O Progresso Aumenta a Vida e a Morte
NĂŁo desconheço que a velhice constitui, em grande parte, um preconceito aritmĂ©tico, e que o nosso maior erro consiste em contar os anos que vivemos. Com efeito, tudo nos leva a supor que a Natureza dotou o homem (nĂŁo falo jĂĄ nas longevidades da BĂblia) de vida mĂ©dia mais longa do que aquela que as estatĂsticas demogrĂĄficas acusam, e que, se morremos antes do termo normal da existĂȘncia, Ă© porque sucumbimos, nĂŁo a «morte natural» (a «morte fisiolĂłgica», de Metchnickoff), mas a «morte violenta», que Ă© a morte por acção destrutiva dos germes patogĂ©nicos. Como quer que seja, porĂ©m, parece-me incontestĂĄvel que o homem envelhece antes do tempo e morre, em geral, quando ainda nĂŁo chegou a meio do caminho da vida.
SerĂĄ o engenho humano capaz de opĂŽr uma barreira Ă marcha inexorĂĄvel da decrepitude? Talvez. O nosso organismo Ă© uma mĂĄquina; gasta-se, como todas as mĂĄquinas; e, por milagre da Natureza, ainda Ă© aquela que, funcionando permanentemente, consegue durar mais tempo. Contentemo-nos com a ideia de que o homem de hoje vive mais do que vivia na Antiguidade clĂĄssica e na Ă©poca medieval, mercĂȘ do progresso das tĂ©cnicas, do conforto moderno da existĂȘncia, da observação dos preceitos que a higiene, a ortobiose e a prĂłpria gerontologia (que quer ser uma ciĂȘncia) prudentemente lhe aconselham. Vive, e viverĂĄ – bem entendido, se o deixarem. No regime, em que nos encontramos, de sucessivas guerras totais, se Ă© certo que aumentam, em progressĂŁo aritmĂ©tica, os recursos da ciĂȘncia para prolongar a vida, – cresce, em progrssĂŁo geomĂ©trica, o esforço da humanidade para apressar a morte.