O Amor nĂŁo se Promete
HĂĄ uma distĂąncia fundamental entre as palavras e os gestos de cada homem. As palavras prometem mundos, os gestos constroem-nos. As palavras esclarecem pouco, os gestos definem quase tudo.
O amor Ă© um projeto, uma construção que necessita de ser realizada a cada dia. Sem grandes discursos. Qualquer hora Ă© tempo de amar. Se o amor Ă© verdadeiro, nĂŁo hĂĄ tempos de descanso, porque o silĂȘncio no coração dos que buscam lutar contra as trevas dos egoĂsmos Ă© a paz mais profunda e o maior descanso… ainda que se cravem espinhos na carne, ainda que nĂŁo sarem as feridas antigas, ainda que a esperança tenha pouco mais onde se apoiar do que nela prĂłpria.
Cada um de nĂłs Ă© aquilo que for capaz de ir construindo de firme e duradouro a cada dia por entre todas as tempestades da vida.
HĂĄ muito quem sonhe e passe o tempo a desejar o que nĂŁo Ă©… esperam e desesperam por algo que lhes hĂĄ de chegar de fora… rejeitando quase tudo quanto sĂŁo, quando, na verdade, Ă© com o que temos e somos que devemos ser felizes, por pouco e por pior que seja… somos nĂłs. Mas nĂłs nĂŁo somos quem somos sĂł para nĂłs mesmos. Eu sou quem sou, mas sĂł o serei se for capaz de me encontrar com os outros. Ser humano Ă© ser relacional. Ser Ă© sempre ser com o outro. NinguĂ©m se vĂȘ sĂł a si quando se olha por um espelho. Ser Ă© amar. Dar-se… sem grandes sonhos ou promessas, com pequenos gestos, na heroica coragem de acreditar que nĂŁo sĂŁo nem as palavras nem os desejos que nos devolvem ao cĂ©u.Encarcerados nunca seremos autĂȘnticos, devemos pois libertar-nos de tudo quanto nos pesa, de forma especial das coisas materiais, romper com as teias dos sonhos que nos inebriam e incapacitam de sair de nĂłs mesmos para o mundo, de criar mundo… sem esperar nada, a nĂŁo ser conseguirmos chegar ao melhor de nĂłs mesmos…
Este desprendimento nĂŁo serĂĄ prudente aos olhos do mundo, mas Ă© essencial confiar e seguir adiante, atĂ© porque as coisas e as pessoas sĂŁo o que sĂŁo, independentemente da forma como os olhos do mundo as veem, sentem ou pensam…
Aos sonhos falta existirem de facto, realizarem-se, ou melhor, serem realizados por alguĂ©m. A existĂȘncia Ă© um dos mais belos e decisivos atributos para que algo se faça determinante da nossa felicidade. Por isso a realidade mais pobre Ă©, ainda assim, mais bela que o sonho mais magnĂfico…
Quase todos os egoĂsmos tĂȘm nome de amor. Conscientes do que sĂŁo, escondem-se. Normalmente juntam-se aos pares… fazem pouco, falam muito, prometem tudo…. entrelaçam as suas necessidades de ter mais, de estar melhor, sem cuidarem que cada homem Ă© muito mais do que aquilo que tem ou do que forma como estĂĄ… nĂłs, humanos, nĂŁo somos deste mundo… somos do lugar de onde chegĂĄmos quando nascemos e do lugar para onde havemos de ir depois da morte… um mundo de onde este faz parte, mas muito maior, muito melhor… muito mais profundo.
Ă pois importante procurar a vontade do outro, e encontrarmo-nos nela, sermos o melhor que ele pode receber e merecer…
Amar Ă© arriscar tudo, sem garantia alguma. Apenas com a fĂ© de que, no amor, nos cumprimos… Amar Ă© desprender-se e perder-se… abrir-se e abandonar-se Ă vontade de ser feliz.
SĂł o amor permite que se cumpra a mais essencial de todas as promessas da existĂȘncia: Uma vida com valor e verdade.
Quem ama nĂŁo promete… dĂĄ.