! ó tulipa de aurora!
E dá-me o teu veneno, ó rubra digitalis…Papoilas! Descerrae essas boccas vermelhas!
Apagae-me esta sede estonteadora e cruel:
Ó favos rubros! os meus labios são abelhas,
E eu ando a construir meu cortiço de mel…Rainunculos! Corae minhas faces-de-terra!
Que seja sangue o leite e rubins as opalas!
Tal se vêm pelo campo, em seguida a uma guerra,
Tintos da mesma cor os corações e as balas!…Chagas de Christo! Abri as petalas chagadas!
N’uma raiva de cor, n’uma erupção de luz!
Escancarae a bocca, ás vermelhas rizadas,
Cancros de Lazaro! Feridas de Jezus…Flores em braza! Orgaos da cor! Tirava
Operas d’oiro, podesse eu, das vossas teclas.
Volcões de Maio! ungi minha pelle de lava!
Dae-me energia, audacia, ó pequeninos Heclas!Dae-me do vosso sangue, ó flores! entornae-o
Nas veias do meu corpo estragado e sem cor:
Que vida negra! Foi escripto, á luz do raio,
O triste fado que me deu Nosso Senhor…Scismo já farto de velar minha alma doente,
Não dura um mez siquer, minhas amigas, vede!
Mas, mal vos vejo, então, pulo alegre e contente
A uivar, como os leões quando os ataca a sede!Corto o estrellado céu, voo atravez do espaço,
Cruzo o infinito e vou rolar aos pés de Deus,
Como se accaso fosse, em catapultas de aço,
Por um Titan de bronze atirado a esses céus!Amo o vermelho. Amo-te, ó hostia do sol-posto!
Fascina-me o escarlate. Os meus tedios estanca:
E apezar d’isso, ó cruel hysteria do Gosto,
Certa flor da minh’alma é branca, branca, branca…