Citação de

A Origem do Medo

A condição psicológica do medo está divorciada de qualquer perigo concreto e real. Surge sob diversas formas: desconforto, preocupação, ansiedade, nervosismo, tensão, temor, fobia, etc. Este tipo de medo psicológico é sempre algo que poderá acontecer e não algo que esteja a acontecer no momento. O leitor está aqui e agora, enquanto a sua mente se encontra no futuro. Este facto gera um hiato de ansiedade. Além disso, se o leitor se identificar com a sua mente e tiver perdido o contacto com o poder e a simplicidade do Agora, esse hiato de ansiedade acompanhá-lo-á constantemente.

A pessoa pode sempre lidar com o momento presente, mas não o consegue fazer com algo que é apenas uma projeção mental – não é possível lidar com o futuro.
E enquanto o leitor se identifica com a sua mente, o ego comanda a sua vida. Devido à natureza ilusória que lhe é característica e apesar dos mecanismos de defesa elaborados, o ego torna-se muito vulnerável e inseguro, vendo-se a si próprio constantemente sob ameaça. Este facto, a propósito, é o que acontece, mesmo que por fora o ego pareça muito confiante. Agora lembre-se de que uma emoção é a reação do corpo à mente. Que mensagem está o corpo a receber constantemente do ego, o eu falso e engendrado pela mente? Perigo, estou a ser ameaçado. E que emoção gera esta mensagem contínua? Medo, naturalmente.

O medo parece ter muitas causas. Há o medo de perder, o medo de falhar, o medo de ser magoado, etc., mas, no fim de contas, todo o medo é aquele que o ego tem da morte, da aniquilação. Para o ego, a morte está sempre ao virar da esquina. Neste estado de identificação com a mente, o medo da morte afeta cada aspecto da vida.

Mesmo algo aparentemente trivial e «normal» como, por exemplo, a necessidade compulsiva de ter razão numa discussão e fazer com que a outra pessoa esteja errada (defender a posição mental, com a qual a pessoa se identificou) se deve ao medo da morte. Se o leitor se identificar com uma posição mental, se estiver errado o seu sentido de eu com base na mente, está seriamente ameaçado de aniquilação. Assim, o leitor, enquanto ego, não se pode dar ao luxo de estar errado. Estar errado é morrer. Já houve guerras travadas e inúmeros relacionamentos se desfizeram por causa desta situação.

Mal o leitor tenha deixado de se identificar com a mente, estar certo ou errado não faz diferença nenhuma para o sentido de eu, por isso a necessidade vigorosamente compulsiva e profundamente inconsciente, que é uma forma de violência, deixará de existir. O leitor pode declarar com clareza e segurança o que sente e pensa, mas não haverá agressividade ou posicionamento defensivo por causa do assunto. O seu sentido de eu deriva, assim, de um lugar mais profundo e verdadeiro dentro de si e não da mente.