Se Queres Ser Feliz Abdica da InteligĂȘncia
Os tolos sĂŁo felizes; eu se fosse casado eliminava os tolos da minha casa. Cada cidadĂŁo, que me fosse apresentado, nĂŁo poderia sĂȘ-lo, sem exibir o diploma de sĂłcio da academia real das ciĂȘncias. Olha, criança, decora estas duas verdades que o Balzac nĂŁo menciona na «Fisiologia do Casamento». Um erudito, ao pĂ© da tua mulher, fala-lhe na civilização grega, na decadĂȘncia do impĂ©rio romano, em economia politica, em direito publico, e atĂ© em quĂmica aplicada ao extracto do espĂrito de rosas. Confessa que tudo isto o maior mal que pode fazer Ă tua mulher Ă© adormecĂȘ-la. O tolo nĂŁo Ă© assim. Como ignora e desdenha a ciĂȘncia, dispara Ă queima roupa na tua pobre mulher quantos galanteios importou de Paris, que sĂŁo originais em Portugal, porque sĂŁo ditos num idioma que nĂŁo Ă© francĂȘs nem portuguĂȘs.
Tua mulher, se tem a infelicidade de nĂŁo ter em ti um marido doce e meigo, começa a comparar-te com o tolo, que a lisonjeia, e acha que o tolo tem muito juĂzo. Concedido juĂzo ao tolo, concede-se-lhe razĂŁo; concedida a razĂŁo, concede-se-lhe tudo. Ora aĂ tens porque eu antes queria ao pĂ© de minha mulher o padre JosĂ© Agostinho de Macedo, em cuecas, do que o barĂŁo de SĂĄ coberto com a capa daquele grande piegas JosĂ© do Egipto.
Ris-te?… Se queres ser feliz abdica da inteligĂȘncia, convence-te, e convence os outras de que Ă©s um pĂĄria do senso commum, entra nesses camarotes, e diz que a letra do «Barbeiro de Sevilha» Ă© de Voltaire, e a composição do maestro Spinosa; vira-te para a vĂtima predestinada, e diz-lhe que a mĂșsica Ă© a voz mĂstica dos anjos confidentes das paixĂ”es delirantes, que dos olhos dela deviam partir as inspiraçÔes que arrebataram Raphael d’Urbino, que farĂĄs autor da «Norma». Se ouvires uma gargalhada insofrida, deixa-os rir; continua; faz-te vĂtima interessante, acolhe-te Ă piedade da dama, e fala-me depois…